Renânia do Norte-Vestfália é maior que a Holanda e tem um PIB comparável. Candidato governista de centro direita e opositor social-democrata são pouco expressivos, em pleito que poderá marcar fortalecimento dos verdes. Realizada apenas oito meses após as eleições gerais da Alemanha, a votação na Renânia do Norte-Vestfália, neste domingo (15/05), é apelidada "eleição federal em miniatura", pois o estado é o mais populoso do país, com 18 milhões de habitantes, e o mais importante economicamente, assim como um dos mais diversos.
Em Berlim, o Partido Social-Democrata (SPD), do chefe de governo Olaf Scholz, governa em coalizão com o Partido Verde e o Partido Liberal Democrático (FDP). A expectativa é que sua resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia, à inflação galopante e à crise de energia provocada pela tentativa da Alemanha de se desvencilhar da dependência do gás russo também devem influenciar o eleitorado no nível estadual.
A Renânia do Norte-Vestfália abriga a região do Vale do Rio Ruhr, a antiga zona mineradora da Alemanha Ocidental e tradicional reduto do centro-esquerdista SPD. No entanto, quem atualmente governa o estado é a União Democrata Cristã (CDU), em coalizão com o FDP, após conseguir um pequeno avanço no pleito estadual de 2017. Nas pesquisas de intenção de voto do instituto Infratest Dimap mais recentes, a CDU pontua 30%, contra 28% dos social-democratas.
O politólogo Klaus Schubert, que ensina na Universidade de Münster, confirma a importância das urnas desse estado para o resto do país: "Ele é tão grande quanto um país, quanto a Holanda, por exemplo", com um PIB semelhante. Portanto, "os problemas daqui são os mesmos que o país todo enfrenta, a guerra na Ucrânia e o abastecimento energético estão na mente de todos".
CDU distante das preocupações populares
De fato: os trabalhadores assalariados locais que ganham menos já estão lutando para fazer frente ao aumento dos preços da energia e dos alimentos. "No entanto, no nível estadual, o candidato é ainda mais importante do que o partido que representa", explica Schubert.
"Por isso está essa corrida aberta na Renânia do Norte-Vestfália neste ano. De um lado, temos o governador Hendrik Wüst [da CDU], que só ocupa o cargo há meio ano. Ele não tem uma imagem consolidada para se colocar nesta eleição." Ex-lobista da companhia Eutop e deputado federal, Wüst assumiu em outubro de 2021 sem ser eleito diretamente, substituindo Armin Laschet, que renunciou após sua candidatura fracassada para chanceler federal.
O líder federal da CDU, Friedrich Merz, natural e residente da Renânia do Norte-Vestfália, coloca grandes esperanças no pleito estadual: "A CDU precisa voltar a conquistar mais de 30% do voto nacional. Não vou deixar de afirmar que ela é o maior partido popular da Alemanha. A eleição na Renânia do Norte-Vestfália é um passo importante no caminho", declarou durante um evento de campanha recente.
Klaus Schubert analisa as intervenções do chefe partidário: "Merz fala demais de questões econômicas de larga escala. Mas o que está em pauta para o eleitorado do estado são as políticas ambientais e sociais, como educação e mobilidade. De um modo geral, a CDU não tem abordado o suficiente as questões sociais, nos últimos anos."
SPD e parceiros de coalizão necessários
O principal rival de Wüst é Thomas Kutschaty, do Partido Social-Democrata. Advogado praticante, de uma família de classe operária, ele é deputado estadual desde 2005 e foi secretário de Justiça da Renânia do Norte-Vestfália por sete anos. Ultimamente tem instrumentalizado ativamente na campanha sua conexão com Scholz – apesar de, no momento, a popularidade do chanceler federal estar em baixa, devido a sua relutância em enviar armas pesadas à Ucrânia e a se desligar do gás russo.
Schubert não crê que socorro de última hora de Berlim venha a ser muito útil neste domingo: "Cada partido realmente só precisa conseguir 1% ou 2% a mais do que apresenta agora nas pesquisas para assegurar maioria com seu parceiro de coalizão preferido."
Ele se refere aos verdes para o SPD e os liberais para a CDU: com os dois candidatos principais competindo pau a pau e distantes de uma maioria definida, as siglas menores serão aliados necessários.
O FDP, próximo ao empresariado, não fez muito para conquistar os eleitores em cinco anos como parceiro de coalizão minoritário: após obter 12,6% em 2016, ele está agora em torno de apenas 7% – apesar das promessas de investir em novas tecnologias para tornar a economia mais sustentável.
À frente da secretaria estadual da Economia e Energia da Renânia do Norte-Vestfália, os liberais desencadearam acirradas controvérsias quando uma antiga floresta foi desmatada para dar lugar a uma mina de linhito, num momento em que o estado já se comprometera a abandonar o carvão mineral até 2030.
Na atual crise energética em torno dos combustíveis fósseis da Rússia, tanto a CDU quanto o SPD têm se mostrado inclinados a postergar o abandono do carvão por vários anos. "Eu não vou fechar nada, até ter outras fontes de energia", afirmou Kutschaty em debate na emissora de TV regional WDR.
Ultradireita e esquerda em declínio
O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) sofreu a primeira grande derrota de sua trajetória relativamente curta em 8 de maio, na eleição estadual de Schleswig-Holstein, onde ficou abaixo dos 5% necessários para ocupar um assento no parlamento local.
"Isso é importante", avalia Schubert, "porque eles também não estão indo bem na Renânia do Norte-Vestfália. Devem entrar para o parlamento, mas com menos postos, e o apoio do eleitorado tende a cair."
O cientista político Martin Florack, da Universidade de Duisburg, concorda, ressaltando a "proximidade crônica" da AfD à Rússia, e o fato de que os deputados renanos do partido também viajaram para a Crimeia: "Nesta situação, provavelmente será difícil a AfD obter votos para além de seu eleitorado de base."
Apesar de contar na Renânia do Norte-Vestfália com seu maior número de afiliados, 8.830, a legenda A Esquerda tampouco parece apta a alcançar a marca mínima de 5% para garantir representação parlamentar.
Verdes como fiel da balança
Quem parece prestes a angariar uma dianteira considerável é o Partido Verde, com 16% nas pesquisas, contra 6,4% em 2017. "Os verdes têm sido ótimos em se comunicar, principalmente com o eleitorado mais jovem", diz Klaus Schubert. "E conquistaram credibilidade por sua atuação em coalizões governamentais, no nível estadual, e agora federal."
As mudanças climáticas estão afetando as vidas dos habitantes da Renânia do Norte-Vestfália: em 2018 houve incêndios florestais devastadores e massacrantes ondas de calor, além das enchentes fatais do vale do Ahr, no verão de 2021.
Os desastres naturais "são um tema muito importante aqui, e aproximaram muitos eleitores dos verdes", confirma o cientista político da Universidade de Münster. Se de fato derem o enorme salto previsto pelas pesquisas de intenção de voto, e o SPD e a CDU mantiverem sua disputa apertada, os verdes serão o fiel da balança da "eleição federal em miniatura" – assim como o foram na de verdade, em setembro último.
Elizabeth Schumacher/Caminho Político
@caminhopolitico @cpweb
Comentários
Postar um comentário