
Também em Milão, a segunda maior cidade e centro econômico do país, muitas pessoas preocupadas estão atendendo ao chamado do governo para, se possível, ficar em casa. O centro da cidade está muito mais vazio do que o normal. O metrô e os ônibus levam poucos passageiros. Há vagas nos estacionamentos – uma raridade. Na praça em frente à Catedral de Milão, que continua fechada para turistas, estima-se que haja mais pombos do que visitantes.
Para poder falar melhor, Sergio puxa a máscara para cima, afirmando que ela também coça. Um pouco preocupado com o coronavírus, ele diz ter ouvido falar que a máscara oferece proteção.Aumento exponencial de casos
Sergio disse estar surpreso principalmente com a rapidez com que o número de infecções pelo novo coronavírus aumentou. Nesta quarta-feira (26/02), já eram 400 em todo o país, 100 a mais do que no dia anterior.
O chefe da Defesa Civil italiana, Angelo Borrelli, afirmou em entrevista coletiva que, dados os números, não se pode realmente falar de uma epidemia. Ele advertiu contra a disseminação de pânico, mas recomendou cautela.
Segundo Borrelli, as cifras relativamente altas também se devem a melhores métodos de teste. As autoridades estariam com a situação sob controle, prometeu Borrelli na TV.
Briga entre norte e sul
Nesse meio-tempo, soube-se do primeiro caso de Covid-19 no sul da Itália. Em Palermo, foi identificado um paciente que havia viajado da Lombardia para a Sicília. Os governos regionais do sul criticam essa disseminação do vírus e exigem restrições de viagem para os italianos do norte.
A região sul de Basilicata, por exemplo, pretende colocar em quarentena todos os estudantes do norte da Itália que estudam ali. A ilha de Ischia vetou temporariamente o acesso para turistas da Lombardia e do Vêneto, regiões onde foi registrada a maior parte das infecções por coronavírus.
Muitas administrações regionais acusam o governo central do primeiro-ministro Giuseppe Conte de fazer muito pouco e causar caos. Conte rebateu as acusações e alertou para uma divisão no país entre o norte contaminado e o sul limpo.
Até agora, o primeiro-ministro também se recusou a fechar as fronteiras para França ou Áustria, algo que os populistas de direita haviam pedido.
Ameaça de recessão?
As estimativas iniciais sugerem que o rendimento econômico pode diminuir de 0,5% a 1% nos primeiros quatro meses do ano. A Itália pode entrar em recessão e ter que contrair mais dívidas.
A associação hoteleira do Vêneto já está advertindo que muitos viajantes da Ásia deverão cancelar suas reservas. Mas muitos outros países emitiram advertências de viagem para o norte da Itália. "Isso é um desastre, especialmente para Veneza. Primeiro a enchente em dezembro e agora o coronavírus", disse um porta-voz da associação de hotéis.
"Nós não temos medo"
Essas más notícias irritam a italiana Annalisa e seu parceiro Rino. Eles vieram à Catedral de Milão para dar uma olhada na praça raramente vazia de sua cidade natal. "É tudo tão desnecessário!", reclama a milanesa. "Não temos medo. Covid-19 não é pior que a gripe normal. E milhares morrem dela", diz a professora, que está de licença até a próxima semana devido ao fechamento de sua escola.
Rino, um ex-policial, sorri e diz à reportagem da DW: "Isso é puro alarmismo, especialmente por parte do governo e da mídia, incluindo vocês." Se isso continuar, a economia sofrerá muito, suspeita Annalisa, que junto a seu parceiro faz desafiadoramente o "sinal de vitória".
A professora acha muito estranho ver algumas pessoas usando máscara de proteção na praça. "Há talvez dez pacientes com Covid-19 em toda Milão. Como vou encontrá-los aqui na praça?", indaga. "Nós não vamos deixar isso nos abalar!"
Bernd Riegert (de Milão)Caminho Político
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