Brasil liderou desmatamento de florestas tropicais em 2022

Promessa do presidente Lula de combater o desmatamento ilegal até 2030 chamou a atenção da comunidade internacional. Mas meta pode trazer uma transformação real? Enquanto em 2015 o desmatamento no Brasil respondeu por pouco mais de um quarto da devastação de florestas tropicais primárias no mundo, essa parcela saltou para 43% em 2022, segundo relatório da plataforma Global Forest Watch (GFW) divulgado nesta terça-feira (27/06). 
Quase 2 milhões de hectares de Floresta Amazônica foram perdidos somente no ano passado, fazendo com que o Brasil fosse de longe o país com maior taxa de perda de florestas tropicais primárias, seguido pela República Democrática do Congo e a Bolívia.
Foi a maior perda de árvores não relacionada a incêndios no Brasil desde 2005, aponta o levantamento da GFW, uma iniciativa da ONG World Resources Institute (WRI).
Após quatro anos de desmonte na proteção ambiental sob o ex-presidente Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o poder com a promessa de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030. Uma meta ambiciosa, comenta o pesquisador brasileiro Paulo Massoca, pós-doutorando na Universidade de Indiana Bloomington, onde estuda interações entre o homem e a natureza. "As pessoas estão desmatando para especular e ganhar dinheiro e, infelizmente, ainda hoje não valorizamos os recursos da floresta", afirma à DW.
Problema global
O desmatamento de florestas tropicais primárias aumentou 10% no mundo em 2022 em relação ao ano anterior, totalizando 4,1 milhões de hectares. Isso equivale a 11 campos de futebol por minuto, segundo o relatório da GFW. E a destruição está tendo um impacto devastador sobre o clima.
Florestas absorvem cerca do dobro de dióxido de carbono (CO2) do que emitem a cada ano. O relatório da GFW dedica-se especialmente a florestas tropicais pelo fato de elas serem as mais ameaçadas mundo afora, além de essenciais para alcançar metas climáticas por absorverem mais CO2 da atmosfera do que outros tipos de matas.
Ao serem destruídas, as florestas primárias liberam muito do CO2 que capturaram de volta para a atmosfera. A perda florestal nos trópicos emitiu 2,7 gigatoneladas de dióxido de carbono somente em 2022, o equivalente às emissões provenientes de combustíveis fósseis geradas pelo país mais populoso do mundo, a Índia, diz o relatório da GFW.
"Desde a virada do século, estamos vendo uma hemorragia dos mais importantes ecossistemas florestais do mundo, apesar de anos de esforços para reverter essa tendência", afirma Mikaela Weisse, diretora da Global Forest Watch.
"Os dados deste ano mostram que estamos perdendo rapidamente uma das nossas ferramentas mais eficazes para combater as mudanças climáticas, proteger a biodiversidade, a saúde e os meios de subsistência de milhões de pessoas", acrescenta.
Legado do governo Bolsonaro
A situação é particularmente grave no Brasil. A perda de floresta tropical primária aumentou 15% no país entre 2021 e 2022, o que significa um armazenamento menor de CO2. Uma destruição continuada pode levar a um ponto de não retorno, a partir do qual a maioria do ecossistema amazônico se transformaria numa savana, alerta o relatório da GFW.
Mas essa é uma tendência que, segundo especialistas, pode ser revertida no mandato do presidente Lula.
Nos primeiros cinco meses de 2023, o desmatamento na Amazônia caiu 31% em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Louise Osborne/Caminho Político
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