"Líder, que líder? (1)"

O fim das últimas monarquias no século passado determinou o surgimento dos partidos políticos, da organização política e a construção de líderes fora do padrão da realeza que julgava seus reis como descendentes divinos. Depois da Revolução Francesa, de 1789, o morticínio na guilhotina e nos bastidores da reorganização política da França, teve um desses vetores: construir líderes da sociedade, fora dos padrões da realeza, do clero e da caserna militar. O fim do absolutismo na França contaminou a Europa e o mesmo fenômeno de construção dos novos líderes para a nascente democracia consumiu muito tempo, muita gente, muita engenharia e muitas mortes.
            Voltemos ao Brasil e comecemos da década de 1950 quando o principal líder político da primeira metade do século, Getúlio Vargas, se reelegia presidente pelo voto popular depois de 15 anos como ditador(1930-1945). Líder com discurso mais amplo pra uma sociedade que começava a se industrializar, experimentava uma classe média urbana, o país mudando sua feição até então rural. Getúlio inaugurava no Brasil o tipo de líder messiânico, espécie de enviado divino capaz de conversar com o povo numa linguagem cifrada de “pai da multidão”. Morreu logo. Substituído por JK, outro líder messiânico com uma linguagem popular assemelhada, este por Jânio Quadros, líder populista demagogo, cujas falas e promessas não correspondiam ao que pensava e nem ao quer faria depois. João Goulart o vice assumindo depois da sua renúncia, era outro demagogo com orientação da esquerda da época, uma espécie de evolução  de Getúlio, de quem herdou o eleitorado urbano. Foi derrubado pelos militares em 1964 depois de uma gestão confusa.
            Em 1985 José Sarney assumiu no lugar de Tancredo Neves, um político mineiro à la JK. Insucesso total. Collor veio em seguida sem bandeira e sem direção certa. Saiu com dois anos. Veio FHC numa postura de centro-esquerda, mais confiável ao olhar dos brasileiros. Teve duas gestões sem turbulências políticas, apesar dos solavancos econômicos. Por fim, a esquerda chegou ao poder em 2003 com Lula, sindicalista e metalúrgico, que usou e abusou da liderança messiânica. Sucedido por Dilma Rousseff, uma burocrata errática.
            Lula e Dilma abriram as portas do país para uma crise moral, política e econômica de rumos incertos. Ao redor de Dilma e no Congresso Nacional, não existem líderes capazes de realizar uma travessia nacional. Que tipo de líder? Respondo no artigo de amanhã.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

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