Perfis em redes sociais atribuídos a Wanderley Luiz e agora desativados continham diversas publicações que indicam um perfil de radicalização de extrema direita, com ataques a "comunistas", mensagens de cunho religioso e contra o Judiciário. As mensagens são essencialmente capturas de telas de textos que Wanderley Luiz teria mandado para si mesmo no Whatsapp e depois publicado na sua conta no Facebook.
Ele também anunciou previamente em dezenas de mensagens que pretendia executar algum tipo de ataque, e mencionou o dia 13 de novembro como data de um "grande acontecimento".
"Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas", escreveu o homem dias antes do ataque, citando nomes de políticos como José Sarney, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso.
Em mensagem obtida pela polícia, Wanderley Luiz indica que os investigadores teriam das 17h48 do dia 13 até o dia 16 de novembro para encontrar os explosivos.
Em outras mensagens, ele pareceu expressar a vontade de se tornar um mártir. "Não chores por mim! Soria!!! (sic) Entrego minha vida para que as crianças cresçam com liberdade", escreveu.
Horas antes do atentado, Wanderley Luiz voltou a ameaçar líderes políticos: "Cuidado ao abrir gavetas, armário, estantes, depósito de materiais, etc." Wanderley Luiz também publicou uma foto em que aparece no interior do plenário do STF, com a mensagem "deixaram a raposa entrar no galinheiro". Segundo o site Poder360, Wanderley Luiz esteve no STF em 24 de agosto, durante uma visitação pública, ocasião em que a fotografia foi feita.
Na rede X, Wanderley Luiz também compartilhava mensagens de cunho religioso e publicou um vídeo que mostrava o republicano Donald Trump num comício nos EUA.
De acordo com a Folha, o deputado federal bolsonarista Jorge Goetten (Republicanos-SC) disse que conhecia Wanderley Luiz e que se encontrou com ele em agosto, na mesma época em que o chaveiro visitou o STF.
Em uma mensagem enviada num grupo de Whatsapp, o deputado contou que conhecia Wanderley Luiz e sua família e que o chaveiro "realmente aparentava severos problemas mentais". Ao jornal, ele disse que "no ano passado, comentei no gabinete que tinha achado ele meio estranho, emocionalmente abalado. Ele falava muito da separação dele. Ele me pareceu meio abalado".
No Boletim de Ocorrência, a Polícia Civil faz menção às mensagens e constata que elas haviam "manifestado previamente a intenção do autor em praticar o autoextermínio e o atentado a bomba contra pessoas e instituições".
Alvo corriqueiro da extrema direita, STF volta a sofrer nova ameaça
Nesta quinta-feira, o STF voltou a ser alvo de ameaças. Segundo o blog da Daniela Lima, no G1, email enviado à instituição diz que não haverá descanso até que a Corte seja eliminada. A mensagem foi acompanhada de uma foto de uma arma de fogo ao lado de dois livros religiosos.
O STF é há anos um dos principais alvos de ataques da extrema direita brasileira, que enxerga o tribunal como intrusivo e um obstáculo no caminho do bolsonarismo. As disputas entre o STF e os apoiadores de Jair Bolsonaro começaram ainda em 2019, quando o tribunal passou a investigar bolsonaristas suspeitos de propagar fake news e ataques a ministros.
A relação continuou a se deteriorar nos anos seguintes. Em 2021, o então presidente Jair Bolsonaro chegou a afirmar que não pretendia mais cumprir ordens do ministro do STF Alexandre de Moraes.
No final de 2022, um bolsonarista foi preso em flagrante por terrorismo, após confessar ter montado um artefato explosivo que foi instalado em um caminhão-tanque, perto do Aeroporto de Brasília.
Semanas depois, em 8 de janeiro de 2023, o prédio do STF, assim com o Palácio do Planalto e o Congresso, foi invadido e destruído por uma turba de bolsonaristas que tentava alimentar uma ruptura institucional para reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022. O STF foi o prédio que mais sofreu danos no ataque.
Reações
Tanto o Congresso quanto o STF decidiram suspender seus trabalhos até às 12h desta quinta-feira, enquanto prosseguiam varreduras em busca de explosivos adicionais nos prédios da região.
Além da investigação conduzida pela Polícia Civil do Distrito Federal, a Polícia Federal também abriu um inquérito, que deve ser remetido ao ministro Alexandre de Moraes.
Diversos membros da classe política reagiram ao episódio. O deputado Arthur Lira, presidente da Câmara pediu uma apuração urgente. "Reafirmo, veementemente, meu total repúdio a qualquer ato de violência", disse.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, por sua vez, disse: "Os ataques às instituições são ataques à democracia e ao povo brasileiro (…) Cada vez mais, a defesa da democracia, o combate à intolerância e à política de ódio que contaminou setores da sociedade se tornam fundamentais. Não podemos, em hipótese nenhuma, naturalizar atos antidemocráticos".
Já o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) afirmou na rede X que, caso as explosões que aconteceram em Brasília, tenham "motivação política, que os responsáveis sejam punidos".
"Confiamos nos órgãos de segurança e nas instituições do Estado no cumprimento de suas funções de esclarecer o fato à sociedade brasileira e, caso tenha motivação política, que os responsáveis sejam punidos com o rigor da lei. Basta de violência!", escreveu.
Em pronunciamento publicado no X, o ex-presidente Bolsonaro disse lamentar e repudiar "todo e qualquer ato de violência", referindo-se ao atentado desta quarta-feira como "fato isolado" e atribuindo-o a "perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo".
"Já passou da hora de o Brasil voltar a cultivar um ambiente adequado para que as diferentes ideias possam se confrontar pacificamente, e que a força dos argumentos valha mais que o argumento da força", escreveu, em tom conciliador, antes de apelar às instituições para que "neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional".
Na quinta-feira, reagindo à declaração de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes disse que as explosões eram fruto do clima extremismo que se instalou no país durante o mandato do ex-presidente, e descartou anistia a golpistas.
"O que ocorreu ontem não é um fato isolado do contexto", disse Moraes. "O contexto é um contexto que se iniciou lá atrás, quando o famoso 'gabinete do ódio' começou a destilar discurso de ódio contra as instituições; contra o Supremo Tribunal Federal, principalmente; contra a autonomia do Judiciário; contra os ministros do Supremo e as famílias de cada ministro."
Para Moraes, a "necessária pacificação do país" só é possível com a "responsabilização de todos os criminosos".
"Não existe possibilidade de pacificação com anistia a criminosos", frisou o ministro. "A impunidade vai gerar mais agressividade, como gerou ontem, porque as pessoas acham que podem vir a Brasília, entrar no STF para explodir o STF."
jps/cn/ra (ots)Caminho Político
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