CAMINHO DO ESPORTE PARIS 2024: Triatletas olímpicos nadam no Sena apesar de águas turvas

Após polêmicas acirradas sobre a qualidade da água, icônico rio recebe atletas para primeira prova dos Jogos Olímpicos. Situação tende a piorar com as chuvas previstas para Paris. Mas atletas levam o desafio com humor. Após intensos debates sobre a balneabilidade de suas águas, o rio Sena recebeu nesta quarta-feira (31/07) sua primeira competição nos Jogos Olímpicos de Paris.
A inauguração coube às 56 atletas da prova de triatlo feminino, horas depois de a qualidade da água ser atestada. Treinos e competições anteriores tiveram que ser cancelados ou adiados.
"Por causa do nosso esporte sempre temos que lidar com condições de balneabilidade complicadas. Acho que vai dar certo", afirmou a alemã Laura Lindemann antes da prova. Também o treinador Thomas Möller disse, depois do aquecimento, não ver "nenhum problema".
O "banheiro de Paris"
Paris investiu cerca de 1,4 bilhão de euros (R$ 8,6 bilhões) para despoluir o Sena a tempo para os Jogos Olímpicos. Para cumprir a meta, foi preciso ligar à rede de esgoto diversas residências que até então lançavam seus dejetos diretamente no rio ou em seus afluentes. Além disso, foi construída uma estrutura para captar a água da chuva que até então fluía para o Sena.
Mas, por causa do verão chuvoso, as amostras de água coletadas ainda revelavam altos índices de impurezas como coliformes fecais – daí os internautas terem apelidado o Sena jocosamente de "banheiro de Paris".
Presentes em fezes humanas, bactérias do tipo E. coli podem ser um sinal de contaminação por esgoto. Um pequeno gole de água altamente contaminada pode provocar diarreia, infecções do trato urinário, pneumonia e sepse. Erupções cutâneas e dor nos olhos também são reações comuns.
Além da E. coli, a água contaminada também pode transmitir leptospirose, doença presente na urina do rato, e causar grave adoecimento dos rins. Outras infecções causadas por cianobactérias e enterococos podem atacar o trato digestivo.
Risco à saúde dos atletas?
Alguns têm acusado a organização dos Jogos Olímpicos de Paris de estar mais preocupada em gerar boas imagens do que em garantir o bem-estar dos atletas.
Na terça, a prova masculina de triatlo fora adiada por causa da má qualidade da água, tendo sido realizada logo após a competição feminina. O medalhista olímpico Jan Frodeno e a associação esportiva alemã Athleten Deutschland reclamaram da falta de um "plano B".
"No momento pode surgir a impressão de que a saúde dos atletas está subordinada ao brilho dos Jogos", criticaram Marlene Gomez-Göggel e Simon Henseleit, representantes da União Alemã do Triatlo e da Athleten Deutschland.
No fim das contas, porém, a organização dos Jogos conseguiu fazer vingar seu "plano A". O Sena, atestou a triatleta Nina Eim após a prova, "tem um gosto bem normal, na verdade". "Estou otimista de que amanhã ainda estaremos bem."
No sábado, o americano Seth Rider, um dos 55 triatletas na competição masculina, disse ter se preparado de forma inusitada para nadar no Sena. "Sabemos que vai ter um pouco de exposição a E. coli, então vou tentar aumentar meus níveis de E. coli me expondo pouco a pouco no dia a dia", disse. "Coisas pequenas ao longo do dia, tipo não lavar as mãos após ir ao banheiro e por aí vai."
Chuvas têm papel importante
A balneabilidade do Sena nas próximas maratonas de natação, marcadas para 8 e 9 de agosto, dependerá das condições meteorológicas, já que chuvas intensas costumam provocar um aumento do nível de bactérias em rios e lagos.
A poluição do rio parisiense não é um problema recente. Por mais de 100 anos, nadar nele era proibido devido às más condições da água, poluídas principalmente por vazamentos e transbordamentos dos sistemas de esgotamento sanitário.
O projeto de despoluição do Sena tinha como objetivo reduzir a contaminação de bactérias em 75% até a primeira prova olímpica. Em junho, parisienses contrariados com o custo bilionário da iniciativa chegaram a lançar uma campanha por um protesto que, basicamente, convocava os descontentes a defecarem no rio.
Apesar do clima tenso, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, deu as primeiras braçadas no Sena no início de julho para tranquilizar a população sobre a qualidade da água.
Thomas Klein/Fred Schwaller/Caminho Político
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