Em entrevista, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação destaca desafio de traduzir em produtos e serviços produção científica brasileira. O governo federal inaugurou em janeiro duas iniciativas para levar ciência e tecnologia ao Nordeste. Fortaleza receberá um campus do Instituto Tecnológico Aeronáutica (ITA), o primeiro fora de São José dos Campos. Na Bahia, houve a parceria com o governo estadual para a construção de um Parque Tecnológico Aeroespacial na Base Aérea de Salvador. "Com essas iniciativas, o Nordeste passa a ser uma região importante, que fornecerá mão de obra qualificada e desenvolvimento tecnológico para a indústria nacional, o que contribui para a diminuição das desigualdades sociais", afirmou à DW a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos (PCdoB).
Durante a conversa, a ministra salientou a "reindustrialização" é um dos grandes desafios do Brasil. "A capacidade humana e de produção de conhecimento científico do Brasil é uma das maiores do mundo. Nosso desafio é fazer com que a produção científica se traduza em produtos e serviços".
No plano internacional, Santos afirma que o Brasil pode se beneficiar na liderança do G20 até 2025, com a criação de um grupo de trabalho focado em inovação e tecnologia. "Queremos ressaltar a necessidade de reduzir assimetrias globais no acesso e na produção da ciência, tecnologia e inovação", disse na entrevista.
DW: Qual a importância a nível nacional e regional de um polo do ITA no Ceará e do Parque Tecnológico Aeroespacial na Bahia?
Luciana Santos: Lançar a pedra fundamental do campus do ITA em Fortaleza é mais um sinal de que o Nordeste voltou a ter vez. A iniciativa é voltada à formação para gerar empregos de qualidade e ampliar a renda. Já o parque tecnológico pretende promover o desenvolvimento nacional da indústria aeroespacial e o fomento do ensino, à realização de pesquisas avançadas e à promoção da inovação no campo aeroespacial. É importante ressaltar que o cluster aeroespacial no Brasil se concentra em sua maior parte na região Sudeste. Com essas iniciativas, o Nordeste passa a ser uma região importante, que fornecerá mão de obra qualificada e desenvolvimento tecnológico para a indústria nacional, o que contribui para a diminuição das desigualdades sociais.
No fim do ano passado, a senhora anunciou editais do programa Mais Inovação Brasil em projetos de transição energética, bioeconomia, infraestrutura. Ao mesmo tempo, há acenos do governo para investimentos e combustíveis fosseis. Como resolver o impasse?
Devido à crescente demanda por energia, é fundamental o desenvolvimento de produtos e tecnologias orientadas para a as cadeias produtivas que envolvem o setor energético (energia elétrica e combustíveis) de forma a garantir a segurança energética para o país, com acesso a uma matriz diversificada e cada vez mais limpa. Temos a compreensão do papel do MCTI de conectar a produção do conhecimento com o desenvolvimento de soluções inovadoras para aumentar a competitividade de nossos produtos e serviços.
Nesse sentido, apesar dos avanços evidentes que conseguimos voltados para a descarbonização do setor, ainda temos muitos gargalos tecnológicos que precisam ser enfrentados para que possamos reduzir as nossas vulnerabilidades e aumentar, de forma competitiva, a participação das fontes sustentáveis na matriz em substituição aos fósseis. Não há saída para o desenvolvimento de energia limpa e para os esforços de descarbonização das economias sem ciência.
Quais são os grandes desafios do país quando falamos sobre ciência e tecnologia?
A capacidade humana e de produção de conhecimento científico do Brasil é uma das maiores do mundo. Nosso desafio é fazer com que a produção científica se traduza em produtos e serviços. Um dos nossos focos principais é na agenda da reindustrialização. Nós precisamos recuperar a industrialização brasileira, e ciência, tecnologia e inovação têm um papel estratégico nesse processo.
A avaliação feita pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência mostra que houve um aumento nos recursos em 2024, mas ressalta que os valores para o fomento de novas bolsas são insuficientes. Como lidar com o impasse?
A nossa perspectiva é aumentar os investimentos em ciência e tecnologia neste ano. O orçamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em 2024, por exemplo, vai passar de R$ 10 para R$ 12 bilhões. Em outra frente, nós facilitamos as condições de empréstimos voltados aos investimentos em inovação diminuindo as taxas de juros.
A questão orçamentária sempre vai ser um desafio para a pasta, mas com o foco correto, na valorização da ciência, das universidades, dos pesquisadores, no desenvolvimento do potencial brasileiro e no combate às desigualdades, nós temos condições de fazer a ciência brasileira avançar à posição que ela merece.
Pesquisa do Centro de Gestão e Estudos Estratégico do ministério mostra que o Brasil tem vivido com uma fuga de cérebros para países como China, EUA e Alemanha. Como resolver o problema?
Nosso ministério tem dado atenção prioritária a iniciativas para reter no nosso país profissionais qualificados e evitar a fuga de cérebros. Para fixar esses talentos no país, o ministério e o CNPq vão lançar o Conhecimento Brasil, que vai oferecer bolsas e subvenções para atrair e fixar pesquisadores que realizaram sua pós-graduação no exterior e não retornaram ao país. Esses talentos vão atuar em Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) e empresas nacionais, e no desenvolvimento de projetos focados em programas estratégicos nacionais.
Implementamos no ano passado o reajuste médio de 40% no valor de bolsas de graduação e pós-graduações, depois de dez anos sem aumento. Além disso, conquistamos a recomposição integral do FNDCT. Os R$ 10 bilhões em recursos do fundo que conseguimos em 2023 estão sendo investidos também na recuperação e expansão da infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica brasileira, o que ajuda a manter aqui os pós-graduandos e doutores.
Como o Brasil pode se beneficiar com a presidência do G20 na área de Ciência e Tecnologia?
No Grupo de Trabalho de Pesquisa e Inovação do G20, sob a coordenação do MCTI, queremos ressaltar a necessidade de reduzir assimetrias globais no acesso e na produção da ciência, tecnologia e inovação, garantindo um futuro próspero, sustentável e inclusivo.
A senhora esteve com a embaixadora da Alemanha no Brasil, Bettina Cadenbach, no fim do ano passado. Qual foi o saldo dessa reunião? Como será a parceria entre os dois países na área de ciência e tecnologia?
A parceria do ministério com a Alemanha já conta com mais de 50 anos. Então, tivemos a oportunidade de atualizar os temas e avançar em áreas prioritárias para os dois países. Na reunião com a embaixadora Bettina Cadenbach, falamos um pouco sobre as cooperações e parcerias que temos em curso e sobre o Grupo de Trabalho em Pesquisa e Inovação do G20, além de temas relacionais ao clima, à bioeconomia, transição energética, saúde e transformação digital. Nosso objetivo é fortalecer a cooperação por meio de chamadas conjuntas para projetos nas áreas prioritárias.
Guilherme Henrique/Caminho Político
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