COVID19: “A ECMO salvou a minha vida”, diz jovem submetido ao tratamento

Terapia de alta complexidade funciona como um ‘pulmão artificial’. Gabriel Dravetz, de Cuiabá, foi submetido ao tratamento do começo ao fim, no Hospital Santa Rosa, e teve resposta satisfatória.
Gabriel Dravetz de Paula Cortes ganhou uma segunda chance na vida. Aos 25 anos, o engenheiro agrônomo foi internado para tratar a Covid-19 no início de julho deste ano, no Hospital Santa Rosa, em Cuiabá, e após 48 horas precisou ser intubado. Com dois dias de intubação, os médicos chamaram a mãe do rapaz e informaram que o estado de saúde de Gabriel era gravíssimo. “A doença já tinha tomado conta dos dois pulmões dele. A infecção estava em 95% e parecia uma despedida”, relembra Magda Dravetz.
Foi então que a equipe médica informou que iriam submetê-lo à ECMO (Extracorporeal Membrane Oxygenation), sigla em inglês para Oxigenação Extracorpórea por Membrana. Uma técnica capaz de agir como um pulmão e um coração artificiais para pacientes que estão em estado gravíssimo da doença. “Dr. Diogo Roberto Iglesias veio falar comigo sobre a ECMO. Eu sabia que as chances eram mínimas, mas me agarrei com toda minha fé e esperança. Hoje, Gabriel está aqui, conosco, livre de riscos”, contou a mãe.
De acordo com o cirurgião cardiovascular do Hospital Santa Rosa e um dos responsáveis pela ECMO da unidade, Gibran Roder Feguri, Gabriel foi o único paciente, até o momento, submetido ao tratamento do começo ao fim em Cuiabá, que teve resposta satisfatória.
“Desde que a pandemia iniciou, sabemos de outros casos, de pacientes que foram para ECMO, mas não resistiram. Alguns iniciaram o tratamento em Cuiabá, mas foram transferidos para outros estados. O caso do Gabriel foi diferente. Ele começou e finalizou conosco, com recuperação pulmonar e alta hospitalar. Uma grande vitória, com certeza”, ressalta Gibran.
A médica intensivista do Santa Rosa, Carolina Santos Arruda, que compõe a equipe e também é um das profissionais que atua na coordenação da ECMO, explica que se trata de uma terapia de alta complexidade indicada para pacientes, adultos ou pediátricos, com grave disfunção pulmonar ou cardiopulmonar. “É uma terapia de suporte até que haja recuperação da doença ou proposta de outra terapia definitiva, como, por exemplo, transplante. Diante de muitos casos de Covid-19 com hipoxemia refratária, que é a deficiência de oxigênio no sangue, a ECMO se tornou opcional em casos muito selecionados”, afirma Carolina.
No caso de Gabriel, a decisão foi tomada nas primeiras 24 horas de tratamento. “Mesmo com todos os parâmetros de ventilação mecânica otimizados, técnica de pronação, que é quando o paciente fica de bruços, não se mantinham as taxas de oxigenação adequadas. O sucesso da terapia em pacientes sem comorbidades e em tempo de ventilação mecânica menor do que sete dias aumenta, portanto foi um dos pontos fortes que observamos neste caso em específico”, relata intensivista.
Gabriel Dravetz não se recorda de muita coisa quando esteve internado. Mas é taxativo ao dizer que a ECMO salvou sua vida. “Comecei com uma tosse seca, e em uma semana meu estado de saúde era gravíssimo. A Covid é capaz de fazer coisas que ninguém imagina no organismo de uma pessoa. Jamais imaginei que ficaria tão mal e em tão pouco tempo. Ganhei uma segunda chance e agradeço a Deus e a toda essa equipe fantástica”, ressalta o engenheiro agrônomo, que agora continua o tratamento com as fisioterapias pulmonar e física.
Time coeso e qualificado - Não é possível indicar a ECMO a todos os pacientes e existem inúmeros riscos associados ao tratamento, o que exige uma equipe qualificada e habilitada para o acompanhamento diário e também no pós-tratamento. “Não é só a máquina, ela sozinha não resolve. É preciso um time de profissionais multicapacitados, uma equipe unida e preparada para enfrentar todas as complexidades, e nós temos isso. É preciso destacar a atuação dos colegas, os médicos intensivistas, Diogo Iglesias e a Carolina Arruda, no caso do Gabriel, além de todos os demais membros da equipe”, ressalta o cirurgião cardiovascular Gibran Feguri.
A equipe ECMO do Hospital Santa Rosa é composta por 18 profissionais, entre médico intensivista, cirurgião cardíaco, cirurgião torácico, enfermeiros, fisioterapeutas, odontólogo, psicólogos e os perfusionistas, que são operadores treinados e capacitados para operar a máquina extracorpórea.
O preparo da equipe ECMO do Santa Rosa foi realizado pela ELSO (Extracorporeal Life Support Organization), em São Paulo, principal organização mundial que fornece educação, treinamento, pesquisa e gerenciamento de dados para o suporte extracorpóreo de vida. “Nosso time é o único cadastrado como membro da ELSO em Mato Grosso”, frisa a médica intensivista Carolina Arruda.
Como funciona - Uma cânula é introduzida na veia do paciente, o sangue é drenado por essa cânula e impulsionado por uma bomba até a membrana que exerce a função de pulmão artificial. Nessa membrana, o sangue é oxigenado, retira-se gás carbônico e esse sangue é devolvido por outra cânula em condições adequadas ao paciente.
Pamela Muramatsu/Caminho Político
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