Imagine a seguinte situação: sem ninguém esperar ou sequer prever algo minimamente parecido, as cidades se tornaram pessoas e precisam empreender para sobreviver à nova configuração mundial. Em Mato Grosso, o cenário não é diferente. Cuiabá, com seus 304 anos, recém-completos em 8 de abril de 2023, tem que aprender a se posicionar no mercado como marca. Mas, peraí, qual seria a marca registrada da nossa querida Capital? Muitos termos surgem à mente como inspiração de identidade. Se a área de atuação for o turismo, existem opções como “Cidade verde”, “Terra du petche” ou “Lar do Minhocão”. No setor da moda, funcionariam “Podre de chique” ou “De tchapa e cruz”. Já no setor de bebidas, “Boa prá catiça” ou “Boa qui sóveno” exaltariam o seu DNA. Enquanto que no ramo do entretenimento caberiam ainda “Sem moagem” ou “Calor causticante”. Só que Cuiabá quer ir além do registro de sua marca, tanto no Brasil quanto no exterior, seja como empresa, produto, serviço ou pessoa. A cidade-empresária almeja garantir a patente daquilo que inventou e∕ou aperfeiçoou: um mecanismo para permitir que a “tchuva do caju” caia durante o ano inteiro, um aromatizador de ambientes que estimula biologicamente toda “frô que se chera” e, até mesmo, um “abanico de palha” elétrico.
Visionária, Cuiabá decidiu também contar a sua história em um livro autobiográfico, criar um podcast, lançar um álbum de canções de rasqueado e siriri nas plataformas de streaming e por aí vai. Fez e fez sucesso. Por outro lado, a nossa amada Capital esqueceu um detalhe importantíssimo. Partiu com tudo para o mercado, com receio de ser engolida pela concorrência, e não consultou o laudo de viabilidade de seus registros.
E o mais alarmante: esse cenário não é exclusivo da ficção. Milhares de pessoas e empresas iniciantes e∕ou já consolidadas seguem atualmente desprotegidas em virtude da falta de registro de suas marcas (nominativa, mista ou figurativa), patentes (invenção ou modelo de utilidade) ou direitos autorais. Sendo que tal etapa deveria marcar presença em todo plano de negócio, pois faz toda a diferença para a credibilidade e perenidade deste.
Muitos não sabem, mas nem tudo é passível de registro e registro não é algo instantâneo. Ele é resultado de um processo de concessão e emissão de certificado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que – por sua vez – apresenta regras e analisa pedido a pedido. Sem contar que todo registro possui prazo de validade, sendo alguns prorrogáveis ou não, e que a falta de uso pode resultar em sua caducidade prematura.
Como cidade-empresária no mundo da imaginação, Cuiabá teve um desempenho meio apocalíptico em seus projetos. Agora, brincadeiras à parte, eu posso afirmar que aqueles que habitam suas ruas e coração, na vida real, seguem rumo à conscientização. Ao longo de quase 18 anos, tive a honra de auxiliar no registro de mais de 5 mil histórias empreendedoras, daqui e de tantos outros Estados, sendo uma internacional, em Portugal.
Ah, aproveito para adiantar uma informação: existem 422 solicitações de registros de marca com o termo Cuiabá até o momento. E você, já protegeu a sua? Registre-se!
Cristhiane Athayde, empresária e diretora da Domínio Marcas e Patentes
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