"Comissão de Orçamento tenta solucionar problemas com obras viárias'

Audiência pública sobre obras e serviços com indícios de irregularidades graves do Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2018A Comissão Mista de Orçamento deverá analisar em breve um relatório com soluções para obras com indícios de irregularidades graves, que foram incluídas na proposta orçamentária de 2018 (PLN 20/17). O assunto está sendo tratado nesta semana pelo colegiado, com a presença de técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) e de representantes de órgãos envolvidos nas obras.
Nesta terça-feira (28), o primeiro debate abordou obras em rodovias e em uma ferrovia que podem ser paralisadas por orientação do TCU. Os parlamentares analisaram a situação de três rodovias – uma no estado do Rio de Janeiro, uma no Rio Grande do Sul e uma na Bahia, além de um trecho urbano na cidade baiana de Juazeiro. Também avaliaram a situação da ferrovia Transnordestina, que quando pronta vai ligar o Porto de Pecém, no Ceará, ao Porto de Suape, em Pernambuco, além do Cerrado do Piauí.
Auditores do TCU apontaram problemas nessas obras, que incluem superfaturamento, falta de projetos e baixa qualidade de serviço, por exemplo. “Os principais problemas vêm desde a origem. Observam-se problemas relacionados ao projeto e também à qualidade do empreendimento”, explicou o auditor do TCU Fábio Amorim.
Sobrepreço
A construção da BR-040, no Rio de Janeiro, já consta do quadro de bloqueio do orçamento de 2017. É um empreendimento cujo valor hoje totaliza R$ 1,4 bilhão e que já foi executada em 35,13%. Estima-se que tenha havido um sobrepreço de R$ 130 milhões em seu orçamento, além de um projeto executivo deficiente, em desacordo com normas pertinentes.

A ampliação de capacidade da BR-290, no Rio Grande do Sul, também foi questionada pelo TCU. Orçada em R$ 241,6 milhões, está quase concluída. Estima-se que tenha sido superfaturada em R$ 43,1 milhões.
O representante da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) Milton Carvalho Gomes disse que o desequilíbrio contratual deveu-se à inclusão de obras não previstas no contrato original.
Transnordestina
Já as obras da ferrovia Transnordestina têm sido constantemente proteladas. A construção começou em 2005, com previsão de conclusão em 2010 a um custo de R$ 4,5 bilhões para os 1.726 quilômetros de linhas férreas. Em 2014, no entanto, foi feito um novo contrato de concessão e a conclusão das obras foi adiada para janeiro de 2017, a um custo de R$ 7,5 bilhões.

O custo atual está orçado em R$ 13,2 bilhões, segundo o auditor do TCU Fernando Graeff. Já foram gastos R$ 6,38 bi e a execução da obra, segundo o auditor, estaria entre 34% e 41%.
O diretor-presidente da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A, Mário Mondolfo, no entanto, disse que metade da obra já foi executada. Segundo ele, uma paralisação de aportes neste momento não impediria a continuidade dos serviços, desde que haja investimento de recursos privados ou entrada de novos sócios privados na empreitada.
Sobre a Transnordestina, o deputado Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE) destacou que os governadores do Nordeste estão ansiosos por uma solução. “Temos que cancelar essa obra, tirar essa concessão, elaborar um edital para outras concessões, chamar a iniciativa privada. Vamos passar essa obra para a iniciativa privada a fim de garantir uma rentabilidade e melhorar o desenvolvimento econômico, e não tirar dinheiro da saúde e da educação”, defendeu o deputado.
Rodovia na Bahia
A obra que recebeu maiores apelos para que seja concluída é um trecho de 75 quilômetros da BR-235 no norte da Bahia. Faltam apenas quatro quilômetros para sua conclusão. Os prejuízos decorrentes de diferentes problemas somam mais de R$ 15 milhões.

Outra obra ainda não concluída é a travessia urbana de Juazeiro (BA), que está bem no início, com 14% de execução. O diretor de Infraestrutura Rodoviária do Departamento Nacional de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Ehret Garcia, disse que essa obra especificamente impacta diretamente a qualidade de vida dos moradores da cidade. “Estamos tratando até de mobilidade urbana dessa cidade importante do norte baiano”, ressaltou.
O prefeito de Juazeiro, Paulo Bomfim, também pediu a continuidade do serviço. “Passam muitos caminhões naquela região. O povo não compreende que a obra está paralisada por questões técnicas”, afirmou.
Relatório
O senador Hélio José (Pros-DF), que é coordenador do Comitê de Avaliação de Obras e Serviços com Indícios de Irregularidades Graves da Comissão Mista de Orçamento, disse que os parlamentares farão um estudo cuidadoso dos argumentos colocados na reunião a fim de apresentar um relatório com soluções.

“A obra em Juazeiro não tem motivos para ser paralisada”, opinou o senador. “Temos que tomar os cuidados necessários. No caso da Transnordestina, há dúvidas em relação a projetos que não foram apresentados. É uma obra com metade concluída”, disse ainda.
Reportagem – Noéli Nobre
Edição - Sandra Crespo

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