Vimos na imprensa nacional a morte lamentável da modelo e jornalista Lygia Fazio, aos 40 anos, por uma infecção causada há 3 anos por complicações após injetar silicone industrial e PMMA (polimetilmetacrilato) nos glúteos. E apesar da popularização das cirurgias plásticas e procedimentos estéticos, muitas pessoas ainda se aventuram em clínicas clandestinas com pessoas não habilitadas que injetam silicone industrial e usam o PMMA sem ter conhecimento sobre a técnica, o que põe em risco a vida do paciente. Não é incomum pessoas que ainda recorrem ao uso do silicone industrial ou líquido.
Essa prática perigosa teve início na década de 70, principalmente por travestis, que buscavam formas corporais mais femininas. Então mulheres e homens aderiram a ‘moda’, que é clandestina e pode causar siliconoma, uma espécie de tumor causado pela reação do corpo a aplicação do produto que pode levar a necrose dos tecidos, embolia, reações alérgicas, dificuldades para andar, deformidades e morte por infecção generalizada.
Geralmente quem aplica não tem conhecimento técnico, as chamadas ‘bombadeiras’, com materiais de origem duvidosa e em locais sem a menor estrutura o que aumenta o risco de contaminação visto que os produtos não são estéreis e podem ainda entrar na corrente sanguínea provocando a morte por septicemia(infecção).
Em alguns casos é possível retirar a substância com lipoaspiração, mas em outros é necessário remover partes do tecido, já que o produto químico se espalha pelo corpo e adere à região muscular. A cirurgia radical pode deixar o corpo ainda mais defeituoso, mas às vezes é a única alternativa.
No caso do PMMA apesar de ser uma substância biocompatível tem grandes chances de complicações, dessa forma não é recomendado por médicos especialistas.
A SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) condenam o uso do produto para fins estéticos. Segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), o uso do PMMA não é seguro, tem resultados imprevisíveis a longo prazo e pode causar reações incuráveis, como inflamações, nódulos e necrose visto que se trata de Polimetilmetacrilato que é um material derivado do plástico, por esse motivo, chamado por alguns profissionais de bioplastia.
O PMMA é injetado em forma de microesferas. Entretanto, ele deve ser purificado para que os diâmetros das esferas excedam 0,05 mm. Quando muito pequenas, as esferas podem causar complicações como reação inflamatória e alergias, pois são atacadas e absorvidas pelas células do sistema imunológico.
Por ser um implante definitivo, o PMMA pode causar complicações, como a formação de nódulos, enrijecimento da região, infecção, alergias, dor crônica, rejeição do organismo e até necrose do tecido.
Os riscos e complicações com PMMA estão relacionados, principalmente, com o fato de o produto ser permanente. É um material injetável que, apesar de ser biocompatível, não é fagocitado pelo corpo, por causa das características do produto em gel. Isso acontece porque o PMMA se encapsula no local de aplicação e se integra ao tecido. Ou seja, o organismo não consegue absorvê-lo, como acontece com o ácido hialurônico. Por não ser absorvido pelo corpo, pode causar deformações, inflamações e até a morte.
Um exemplo dessas reações é quando feita uma aplicação de PMMA nos glúteos, essa substância fica solta no tecido, então ao fazer os movimentos como levantar, sentar, andar, deitar o organismo identifica o polimetilmetacrilato como um corpo estranho, provocando uma reação inflamatória. Sendo assim, o organismo responde querendo expulsar a substância do corpo.
É comum acontecer endurecimento, pois o gel injetado endurece, sendo possível sentir algo duro no local da aplicação. Além disso pode haver migração e deformação, quando o PMMA, ainda líquido ou já endurecido, se desloca pelo organismo, causando deformação estética. Pode ocorrer também alergia, por ser um produto sintético, as chances de ocasionar reações alérgicas são maiores. Por fim, necrose, quando os grânulos formados pela substância podem comprimir microvasos, prejudicando a circulação sanguínea ou até interrompendo-a.
Junto a isso, após a aplicação do PMMA, o organismo pode reagir a esse “corpo estranho” – o metacril inserido, e reage formando cápsulas de colágeno.
Como são múltiplas pequenas esferas inseridas no corpo, elas podem induzir reações de corpo estranho e que ficará no organismo porque o material não se degrada. Em algum momento o corpo vai tentar formas mais efetivas de combater o material estranho, criando um nódulo inflamatório ao redor daquele conjunto que não responde a nada, e esse nódulo é chamado de Granuloma. Os granulomas são normalmente endurecidos, resistentes, às vezes doloridos, são respostas imunológicas exageradas do organismo a algo que não consegue combater de forma eficaz. Dessa forma, a maior parte das complicações do PMMA não ocorrem no período inicial do tratamento. Nos 2-3 primeiros anos pode não ser observado reações adversas, o problema, quando ocorre, costuma ser após 5-10 anos da aplicação. Nesse período, a reação granulomatosa se inicia e as esferas passam a integrar o granuloma, um nódulo palpável, endurecido, sem reversão.
Quando o PMMA se infiltra nos tecidos musculares a sua remoção fica impossibilitada. Em situações como essa, é preciso retirar parte do tecido junto com o PMMA. Resultando em uma grande cicatriz na região.
Devido a essas complicações, a remoção do PMMA é realizada cirurgicamente. Uma das opções é a retirada com laser e é realizada com anestesia local, sem sedação e ambulatorial, ou cirúrgica em hospital.
Por isso vale o alerta, consulte sempre médico cirurgião plástico ao pensar em realizar algum procedimento estético. Hoje há muitas técnicas para se aumentar os glúteos de forma segura sem riscos à sua saúde. Pense nisso.
Benedito Figueiredo Junior é cirurgião plástico na Angiodermoplastic. CRM 4385 e RQE 1266. Email: drbeneplastica@gmail.com
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