Sarau da Figueira e Bolsonaro 03 em Cáceres Por Marcio Camilo

Cáceres é surpreendente. Ela tem um conservadorismo arraigado, mas, ao mesmo tempo, existe na cidade uma convergência de movimentos sociais históricos, que fazem o contraponto aos discursos hegemônicos do agro, da branquitude e que luta em prol do meio ambiente, da cultura e contra toda sorte de preconceito, entre o mais latentes a homofobia.
Digo isso porque me chamou a atenção que no mesmo dia em que Eduardo Bolsonaro visitava a cidade para manifestar apoio ao candidato a prefeito Francis Maris, também aconteceu o Sarau da Figueira, na Unemat, que comemorou 10 anos de (re) existência no último sábado (28/09).
Claro que foi uma coincidência, não teve nada de premeditado. Mas eu achei de uma simbologia tremenda, que o evento cultural ocorresse no mesmo dia da visita de um líder reacionário à Princesinha do Pantanal
De um lado, o Bolsonarismo, contra tudo que está aí, no caso, contra a diversidade sexual, cultural e étnica; e, do outro, um movimento social de público e artistas, repleto de diversidade, afeto e muito, mas muito talento.
Pra mim, o Sarau da Figueira - organizado pelo Movimento Figueira Cultural - foi uma resposta ao filho do inominável. Uma resposta em todos os sentidos.
Enquanto eles defendem um novo AI 5, que mergulhou o país em anos sangrentos de repressão e falta de liberdade; no sarau estava estampada uma bandeira da imagem de Jane Vanini, heroína cacerense que lutou contra a ditadura empresarial militar (1964-1985).
Enquanto eles hasteavam a bandeira de Israel, um Estado sionista, que comete genocídio contra o povo palestino; tremulavam no sarau bandeiras de luta contra o racismo e a favor de toda forma de amar.
Enquanto eles veem o mundo em preto e branco, o sarau mostrou que a vida é repleta de cores, e de famílias de todos os tipos e origens.
Se enrolam na bandeira do país e se dizem patriotas, quando na verdade batem continência para bandeira dos EUA. São capachos do imperialismo Norte Americano.
Patriota mesmo são os artistas que estavam no sarau. Que mesmo com toda falta de uma política cultural mais robusta, seguem lutando e acreditando no Brasil.
O sarau nos mostra que nenhum discurso hegemônico fica sem o seu contraponto. É inegável que o Bolsonarismo encontra muito respaldo em boa parte da sociedade Brasileira, inclusive em Cáceres. Mas, nós somos muito mais resilientes.
"Eles passarão. Nós, passarinho". Como diria Mário Quintana.
Marcio Camilo é jornalista e mestre em Comunicação e Poder pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

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