Copa do Mundo: "O impossível não é marroquino"

A vitória histórica de Marrocos nas quartas de final deixou todo o continente africano e o mundo árabe nas nuvens. A seleção marroquina deu mais uma prova de que não está no Catar a passeio: ela quer ganhar a Copa. O apito final soou, as comportas se abriram e as lágrimas rolaram. Primeiro as de Cristiano Ronaldo: o cinco vezes vencedor da Bola de Ouro entrou no segundo tempo contra o Marrocos, mas não foi capaz de reverter o resultado. 
Mas as lágrimas de tristeza do jogador de 37 anos foram meras gotas no oceano de alegria marroquina depois que a cabeçada de Youssef En-Nesyri colocou os Leões do Atlas na semifinal da Copa do Mundo do Catar - o primeiro time africano e o primeiro país árabe a conseguir a façanha no futebol masculino, em uma conquista nada menos do que histórica.
Uma equipe heróica...
Mais uma vez, o Marrocos desafiou as probabilidades. Mais uma vez, os alunos do "professor" Walid Regragui mostraram ao mundo do que são feitos: sangue e suor, como todos, mas com uma generosa dose de solidariedade.
Porque, mais uma vez, os jogadores em campo não estavam sozinhos: foram apoiados desde o primeiro minuto até o 98º de jogo por uma torcida estridente, não apenas em Casablanca, Rabat ou Agadir, mas em toda a África e o Oriente Médio, na primeira Copa do Mundo realizada no mundo árabe.
... com apoio incondicional
A atmosfera nos estádios de Doha não tem sido a mais barulhenta nas últimas semanas – claro, com algumas exceções notáveis, como os argentinos e os tunisianos.
Mas nada se compara ao "12º homem" de Marrocos no Estádio Al-Thumama nesta noite de sábado (10/12), vaiando cada toque português na bola e encorajando cada ataque marroquino como se fosse a última oportunidade da vida. Um festival de decibéis nunca antes ouvido durante a competição, fazendo a "apresentação" contra a Espanha parecer um amistoso.
"Perdi a voz", balbuciou Ismael, um torcedor marroquino.
Ele não estava sozinho – mas nem isso impediu que a massa vermelha continuasse incentivando sua seleção: "Parabéns para nós! Isso é apenas o começo; o resto ainda está por vir", diz o canto popular reverberando nas arquibancadas, nas ruas e, mais tarde, no Souq Waqif, que os marroquinos fizeram de casa em Doha.
"Não estamos apenas felizes: é um sentimento muito mais forte do que isso", disse Ahmed, que veio de Casablanca com sua esposa, Zaineb. "Isto é histórico para Marrocos. Ninguém nos via como vencedores, mas aqui estamos nós! Somos os melhores!".
Isso já estava claro para Kenza, que disse ter viajado de Marrakesh especialmente para as quartas de final "esperando uma vitória".
"É extraordinário", exclamou ela. "É histórico para nós, para o mundo árabe e para a África".
"Estamos aqui para levar o troféu"
Apesar do temível leque de talentos do plantel português (Gonçalo Ramos, João Félix, Bruno Fernandes, Bernardo Silva, isso sem falar em Cristiano Ronaldo), os torcedores marroquinos nunca duvidaram das qualidades da sua equipe, cujo núcleo também joga na Europa no mais alto nível.
"Esta equipe é como uma família, os jogadores apoiam uns aos outros", explicou Sofiane, de Casablanca.
"Assim que um jogador perde a bola, um companheiro de equipe está lá para ajudá-lo e dizer para ele não desistir, para continuar lutando até o fim".
Depois de derrotar as duas potências da península ibérica (Espanha e Portugal), o Marrocos tem mais duas partidas garantidas no Catar: a histórica semifinal contra a campeã mundial França e, depois, a final ou a disputa do terceiro lugar. Não que os Leões do Atlas fiquem satisfeitos com o bronze.
"Não importa quem seja o adversário nas semifinais: estamos prontos. Estamos aqui para pegar o troféu agora. É para nós", declarou Ismail, de Agadir, que esteve presente em todas as partidas do Marrocos no Catar até agora. "Estamos aqui para levar o troféu para casa, é nosso."
Para Sofiane, "o céu é o limite", enquanto Douha tem certeza: "Vamos chegar à final, inshallah".
Quanto a Ahmed, ele espera que o resto do mundo tenha entendido a mensagem: "O impossível não é marroquino".
Ali Farhat/Caminho Político
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