Extrair o sorriso de uma criança em tratamento ou de um idoso em momentos de solidão pode até parecer difícil, mas com jeitinho fica muito mais fácil. Com o objetivo de levar alegria e impulsionar outras pessoas a buscarem o melhor de si, o soldado da Polícia Militar de Mato Grosso, usa, há 14 anos, seu tempo de folga para dar vida ao palhaço Tapioca. Assim, o que era uma brincadeira para o menino Luiz Carlos Menegatti, hoje é orgulho de um trabalho social desenvolvido por ele que até virou tema de monografia. Nascido em Salto do Lontra (PR), Menegatti não teve uma vida fácil, mas nem por isso perdeu o sonho de ser militar, que aos poucos se materializa. Aos cinco anos perdeu o pai e aos 16 anos veio para Mato Grosso, em Nova Mutum, com a mãe e o irmão para visitar os outros irmãos por parte de pai e acabou ficando. Os momentos de dificuldade foram vistos como uma oportunidade e ele passou a usar a atividade do palhaço para ajudar nas despesas da casa. “Meu primeiro contato com o palhaço foi em um circo ainda no Paraná, eu era garoto. Lembro que tinha um dia que era de graça, e eu e dois coleguinhas aproveitamos para ir e acabei me identificando com o palhaço. Aos 12 anos fiz minha primeira apresentação numa programação da escola. Não tinha nem os materiais básicos para a produção, usava pasta de dentre e batom para a caracterização, uma meia rasgada com camisa de time de futebol como roupa para diferenciar dos espectadores”, revelou Menegatti.
Depois disso, uma professora lhe convidou para se apresentar em festinhas de aniversário da filha e a partir daí passou a ganhar algum dinheiro para ajudar em casa.
“Estar na pele do palhaço Tapioca é uma forma de retribuir o amor e carinho que recebo das pessoas. É uma forma de demonstrar minha gratidão a Deus, as pessoas, a vida. Quando estou com as crianças ou os idosos, como as do Hospital do Câncer e do Abrigo dos Idosos, que são lugares que vou constantemente, também sinto uma gratidão por parte deles, por meio do amor, um sentimento real, sem pretensões, espontâneo. Amo fazer esse trabalho, aliás não é trabalho, é um prazer”, relata o militar.Segundo Tapioca, cada dia é de muita emoção e não há o que pague o sorriso na face de uma criança que passa por tratamentos de quimioterapia.
Nesses anos de aprendizado o soldado, que sonha ser integrante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), diz ter mudado enquanto pessoa vendo a necessidade do outro e deseja que a sociedade aja de modo semelhante. “Quando a gente se coloca na situação do outro compreende melhor as atitudes a serem tomadas”, explicou ele, sugerindo que todos deveriam conhecer melhor três lugares para valorizar o que possuem: “hospital, para ver como a saúde é importante; a cadeia, para enxergar como a liberdade é primordial e o cemitério, para entender que o chão que se pisa será o teto de amanhã”.
“Faça o bem hoje, agora. Já perdi muitos dos que visitei, mas tive a oportunidade de levar alegria”, refletiu ele em tom de saudade.
Luiz Carlos Menegatti participa voluntariamente nas horas de folga em atrações nos hospitais e festividades sociais, especialmente fins de semana e feriados. São inúmeras delas no seu currículo. “Sem deixar de lado ou comprometer o meu trabalho como policial militar. Pelo contrário, tem me ajudado a crescer como pessoa e profissional”, destacou ele.Cleuza Pereira da Silva é coordenadora dos voluntários do Hospital de Câncer, em Cuiabá, e afirma que o trabalho das pessoas que se dispõem a ajudar o próximo voluntariamente repercute em trazer harmonia, amor e afeto, mas que o trabalho voluntário do palhaço Tapioca é uma harmonia diferenciada no meio de crianças e adultos. “Luiz Menegatti é uma pessoa maravilhosa, já participou diversas vezes com a gente. Sempre que ele tem tempo disponível vai ao hospital, se doa, não só como palhaço, mas mesmo como cerimonialista também tem contribuído”, frisou ela.
Além dele existem outros militares que desenvolvem atividades sociais, também doando o tempo livre nos diversos projetos como na Rotam Mirim, Judô Bope, Jiu-jitsu, Só Alegria, e na banda musical.Monografia
“Pelo contraste entre ser policial e palhaço. De um lado a seriedade do militar e de outro a espontaneidade e modo extrovertido do palhaço. Eu não imaginava que um colega de farda realizava um trabalho como este. E, considerando que muitas pessoas tem receio do policial, outras protagonizam com o palhaço. Além disso, ele divide o tempo dele em levar alegria especialmente para crianças em tratamento. É uma forma de valorizar o profissional militar muitas vezes tão discriminado”, justificou Douglas, ao falar sobre a escolha do projeto para conclusão do curso.
“Me chamou muito a atenção em uma dessas oportunidades, quando chegávamos ao hospital do câncer e uma mãe veio ao encontro do Menegatti que já estava vestido de palhaço. Ela pedia para que ele fosse ver o filho dela, uma criança, que se recusava a continuar o tratamento, não queria mais tomar a medicação, nem comer. A criança reagiu depois da visita do palhaço e a mãe atribuiu a recuperação ao Menegatti, que transformado em palhaço Tapioca, soube falar com o menino e explicar que para ser alguém na vida e recuperar a saúde ele teria que fazer tudo direitinho”, revelou o formando.
Eliana Bess | PMMT
foto: CCSMI/SD PM Elias
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