O ano era 1911; o mês, março e o dia, 25: um incêndio na fábrica têxtil Triangle Shirtwaist Company matou 146 mulheres das mais de 500 que lá trabalhavam em condições análogas à escravidão. Anos depois, em 1917, no 08 de março, aproximadamente 90 mil trabalhadoras russas protestam contra as péssimas condições de trabalho: essa manifestação de mulheres é considerada uma das primeiras que antecede a Revolução Bolchevique. No último dia 30, estive representando o Deputado Juca do Guaraná MDB, na audiência Pública “Avanços e Soluções para a Violência contra as Mulheres (sic) nos municípios de Várzea Grande e Nossa Senhora do Livramento”. Nesta missiva, gostaria de iniciar um debate mais amplo e teórico a respeito da violência contra a mulher. Primeiramente, discutindo o conceito de violência, que não é algo simplista. Quando falamos em violência, imediatamente nos vêm à mente cenas chocantes e repletas de sangue, feminicídios, por exemplo. Muito maior que essas violências impactantes e explícitas (subjetivas), são as violências “imperceptíveis” (objetivas), geralmente não entendidas como violência nem por parte significativa da sociedade nem pelas violentadas, como a negação do direito ao voto às mulheres; aliás, no Brasil, em sua primeira eleição, em 1532, só homens brancos e com posses votaram; somente em 1932, as mulheres, ainda que parcialmente, votaram. Essa violência sistematizada depende da estrutura social vigente. A do Brasil é a patriarcal (homem branco, europeizado, economicamente provedor e cristão) por isso a violência estrutural contra a mulher.
Em outro plano, mas concomitante, é preciso que discutamos mais detalhadamente a violência objetiva. Essa pode ser dividida em simbólica que age nas linguagens e a sistêmica que reflete o modelo político-econômico. A primeira, abrange as manifestações socioculturais em geral, indo do idioma (“- Cumprimento a todos os presentes em nome....”) até a arquitetura (Quando se projeta prédios com elevadores social e de serviço). A segunda, a sistêmica ou estrutural que se refere à forma como a vida das pessoas e as suas relações econômicas, sociais e políticas se manifestam no dia a dia, ou seja, é o caráter alienante e explorador das relações humanas em sociedade (exemplo, uma mulher negra, com filhos, sem cônjuge, sem qualificação profissional que se vê obrigada a mudar de bairro por conta do aumento do aluguel do seu “Quarto de Despejo”, Carolina Maria de Jesus).
Portanto, iniciativas como a do dia 30 de março, no Fórum de Várzea Grande, para debater as violências contra a mulher são extremamente válidas - porém, precisam ocorrer cotidianamente – se aliadas a iniciativas que busquem o empoderamento feminino por meio do conhecimento, aliás, Slavoj Žižek, autor de “Violência – Seis reflexões laterais” é uma leitura recomendável para melhor percebermos as formas da violência e combatê-las; assim, em um futuro próximo poderemos sonhar com uma sociedade sem violência de gênero, com uma sociedade na qual a tão odiosa coisificação da mulher seja apenas uma triste lembrança. Caminhamos muito, com avanços e retrocessos, mas caminhamos e ainda há muito a caminhar. Que tenhamos como norte Simone de Beauvoir: “A mulher não nasce mulher; torna-se mulher”.
Adriane Martins da Silva é Assessora Parlamentar da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, Gestora Ambiental, Pedagoga, Bacharelada Em Teologia, Pós-Graduada Perícia e Auditoria Ambiental e Pós-Graduada em Auditoria Pública.
adrianecba@gmail.com.
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