Na pandemia, aprendizado de crianças pobres caiu pela metade

Entre famílias mais ricas, efeitos do ensino remoto e déficit de aprendizado foram bem menores, aponta estudo realizado com alunos da pré-escola no Rio de Janeiro. A pandemia e a necessidade de ensino remoto foram um duro golpe para a educação de crianças brasileiras. Para crianças de baixa renda na pré-escola, os efeitos foram avassaladores, aponta um estudo publicado nesta sexta-feira (16/09). Em comparação com o período anterior à pandemia, o aprendizado de alunos mais pobres da educação infantil caiu pela metade, diz a pesquisa, realizada por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Durham University, do Reino Unido.
Entre as crianças com perfil socioeconômico melhor, o déficit também é significativo, mas bem menor: elas aprenderam 75% do que tinham aprendido em 2019.
"O fator mais perverso de toda essa crise é a evidência sobre a ampliação das desigualdades de aprendizagem", afirma Tiago Bartholo, um dos coordenadores da pesquisa e professor do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Colégio de Aplicação da UFRJ.
A pesquisa foi aplicada em 671 crianças entre cinco e seis anos do ensino infantil em 21 escolas da rede conveniada e privada da cidade do Rio de Janeiro. A análise estabeleceu uma comparação entre os registros feitos em grupos de crianças em 2019 e em 2020, ano de início da pandemia. Além de perfil socioeconômico, a amostragem considerou distribuição geográfica, nas Zonas Sul, Oeste e Norte. O método avaliou competências de linguagem, como vocabulário, consciência fonológica e leitura, e matemática, como contagem e aritmética informal, em testes individuais, além de questionário com os educadores.
De maneira geral, aquelas que vivenciaram o segundo ano da pré-escola em 2020, a maior parte do tempo no formato remoto, aprenderam 66% em linguagem e 64% em matemática em comparação com o aprendizado das crianças em 2019.
Quanto mais nova é a criança, mais a aprendizagem é baseada em interações e na intermediação do adulto, aspectos que foram limitados durante o ensino remoto, explica a professora da UFRJ e também coordenadora da pesquisa Mariane Koslinski.
Pandemia intensifica desigualdades no ensino
Entre crianças de famílias com perfil socioeconômico melhor, além dos melhores ambientes de aprendizagem, atividades com pais que geralmente têm maior escolaridade e mais chances de acompanhar os filhos na rotina de ensino possibilitaram uma maior apreensão dos conteúdos. Entre as famílias mais pobres, o ensino fica a cargo majoritariamente das atividades presenciais nas escolas.
"Para além da pandemia, a pesquisa mostra como é importante uma educação infantil de qualidade. Quando tira essa educação, as crianças se desenvolvem de forma mais lenta e desigual", expõe Mariane.
Em uma nova etapa, os pesquisadores pretendem avaliar como será a recuperação dessas crianças no pós-pandemia, em 2022.
A pesquisa foi financiada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e tem, entre os objetivos, apoiar a formulação de um diagnóstico que deve servir de base para a elaboração de um plano nacional de recuperação da educação.
De acordo com a Unesco, mais de 190 países suspenderam o ensino presencial nas escolas durante a pandemia. No Brasil, a maior parte das escolas públicas permaneceu fechada durante quase todo o ano letivo de 2020 e reabriu lentamente em 2021.
Gabrielle Bittelbrun/Caminho Político
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