"Esses países podem se tornar o calcanhar de Aquiles que arriscam nos fazer perder, como humanidade, a guerra contra o vírus", escreve o ativista italiano Francesco Gesualdi, coordenador do Centro Nuovo Modello di Sviluppo, de Vecchiano, na Itália, e um dos fundadores, junto com o Pe. Alex Zanotelli, da Rede Lilliput, em artigo publicado por Avvenire e Caminho Político. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O mundo pode fazer isso encontrando 7 bilhões de dólares.
Até poucos dias atrás contávamos apenas os contágios, agora que temos uma vacina contamos também os vacinados. Na verdade, existem cerca de dez vacinas em operação no mundo até agora, das quais quatro são chinesas e duas são russas.
No Ocidente existem três vacinas que receberam a aprovação das autoridades sanitárias: a da Pfizer-BioNTech nos EUA e na União Europeia, a da Moderna nos EUA e provavelmente a partir de hoje na UE, a da Astrazeneca na Grã-Bretanha. Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde informa que em várias partes do mundo, incluindo Índia e Brasil, dezenas de outras pesquisas e experimentos estão em andamento com boas chances de chegar a termo.
Quanto à União Europeia, que já havia celebrado contratos de fornecimento com Astrazeneca e Sanofi-Gsk, agora assinou mais quatro contratos com a Johnson & Johnson, Moderna, Cure-Vac e Pfizer-BioNTech. E não apenas esta última recebeu a aprovação da Autoridade Europeia de Medicamentos, a Comissão Europeia quis que a campanha de vacinação começasse no mesmo dia em todos os países membros: o fatídico 27 de dezembro de 2020 que ficou na história como o dia V.
A crescente disponibilidade de vacinas permite-nos olhar para a frente com confiança, mas após o início concreto e complicado das vacinações, poucos acreditam que a batalha esteja vencida. Agora que temos vacinas, o desafio é vacinar globalmente, porque a pandemia é global. E como já comentado nestas páginas, é um desafio técnico, logístico e financeiro.
Técnico porque existem várias tipologias de vacinas baseadas em diferentes mecanismos de ação: desde a via clássica que usa o vírus inativado até as mais modernas que usam fragmentos de proteínas tratadas para provocar uma resposta imune. E se tivermos que esperar por futuras investigações epidemiológicas para entender qual vacina terá se mostrado mais eficaz, a partir de agora podemos dizer que a técnica condiciona a logística.
Vacinas como as da Pfizer e Moderna, baseadas em técnicas de engenharia proteica, precisam ser armazenadas em temperaturas muito baixas, até 70 graus abaixo de zero. Isso cria, como continuamos a enfatizar, muitos problemas em termos de transporte e armazenamento. Problemáticas que podem ser resolvidas com bastante facilidade em países como os europeus, ricos em infraestruturas rodoviárias e elétricas, com uma frota adequada de caminhões equipados para o transporte a baixas temperaturas, mas que podem representar obstáculos intransponíveis para os países do Sul do mundo pobres em termos viários, transportes e eletricidade. Para esses países, o tipo de vacina desenvolvido pela Astrazeneca é sem dúvida mais vantajoso, pois pode ser armazenada em temperatura de geladeira, entre dois e oito graus centígrados. Mas os aspectos logísticos são apenas parte do problema a ser superado para uma vacinação em massa. O outro é aquele financeiro.
O custo das vacinas é uma informação ainda não divulgada, mas estima-se que a União Europeia tenha orçado 2,5 mil milhões de euros para garantir 1,5 bilhão de doses, consideradas suficientes para vacinar toda a população da União. Um custo sustentável para nós, mas proibitivo para países de renda baixa e média per capita, como os da África e muitos países asiáticos e latino-americanos. Esses países podem se tornar o calcanhar de Aquiles que arriscam nos fazer perder, como humanidade, a guerra contra o vírus.
Por isso, a OMS, por meio de seu parceiro público-privado Gavi Alliance (por muito tempo conhecido como Aliança Mundial para Vacinas e Imunizações), criou o Covax, um projeto com dois objetivos principais: apoiar a pesquisa das empresas farmacêuticas disponíveis para fornecer a vacina a preços reduzidos e instituir um fundo para permitir que até mesmo os países mais pobres possam comprar doses suficientes de vacina para cobrir pelo menos a faixa mais exposta da população.
Até o momento, 190 estados aderiram ao Covax, dos quais 92 solicitando assistência. O Covax arrecadou US $ 2,4 bilhões para eles, dos quais US $ 500 milhões alocados pela União Europeia, que serão usados na compra de dois bilhões de doses a serem entregues de acordo com um critério de necessidade e urgência.
Mas o Covax informa que, para atingir seus objetivos, precisa arrecadar mais 7 bilhões de dólares para 2021, dos quais um para pesquisa e desenvolvimento, 4,5 para a compra de doses a serem disponibilizadas aos países mais pobres e 1,5 para transporte de vacina e custos de logística.
Disso resulta o apelo do Papa Francisco lançado na sua mensagem de Natal: “Peço a todos, chefes de Estado, empresas, organismos internacionais, que promovam a cooperação e não a concorrência e procurem uma solução para todos: vacinas para todos, especialmente para os mais vulneráveis e necessitados de todas as regiões do planeta. Em primeiro lugar, os mais vulneráveis e necessitados!" E ainda “Diante de um desafio que não conhece fronteiras, não podem ser erguidas barreiras. Nós estamos todos no mesmo barco". Artigo publicado por Avvenire e Caminho Político. A tradução é de Luisa Rabolini. @CaminhoPolitico
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