Polícia detém organizadora de vigília que relembraria os centenas de mortos na Praça da Paz Celestial, ato pró-democracia duramente reprimido em Pequim há 32 anos. A polícia de Hong Kong prendeu nesta sexta-feira (04/06) uma organizadora da vigília anual realizada na cidade para relembrar os centenas de mortos no Massacre da Praça da Paz Celestial, ato pró-democracia ocorrido em Pequim em 4 de junho de 1989 e violentamente reprimido pelas Forças Armadas chinesas.
Autoridades locais também orientaram as pessoas a não participarem do evento, que está proibido, e cercou o Victoria Park, onde milhares de pessoas costumam acender velas no aniversário do massacre, em mais um esforço para tentar silenciar vozes em defesa da democracia na China.
Mesmo assim, centenas desafiaram a proibição e se reuniram à noite para realizar uma vigília com velas. A cena foi transmitida ao vivo em redes sociais, mostrando manifestantes com tochas ou com os celulares acesos na área ao redor do parque e vestindo roupas pretas com adereços ou máscaras amarelas, cores associadas ao movimento pró-democracia. Os policiais se mantiveram em formação impedindo a entrada no parque e ordenaram que os manifestantes se dispersassem.
Avanço da repressão
O Partido Comunista chinês nunca permitiu atos públicos na China continental para relembrar o massacre. Nesta sexta, a praça Tiananmen, no centro de Pequim, nome em chinês da praça onde a repressão ocorreu, amanheceu com a segurança reforçada e checagem de documentos das pessoas que iam ao local.
Hong Kong tradicionalmente era um espaço onde atos que relembravam os eventos na Praça da Paz Celestial podiam acontecer, mas os esforços da China para suprimir a memória coletiva do massacre se voltaram recentemente para a cidade, que foi colônia do Reino Unido e mantém certa autonomia, mas desde 1997 está submetida à soberania de Pequim.
Há uma série de iniciativas para suprimir vozes dissidentes na cidade, incluindo uma nova lei de segurança nacional, mudanças no sistema eleitoral e a prisão de ativistas que participaram de manifestações pró-democracia que tomaram as ruas de Hong Kong em 2019.
Pandemia como pretexto
O evento no Victoria Park foi proibido pelo segundo ano seguido, sob o pretexto da pandemia de covid-19, apesar de Hong Kong não ter registrado transmissão local do coronavírus nas última seis semanas e de a cidade estar realizando grandes eventos coletivos.
Um museu temporário sobre o 4 de junho foi fechado no início da semana, e a polícia prendeu nesta sexta Chow Hang Tung, de 36 anos, vice-presidente da Hong Kong Alliance, que organiza o museu e a vigília. Ela havia pedido que as pessoas fizessem homenagens aos mortos no massacre acendendo uma vela onde quer que estivessem.
Participar de reuniões coletivas ilegais pode se punido com uma pena de até cinco anos de prisão, e promover esses eventos pode levar a uma pena de um ano na cidade.Na Universidade de Hong Kong, estudantes fizeram a limpeza anual da escultura "Pilar da Vergonha", erguida para lembrar das vítimas do massacre. Charles Kwok, presidente do centro acadêmico, disse que o evento era legal. "Ao limpar o Pilar da Vergonha, aprendemos sobre como nossos antecessores defenderam a liberdade de expressão antes de nós, e que não devemos desistir facilmente", disse.
No ano passado, milhares de pessoas foram ao Victoria Park apesar da proibição de acender velas e cantar músicas. Em seguida, mais de 20 ativistas tiveram que responder a processos por terem participado do evento. Outros dois membros importantes da Hong Kong Alliance, Lee Cheuk-yan e Albert Ho, estão presos por terem participado das manifestações de 2019.
Autoridades chinesas afirmam que o rápido desenvolvimento econômico do país nos anos posteriores ao que eles chamam de "confusão política" de 1989 seria uma prova de que as decisões tomadas naquela época teriam sido corretas.
bl (AP, Reuters)cp
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