No cotidiano de muitas mulheres, expressões como “você está imaginando coisas” ou “você está ficando maluca” são tão comuns que passam despercebidas, mas têm um impacto devastador. Essas frases, embora possam parecer inofensivas ou até naturais, são na verdade formas de violência psicológica que configuram um crime previsto no artigo 7º da Lei Maria da Penha. Este tipo de abuso psicológico tem um nome específico: gaslighting. O termo "gaslighting" refere-se a uma forma de manipulação emocional onde a vítima é levada a duvidar de sua própria percepção, memória e sanidade. Essa tática pode ser tão sutil que a vítima frequentemente não percebe que está sendo manipulada até que o dano psicológico já esteja profundamente enraizado.
Em relacionamentos românticos, o gaslighting se manifesta por negações constantes, minimização dos sentimentos da vítima e manipulação para fazê-la sentir-se culpada ou inadequada. Frases como “você está exagerando” ou “isso nunca aconteceu” são comuns, visando controlar a vítima e fazê-la duvidar de suas próprias emoções e percepções.
Dentro das famílias, o gaslighting pode ser feito por pais, irmãos ou outros parentes. Pais que desconsideram os sentimentos dos filhos ou os fazem sentir que suas reações são inválidas estão praticando esse abuso. Comentários como “você está inventando coisas” ou “pare de ser tão sensível” podem fazer a vítima duvidar de suas próprias emoções.
No trabalho, o gaslighting pode vir de colegas, superiores ou subordinados. Um chefe pode minar a confiança de um funcionário negando instruções ou promessas, usando frases como “você está entendendo tudo errado” ou “isso é coisa da sua cabeça” para desestabilizar a vítima e manter controle.
Impacto do Gaslighting
A Lei Maria da Penha define violência psicológica como qualquer conduta que cause danos emocionais e diminuição da autoestima. Pesquisa de 2023, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, mostrou que 89% das mulheres no Brasil já sofreram violência psicológica. Esse abuso causa ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Segundo a OMS, uma em cada três mulheres no mundo já sofreu algum tipo de violência física ou psicológica por parte de seus parceiros.
Combatendo o Gaslighting
É fundamental que as mulheres estejam cientes desse tipo de abuso e reconheçam os sinais do gaslighting. Entender que essas falas não são naturais, mas sim uma forma de violência, é o primeiro passo para romper o ciclo de manipulação e buscar ajuda. Profissionais de saúde em geral, grupos de apoio e redes de proteção são recursos importantes para as vítimas de violência psicológica.
A sociedade, como um todo, também tem um papel crucial na erradicação do gaslighting. Educar sobre os diferentes tipos de violência, promover a igualdade de gênero e garantir que as leis de proteção às mulheres sejam rigorosamente aplicadas são medidas essenciais para criar um ambiente seguro e justo para todas.
Reconhecer o gaslighting como uma forma de violência psicológica é um crime previsto na Lei Maria da Penha é essencial para proteger as mulheres e promover uma cultura de respeito e dignidade. Ao dar nome a essa prática abusiva, podemos começar a desmascarar e enfrentar esse problema de maneira mais eficaz, garantindo que todas as mulheres tenham o direito de viver sem medo e em pleno bem-estar emocional.
Jacqueline Cândido de Souza – Advogada e servidora pública dedicada, engajada na defesa dos direitos das mulheres e na promoção da igualdade de gênero. Para saber mais, siga-me no Instagram: https://www.instagram.com/jacquelinecandido.adv/.
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