"Documentário conta a vida de Zuza Homem de Mello em ritmo de jazz"

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas sentadas e listrasEscritor, radialista, produtor, musicólogo, historiador, pesquisador, membro da Academia Paulista de Letras... a vida de Zuza Homem de Mello é o fio condutor da história do jazz no documentário "Zuza Homem de Jazz", dirigido por Janaina Dalri. Produzido com apoio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), o filme será apresentado na Première Brasil Retratos do Festival do Rio, que começa nesta quinta-feira (1º) e termina no dia 11. Ao narrar a biografia de Zuza, o documentário constrói um painel evolutivo do jazz e sua ligação e influência na música popular brasileira.
A ideia original do projeto partiu da mulher do jornalista, a produtora cultural Ercília Lobo. A Cine Group cuidou da produção e Janaina foi escolhida para dirigi-lo. Depois do sentimento inicial de intimidação, a diretora confessa que a experiência valeu como um curso universitário. "O universo e a vida de Zuza são tão ricos, tão diversos, que poderia falar um dia inteiro sobre motivações para contar a história dele", disse ao Portal IMPRENSA.
Percorrendo seis décadas da carreira e 85 anos da vida de Zuza, o documentário foi gravado no Brasil e no exterior e é uma aula rica em histórias saborosas e personagens interessantes. "Estabelecemos um recorte em que o filme contaria a história dele através do jazz e da música brasileira", explicou Janaina.
Ex-aluno da renomada Juilliard School, em Nova York, Zuza sempre soube falar a linguagem dos grandes nomes da música mundial. O que não o impediu de também se sentir intimidado em alguns momentos. No primeiro encontro com Ray Charles, por exemplo, ficou longos minutos apenas sentado ao lado do músico e compositor sem conseguir falar.
Selecionada pela curadoria do canal Curta!, "Zuza Homem de Jazz" terá estreia exclusiva na televisão pelo próprio canal, que ajudou a viabilizar outros quatro documentários também participantes do Festival Rio: "Angel Vianna - Voando Com os Pés no Chão", de Cristina Leal; "Clementina", de Marco Abujamra; "Marcia Haydée", de Daniela Kallmann; e "Excelentíssimos", de Douglas Duarte.
Leia a seguir a entrevista de Janaina ao Portal IMPRENSA sobre o documentário.
Como foi trabalhar com Zuza?
O Zuza é uma autoridade de crítica musical. O conhecimento que tem e a maneira como transmite esse conhecimento é algo muito especial. Então, eu diria que no começo foi um desafio, até um pouco intimidador, mas só no começo. O convívio com o Zuza durante o projeto foi de um aprendizado absurdo, um processo de imersão em assuntos variados, entre pontos históricos. No documentário, ele comenta que assistir ao (Thelonious) Monk e (John) Coltrane tocando no Five Spot Café foi como ir à Universidade do Jazz. Realizar esse documentário e conviver com o Zuza foi como uma universidade para mim.
Como foi o processo de produção do documentário em relação ao acesso às fontes e personagens?
A seleção dos personagens foi feita pelo Zuza. Nosso desafio inicial era estabelecer um recorte. São seis décadas de carreira, oitenta e cinco anos de história. Assim, estabelecemos um recorte em que o filme contaria a história dele através do jazz e da música brasileira. Os personagens, artistas que participaram do documentário, têm uma relação com ele que vai além do universo musical. São pessoas que cruzaram a vida dele e fazem parte de seu universo. As gravações foram feitas com o intuito de registrar essa relação e conversa, de diálogo e troca, entre Zuza e os personagens.
Há quanto tempo você tinha esse projeto e qual a importância do apoio do canal Curta! em sua viabilização?
Eu entrei nesse projeto em meados de 2015. Realizamos as gravações em dois momentos diferentes, março de 2017 e maio de 2018. Estávamos buscando recursos para poder terminar, por isso a importância do Canal Curta!. Fazer cinema é um esforço coletivo de diversas partes, diversas frentes. A janela de exibição é fundamental para o que filme atinja mais espectadores. Para que não só esse filme, mas outros também sejam exibidos e nossas histórias sejam contadas.
Você poderia destacar alguma história ou curiosidade que tenha descoberto durante a produção do documentário?
A cada dia era uma história nova ou curiosidade descoberta. Uma delas envolve o encontro de Zuza com Ray Charles, sobre como ficou intimidado com a presença do cantor e ficou sentado ao seu lado por 20 minutos sem conseguir falar nada, só presenciando a energia emanada por Charles. Quando gravamos da casa do (compositor, cantor e pianista de jazz) Bob Dorough (morto este ano), em Nova York, os vizinhos estranharam a movimentação da equipe de filmagem e chamaram a polícia. Quando os policiais descobriram que era um documentário, foram embora.
Quais os projetos para o documentário após a exibição no Festival do Rio? Será exibido em circuito comercial?
A intenção é que o filme percorra o circuito de Festivais, nacionais e internacionais e a expectativa é que atinja o maior número de espectadores.
Marta Teixeira/Caminho Político

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