Brasileiros protestam contra Bolsonaro na Alemanha

Mais de cem manifestantes se reuniram contra o governo Bolsonaro em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim. Ativistas pedem que presidente brasileiro seja julgado pelo Tribunal Penal Internacional. Mais de cem manifestantes voltaram às ruas neste sábado (02/10) em Berlim para protestar contra o governo de Jair Bolsonaro.
Dois atos foram realizados diante do Portão de Brandemburgo, na região central da capital alemã. Os participantes pediram o impeachment do presidente pela má gestão da pandemia, que já deixou quase 600 mil mortos no Brasil.
O primeiro protesto teve início ao meio-dia, com um ato organizado pelo Coletivo Luta contra o Fascismo no Brasil, que reuniu cerca de 30 pessoas. As faixas pediam "o fim do descaso na saúde pública" e o respeito aos povos indígenas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, e os militares, também foram criticados. "Quem não está do lado dos fascistas tem que colocar a máscara e ir para a rua. Quem não luta, já perdeu", disse Edleuza Peixoto, uma das organizadoras.
A aposentada Yara Steinfatt se deslocou com duas amigas de Hannover, onde mora, até Berlim para "dar voz ao movimento". Yara gastou mais de 100 euros (cerca de R$ 620) com a viagem: "Não importa a distância, nem o custo". Para a ativista, é preciso ter uma pauta única nesse momento.
"Não importa quem grite o ‘Fora Bolsonaro', esse é o foco, e é para todos", disse Yara à DW Brasil. A manifestante deixou o Brasil durante o regime militar, nos anos 70. Já o economista Renan Compagnole contou que está "revoltado com o nível de deterioração econômica e social" nos últimos anos no Brasil. Mas disse ter ressalvas quanto a uma frente ampla nos protestos: "Não gosto de movimentos ultraliberais. Eles só querem um Bolsonaro mais bonitinho".
"Fim da necropolítica”
Um segundo protesto, convocado para o mesmo local, começou por volta das 14h30, e foi organizado por cerca de 20 "ativistas independentes e coletivos progressistas". Entre eles, a economista Andréia da Silva. "É preciso superar as questões partidárias, e focar na luta contra Bolsonaro", disse Andréia à DW Brasil. "Não dá mais para continuar com essa política de desmantelamento das instituições, a favor da fome, contra as vacinas, e retirando a terra dos povos indígenas", justificou.
Ao microfone, ativistas se revezaram com críticas a Bolsonaro, feitas em alemão, inglês e português. "A gente quis chamar a atenção dos alemães, e dos turistas que circulam por aqui, para o que está acontecendo no Brasil. Queremos o fim da necropolítica, e a prisão de Bolsonaro. Ele tem que responder por seus crimes no Tribunal de Haia", disse a ativista Nilda Bezerra, uma das organizadoras do ato.
A intenção foi também repercutir o que se passa no Brasil nesse momento de transição em Berlim. "É importante saber qual será a posição do novo governo alemão em relação ao ecocídio e ao genocídio no Brasil", disse Bezerra. A Alemanha acaba de ter eleições gerais e aguarda a formação de uma nova coalizão que definirá o sucessor de Merkel."A preservação da Amazônia, e a proteção de grupos historicamente vulnerabilizados, como os indígenas, os negros, as mulheres, e a comunidade LGBTQ, estão interligadas", diz Bezerra, que faz parte do Coletivo Brasil-Alemanha pela Democracia, grupo que reúne pessoas ligadas à antiga iniciativa Lula Livre em Berlim.
Bezerra diz que houve uma tentativa de unificar os dois protestos. Mas não houve acordo em torno do formato da organização: "A gente não queria fazer separado. Tentamos articular em conjunto, convidamos para participar, mas não foi aceito”. Edleuza Peixoto, à frente da primeira manifestação, conta que seu coletivo não aprovou a proposta. "Eu propus que elas se juntassem a mim. Elas não podem determinar o que a gente tem que fazer. Participar e apoiar é uma coisa, organizar é outra."
Tensão com bolsonaristas
Durante o segundo protesto, houve um momento de tensão quando dois bolsonaristas que passavam pela praça se aproximaram da área da manifestação, e começaram a filmar o ato. Irritados, ativistas reagiram com palavras anti-Bolsonaro.
Dois policiais que faziam a segurança da manifestação intervieram para evitar um possível confronto, isolando a dupla pró-Bolsonaro, que então se afastou. Mais cedo, durante o primeiro ato, bolsonaristas que passavam pelo local já haviam feito provocações aos manifestantes.
O segundo protesto terminou por volta das 16h30, com uma caminhada até uma ponte nas proximidades do Portão de Brandemburgo, com o grupo musical Urso Ki Ti Schubsen à frente. Mais de cem pessoas participaram da segunda manifestação, segundo os organizadores. Para a polícia, foram cerca de 80 pessoas.
Manifestação em Freiburg
A cidade de Freiburg, no sudoeste da Alemanha, também foi palco de protesto contra Bolsonaro, organizado pelo Coletivo Brasil-Alemanha pela Democracia – Núcleo Freiburg. O grupo percorreu as ruas do centro antigo da cidade. Segundo os organizadores, mais de 70 pessoas tomaram parte no ato, que terminou na Platz der Alten Synagoge, praça onde ficava uma sinagoga que foi destruída pelos nazistas em 1938.O coletivo também divulgou um manifesto, criticando a política econômica liderada pelo ministro Paulo Guedes e os grandes bancos brasileiros.
"Hoje a população brasileira vivendo abaixo da linda da pobreza triplicou. São 27 milhões de pessoas ou 12,8% da população que tentam sobreviver com uma renda mensal de R$ 246 por família ou R$ 61 por cabeça – o equivalente a 10 euros por mês! Chega! isso não pode continuar. A permanência de Bolsonaro no poder é nocivo pro Brasil e para o mundo inteiro! Temos que reforçar essa luta, ela não é mais brasileira. Ela é mundial!", diz o texto, que também pede que Bolsonaro seja julgado e condenado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Cristiane Ramalho/Caminho Político
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