A pílula do dia seguinte é um contraceptivo de emergência sobre o qual muito se fala, mas que ainda sugere muitas dúvidas e tabus. Apesar de o Ministério da Saúde facilitar sua distribuição, ainda há dificuldade de acesso às informações, principalmente quanto ao uso correto do medicamento e os problemas que ele pode causar. Pensando nisso, o Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso (CRF-MT), entrevistou a farmacêutica, Iris Santana de Oliveira para alertar todas as mulheres sobre o uso indiscriminado deste medicamento.
Iris Santana de Oliveira é mestre em Farmacologia e especialista em Saúde Pública e Ambiental. Atualmente ela trabalha em farmácia de dispensação na cidade de Acorizal e nas horas livres se dedica um pouco nas Práticas integrativas (Ventosa e Auriculoterapia).
A venda indiscriminada do comprimido mostra a mudança no modo de se evitar a gravidez. Ele teoricamente deveria ser usado em casos considerados de emergência como o rompimento do preservativo ou estupro. No entanto, se tornou uma "solução" para as relações sexuais, muitas vezes, sem camisinha.
A farmacêutica, Iris destaca que existe o perigo da combinação inadequada onde um medicamento pode anular ou potencializar o efeito do outro. Dentre estes medicamentos encontra-se a pílula do dia seguinte junto com o anticoncepcional que pode acarretar no aumento de vários riscos como tromboses e complicações cardiovasculares.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, 29% dos óbitos ocorridos no Brasil são provocados por intoxicação medicamentosa. Estes dados deixam claro que as ações realizadas até hoje em termos de prevenção e promoção do uso racional de medicamentos não foram suficientes. Embora deva ser combatida, não há nenhum gesto objetivo para o desestímulo à automedicação por parte das autoridades públicas no contexto nacional.
História
O método surgiu no Brasil em 1999, com o objetivo impedir a gravidez indesejada, mas apenas em casos específicos, como o rompimento do preservativo na hora da relação, se a mulher esqueceu de tomar o anticoncepcional, ou ainda, em casos de violência sexual.
Portanto, é um método contraceptivo emergencial, ou seja, o ideal é se prevenir anteriormente e/ou durante a relação sexual para evitar a gravidez.
É importante lembrar que a pílula do dia seguinte não protege contra AIDS e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). A melhor maneira de preveni-las, ainda é usando corretamente o preservativo em toda relação sexual.
Para que surta os efeitos desejados, a pílula do dia seguinte deve ser usada com inteligência e responsabilidade.
Quem esquece de tomar a pílula anticoncepcional pode tomar a pílula do dia seguinte e depois voltar a tomar o anticoncepcional?
Depende de cada situação. Se a paciente toma o seu anticoncepcional regularmente, e já há alguns meses, apenas o esquecimento de uma pílula e considerando o período do ciclo menstrual e se não estiver em período fértil não justifica o uso do contraceptivo de emergência. Em situações onde o esquecimento seja frequente (rotineiro) se faz necessário o uso, e se levantada a hipótese de uma possível gravidez é recomendado um exame de gravidez, se o resultado for negativo retorna o uso do contraceptivo diário. É sempre recomendado nesse período o uso outro de um método contraceptivo (preservativos de barreira “camisinha”).
Como a pílula do dia seguinte age no organismo? Ela é abortiva?
A pílula do dia seguinte é composta por um hormônio presente nos anticoncepcionais de rotina, o levonorgestrel, mas em doses bem mais elevadas, que agem prevenindo a gravidez. Sua ação pode se dar pela inibição ou retardando a ovulação; por dificultar a entrada do espermatozoide no útero; por alterar a passagem do óvulo ou espermatozoide pela tuba uterina. Após o ovo (união do espermatozoide com o óvulo) ter se implantado no útero a medicação não impedira a evolução da gravidez, por isso atentar para tomar a pílula até 72 horas após o ato sexual.
Ela não deve ser considerada abortiva, mas sim uma forma de prevenir uma gravidez, considerando o seu mecanismo de ação.
Quais são os principais riscos?
O fácil acesso e o uso incorreto podem sim trazer riscos à saúde da mulher, principalmente as adolescentes, pois tomar uma pílula do dia seguinte é como se tivesse tomando metade de uma cartela de um anticoncepcional diário. Dentre os principais riscos estão a trombose, e quando se trata de um fumante aumentam os riscos de infarto e comprometimento cardiovascular.
A pílula do dia seguinte tem efeitos colaterais? Quais são?
Como todo medicamento a pílula tem seus efeitos colaterais, sendo os mais comuns: náuseas e/ou vômitos, dores de cabeça, sangramento fora do período menstrual, menstruação irregular podendo adiantar ou atrasar, sensibilidades nos seios, diarreia, dores abdominais, cansaço físico.
Há alguma contraindicação no uso da pílula do dia seguinte?
Alguma condição pode tornar o uso da pílula do dia seguinte perigoso. Sendo contraindicado para mulheres com hipertensão descontrolada, problemas vasculares, doenças do sangue, obesidade mórbida. E em casos de suspeita de gravidez.
Após utilizar o contraceptivo de emergência, posso continuar tomando pílula anticoncepcional ou tenho que esperar menstruar?
O recomendado é esperar o próximo ciclo menstrual e durante esse período usa preservativo. Mas, na pratica continuam com o uso da pílula anticoncepcional. Em situações onde há suspeitas de uma gravidez, recomenda realizar o exame, se descartada uma gravidez retorna o uso, neste período recomenda o uso do preservativo.
Posso usar a pílula do dia seguinte várias vezes no mês?
É difícil estabelecer um limite para o uso da pílula. O recomendado é apenas uma vez no mês e usar quando realmente for necessário, até mesmo para evitar o risco a sua saúde e não fazer de um contraceptivo de emergência um anticoncepcional regular. Visto que o uso frequente além dos riscos à saúde, a sua eficácia também fica comprometida.
Por quanto tempo a pílula do dia seguinte funciona?
Ela tem ação eficaz quando tomado num intervalo de até 72h após a relação sexual desprotegida. Ela age nesse período. Se a mulher estiver no período de ovulação a sua eficácia é comprometida. E a sua eficácia é somente para aquela situação, em caso de uma posterior relação sexual desprotegida a mesma pílula não tem eficácia.
Em quais casos devo utilizar a pílula do dia seguinte?
A pílula do dia seguinte serve para evitar uma gravidez indesejada e só deve ser tomada como forma de emergência após uma relação sexual desprotegida sem o uso da camisinha, em casos de abuso sexual, em suspeitas de falha do método contraceptivo rotineiro (rompimento ou deslocamento do preservativo masculino ou feminino, falha na interrupção do coito, cálculo incorreto do método periódico de abstinência). Após seu uso deve adotar algum método contraceptivo para evitar a gravidez.
Soraya Medeiros/Caminho Político
@CaminhoPolitico
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