A repressão aos protestos contra a reeleição de Lukashenko está levando cada vez mais membros das forças de segurança a entregar seus distintivos: "É uma guerra contra pessoas desarmadas". Em 18 de agosto, Alexander Lukashenko assinou um decreto em que condecorou mais de 300 membros das forças de segurança bielorussos "por um serviço impecável". O Ministério do Interior diz que a premiação nada tem a ver com a repressão aos protestos contra o presidente, eleito em 9 de agosto com contestáveis 80% dos votos.
Ao mesmo tempo, cada vez mais policiais estão se demitindo de seus postos e deliberadamente divulgando sua identidade na internet, num ato de solidariedade aos manifestantes e contra a repressão policial. Eles também enviam mensagens de vídeo para os colegas, questionando por que eles estão defendendo o governo e o que eles têm a temer.
"Não quero bater em manifestantes"
O capitão de polícia Yegor Yemelyanov, de Novopolotsk, 240 quilômetros ao sul de Minsk, se demitiu após 17 anos de serviço. Ele diz que queria fazer isso antes das eleições, mas recebeu ordens para cumprir seu contrato até o final. Caso contrário, teria que reembolsar 2.500 dólares à corporação, valor oferecido para membros das forças de segurança para que assinem contratos de longo prazo.
"Tenho uma família e empréstimos abertos, inclusive para pagar meu apartamento. Foi uma decisão difícil", conta. "Mas depois dos eventos de 9 e 10 de agosto, eu não tive mais dúvidas. Percebi que eu não podia mais servir à polícia. Esta é uma verdadeira guerra contra pessoas desarmadas.”
Ele enfatiza que não dispersaria as pessoas nas praças, muito menos as espancaria, mesmo que mandassem fazê-lo: "Fui avisado de que não me despediriam de forma amigável. Assim, entreguei minha carteira de identificação e disse que não voltaria ao trabalho”. Yegor diz que nunca se envolveu na resolução de protestos pacíficos. Mesmo agora, segundo ele, a polícia local de Novopolotsk não tem usado violência ou armas para prender pessoas: são as forças de segurança de fora, deslocadas para a cidade, que o fazem.
Depois de Yegor, mais cinco de seus colegas se demitiram. "Ouvi dizer que a liderança alega que eu deixei a 'Europa' me comprar, que esta é apenas uma jogada de marketing da minha parte para ganhar dinheiro. Tenho medo tanto por mim quanto por minha família. Se o governo atual continuar no poder, terei problemas", afirma Yegor.
"Eu vi como as pessoas deixaram a prisão”
O tenente-coronel Alexander também tomou a mesma decisão: "Quando vi as fotos de pessoas sendo espancadas pelas forças de segurança, ficou claro para mim que eu não poderia mais servir a este sistema".
Até recentemente, Alexander estava treinando os futuros funcionários do Ministério do Interior. Em 9 de agosto, ele vigiou um posto de votação em Minsk. De acordo com ele, as pessoas foram às eleições como se fosse uma festa. Mas seus votos provavelmente não foram contados: "Não posso dizer que vi fraudes, mas os mesários estavam com medo de sair, não queriam dizer nada e apenas choravam”.
Após as eleições e os violentos acontecimentos que se seguiram, Alexander finalmente decidiu renunciar. "Eu vi a condição de pessoas saindo do centro de detenção de Minsk. Não ensinamos isso a nossos alunos. Não foi para isso que servimos".
Alexander admite que, em 2010, ele esteve envolvido na dissolução dos protestos após as eleições presidenciais de então, mas não em prisões e espancamentos. Ele diz não conseguir explicar a brutalidade atual das forças de segurança.
Alexander, que agora está desempregado, afirma que algumas pessoas pensam que ele foi pago por sua demissão para obter ganhos pessoais. Mas ele também recebe apoio: "Somos um só povo, não devemos lutar uns contra os outros, muito menos bater uns nos outros".
"Fizemos nosso juramento ao povo".
"Os agentes de investigação não saem ou perseguem pessoas. Mas todo funcionário faz seu juramento ao povo", diz Vladimir, oficial da Comissão Nacional de Investigação, que pediu para ter seu nome alterado pela reportagem.
Em sua cidade, as manifestações foram violentamente interrompidas após as eleições de 9 de agosto. "Há um vídeo no qual um homem ajoelhado é preso e espancado com um cassetete. Eu falei com um policial que estava envolvido. Me impressionou como ele falava sobre isso", disse Vladimir.
Após as manifestações, ele mesmo sugeriu a seus colegas e à liderança da autoridade local de investigação que realizassem uma reunião e conversassem sobre as ações das forças de segurança durante os protestos pacíficos.
Sua proposta foi rejeitada. Ele então escreveu um relatório. Nele, pediu uma avaliação das ações das autoridades de segurança e busca de provas de fraude eleitoral. "Não sabemos se foram instaurados processos criminais contra oficiais de segurança. Não excluo a possibilidade de que tenha havido alguma provocação por parte dos manifestantes - há um vídeo, mas as ações das autoridades devem ser avaliadas de acordo com a lei", enfatizou Vladimir.
"Não creio que nenhum dos meus colegas estivesse disposto a se juntar a mim naquela época. Eu não sei qual é a situação agora. Mas fatores como o contrato de trabalho e uma possível aposentadoria antecipada podem tê-los desencorajado", explica ele.
Vladimir foi liberado do serviço. Ele está agora passando por uma investigação interna. Se a situação no país não mudar, provavelmente será demitido após 17 anos de serviço por "desacreditar" a autoridade investigadora. "Tenho naturalmente medo por mim e por minha família", diz ele. Se a crise atual se virar a favor de Lukashenko, ele e outros funcionários esperam mais repressão.
Tatyana Nevedomskaya/Caminho Político
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