Não é de hoje que existem embates entre gerações no ambiente profissional. Mas, pela primeira vez, uma geração digital chegou e o mercado de trabalho está em choque. Profissionais jovens e os já não tão jovens assim estão em rota de colisão nas empresas e sentem as faíscas geradas pelo seu no relacionamento diário no trabalho. O mundo mudou radicalmente nos últimos 20 anos. Quem está começando uma carreira profissional agora tem um jeito totalmente diferente de pensar e se comportar comparado as pessoas que já estão nos escritórios há mais tempo. Um levantamento feito este ano pela EDC Group, consultoria de Recursos Humanos, com 328 brasileiros mostrou alguns recortes geracionais sobre o mundo do trabalho. Dos entrevistados da Geração Z (que hoje têm entre 18 e 25 anos), 12,5% disseram que tendem a começar a jornada de trabalho depois do horário combinado e terminar antes do previsto. E 25% dizem concordar que a Geração Z faz exatamente o que foram contratados para fazer, nem mais, nem menos.
Já entre os Millenials (entre 27 a 42 anos), somente 3% não cumprem a jornada de trabalho corretamente. E 16% dos entrevistados disseram que preferem exceder o horário de trabalho para não deixar de entregar uma atividade.
Leonardo Rossato, 45 anos, é um executivo de alto nível em uma empresa do agronegócio em Mato Grosso, onde atua há 17 anos. Hoje lidera centenas de pessoas e faz um paralelo entre gerações. “A minha geração é mais velha, tem forte compromisso com entregas, pensa a longo prazo e quer se solidificar no posto de trabalho. Já a nova geração quer respostas rápidas, é mais ansiosa, mais passiva e tem mais dificuldade em lidar com a pressão”, diz.
Para ele, neste contexto, a liderança deve exercitar ainda mais a empatia e ser observadora atenta das qualidades da juventude atual. “São profissionais que pensam mais rápido e se adaptam bem às novidades, mas que, por outro lado, têm mais facilidade de trocar de serviço por ‘pouca coisa’”, avalia Rossato.
Se os jovens não estão mais focados em ter um trabalho em uma única empresa, como ficam as carreiras? Para Victor Sakitani, coach de liderança e diretor do Grupo Vida Em Fluxo, a tendência daqui para frente é que haja poucos profissionais acumulando longas carreiras em um único lugar.“Hoje, o discurso massificado não é sobre carreira; é sobre empreendedorismo, propósito e felicidade. Pode ser interessante e atraente, mas também é um roteiro muito frágil, pois frequentemente quem está falando sobre isso não aprofunda as explicações sobre as dificuldades do mundo real e da vida adulta e madura”, contextualiza.
A engenheira civil Danielle Novais, de 27 anos, é uma jovem líder que entendeu a necessidade do estudo e do planejamento para ser bem-sucedida. Há um ano, tem sua própria empresa de consultoria para projetos residenciais de alto padrão em Cuiabá. Anteriormente, foi diretora em uma empresa por três anos, onde era responsável por 75 obras ao longo do período.
“Como líder, tenho o dever de desenvolver pessoas. No meu segmento, lido com clientes de alto padrão e profissionais que trabalham nas obras. São diferentes perfis, diferentes idades”, explica. Ela está no meio do caminho e assegura que há desafios para ambos os lados.
“Nas gerações mais antigas, sinto certa resistência por ser mulher no ramo da construção civil e por ser jovem, já que existem pessoas trabalhando que tem mais anos de carreira do que eu tenho de idade. Com os jovens, percebo que as mídias sociais tornaram tudo mais veloz, então eles acreditam que na profissão também serão bem-sucedidos rapidamente”, analisa a engenheira civil.
De acordo com Sakitani, por conta da mudança no comportamento social promovida principalmente pela tecnologia e as facilidades do mundo moderno, os novos profissionais chegam ao mercado com uma visão distorcida do que é a realidade no mundo do trabalho e as lideranças os recebem com certa impaciência para ensinar, o que os leva a se sentir desenquadrados.
“As duas gerações precisam encontrar um ponto de equilíbrio e fazer dessa relação um casamento bem-sucedido. Na zona de convergência, os mais novos absorvem a sabedoria e a experiência prática dos mais experientes, e os mais antigos absorvem a adaptabilidade, a velocidade e a inovação dos jovens, o que é fundamental para o futuro da empresa. Afinal, quem vai estar nas vagas dos líderes atuais daqui a dez ou 15 anos?”, questiona.
Para o coach, o papel do líder com seus liderados é semelhante ao dos pais com seus filhos: buscar compreender o que está ocorrendo, ouvir e auxiliar.
“O líder atual precisa desenvolver habilidades humanas e emocionais, mais do que habilidades relacionadas ao negócio. A geração mais nova demanda bem-estar, propósito e valores para se conectar. Tudo é sobre o ser humano e isso não tem retorno. Os empresários precisam abrir a cabeça para um mundo que mudou e se posicionar como lideranças que percebem o contexto da nova geração de profissionais e que estruturam seus sucessores, garantindo a perpetuidade do negócio”, diz Sakitani.
Assessoria/Caminho Politico
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