Desde 1996 o alho importado da China, maior produtor mundial com 80% do total, é taxado no Brasil após a identificação da prática de venda por preço abaixo do custo para afastar concorrentes. Em 2013, o valor dessa taxa antidumping foi atualizado para 0,78 dólar por quilo, com vigência por cinco anos. Porém, empresas importadoras obtiveram em Brasília e no Rio de Janeiro liminares que impedem essa cobrança.
Para os produtores brasileiros, em sua maioria agricultores familiares, o custo de produção de uma caixa com dez quilos de alho está em R$ 66. Sem pagar a taxa antidumping, a mesma quantidade de produto importado da China chega a ser vendida por R$ 50.
Rafael Jorge Corsino, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa) e da Associação Nacional dos Produtores de Cebola (Anace), chegou a se exaltar durante o debate. “Se não fizermos nada contra essa cultura das liminares, a produção de alho no Brasil vai acabar.”
Segundo Corsino, no período entre 2010 e 2016, quando houve maior rigor com as importações, a produção brasileira saltou de 20% para 45% do total consumido no País, mas hoje corre o risco de regredir diante do que ele considera concorrência desleal. A produção local, localizada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, está em cerca de 130 toneladas por ano.
Marcus Vinicius Vidal Pontes, subsecretário de Administração Aduaneira da Secretaria da Receita Federal do Brasil, disse na audiência pública que, em 2017, a cobrança da taxa antidumping foi lançada sobre 73 toneladas de alho importado – além da China, o produto vem da Argentina e da Espanha –, em montante de R$ 153 milhões.
O deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) estimou que, como foram importadas 170 toneladas no ano passado, o Brasil deixou de arrecadar com a taxa antidumping pouco mais de R$ 200 milhões. Além dessa perda tributária, disse Colatto, a concorrência do alho chinês expõe 4.000 famílias no País – há ainda 100 produtores de médio e grande porte.
Presente ao debate, Itamir Gasparini, secretário de Agricultura de Frei Rogério (SC), alertou para o impacto na lucratividade dos produtores. Em Santa Catarina, são 2.047 hectares cultivados com alho, divididos entre 1.500 famílias. “Há quem esteja pensando em vender sua terrinha, algo entre 1 e 1,5 hectare, para quitar as dívidas com bancos”, afirmou.
Medidas em curso
Representantes do governo afirmaram que já estão em curso medidas para atacar o problema. O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) publicou resoluções entre 2016 e 2017 determinando que todo alho importado deve ser taxado. Segundo a Advocacia-Geral da União, isso permitirá atuar na Justiça Federal e futuramente cassar as liminares ainda vigentes.
Clóvis Volpe, diretor jurídico da associação nacional dos produtores de alho, informou ainda que a entidade entrou com Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal, a fim de tentar evitar, de maneira mais ampla, a concessão das liminares. A ADPF 177, de 2009, está sendo analisada pelo ministro Roberto Barroso.
“O problema está colocado. Tudo o que foi dito está disponível na internet para todos, é preciso divulgar e cobrar os resultados das autoridades”, concluiu Colatto, um dos que sugeriram o debate. A audiência pública também foi proposta pelos deputados Evair Vieira de Melo (PP-ES) e Heitor Schuch (PSB-RS).
Reportagem – Ralph Machado
Edição – Pierre Triboli
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