Em meio à escassez de vacinas no país, ministério vinha aplicando doses em políticos e figuras próximas do governo que não faziam parte de grupos prioritários. Esquema funcionava em sala do próprio ministério. O ministro da Saúde da Argentina, Ginés González García, deixou o cargo na sexta-feira (19/02) depois da revelação de que pessoas influentes que não faziam parte de grupos prioritários teriam furado a fila da vacinação contra a covid-19 com a cumplicidade da pasta, num esquema de "vacinação VIP" que funcionava dentro do próprio ministério. "Respondendo a seu pedido expresso, apresento-lhe minha renúncia ao cargo de ministro da Saúde", escreveu González García nesta sexta-feira (19), em carta enviada ao presidente, Alberto Fernández, que exigiu publicamente a demissão do ministro.
Para substituí-lo foi nomeada a atual secretária de acesso à Saúde, Carla Vizzotti, uma especialista em medicina interna de 48 anos, que prestará juramento ao cargo na tarde deste sábado, anunciou a Presidência.
Vacinação Vip
O escândalo de distribuição de vacinas para "amigos do poder" foi revelado pelo jornalista peronista Horacio Verbitsky, um ex-assessor da da atual vice-presidente Cristina Kirchner. O jornalista revelou que havia recebido a vacina graças à sua longa amizade com o ministro González García e que a dose foi aplicada em uma sala do ministério. Para o centro de "vacinação VIP" foram direcionadas 3 mil doses da vacina Sputnik V. Inicialmente, González García havia montado esse posto de vacinação sob a justificativa de que ele seria usado para vacinar "pessoal estratégico".
"Decidi me vacinar. Fui descobrir onde fazer isso. Liguei para meu velho amigo, Ginés González García, que conheci muito antes de ser ministro", contou Verbitsky, de 71 anos, em entrevista a uma rádio. Além de Verbitsky, outras pessoas próximas ao governo se vacinaram no Ministério da Saúde, segundo a imprensa local.
Roberto Navarro, dono da Destape Radio, emissora em que Verbitsky fez a revelação, anunciou que cancelou as colaborações com o jornalista. "É uma imoralidade que com 50 mil mortos hajam vacinados VIP. É imoral quem autorizou e quem foi vacinado", disse Navarro no Twitter.
A imprensa também revelou que passaram pela sala Lisandro Bonelli, de 44 anos, sobrinho do ministro e chefe de Gabinete no Ministério, e o líder sindical Hugo Moyano, de 77 anos, com a sua mulher e com o seu filho, de 20 anos, além de políticos próximos do governo como o deputado Eduardo Valdés e o senador Jorge Taiana.
"Fui por indicação do próprio ministro. Nunca pensei que estivesse fazendo algo ilegal", argumentou o deputado Valdés, amigo do Presidente Alberto Fernández.
"Se o Titanic se afundasse, essa gente subiria para os botes antes das mulheres e das crianças", criticou o deputado opositor, Waldo Wolff.
Escassez
A história chegou à imprensa no mesmo dia em que a cidade de Buenos Aires disponibilizou a solicitação de agendamentos online para a imunização de pessoas com mais de 80 anos a partir da próxima segunda-feira, mas o sistema entrou em colapso quase de imediato devido à grande demanda. Até agora, na Argentina, apenas os profissionais de saúde foram vacinados.
O escândalo causou uma onda de reações nas redes sociais com a hashtag #vacunasvip (vacinas vip).
Até agora, a Argentina - que tem cerca de 45 milhões de habitantes, dos quais cerca de 7,2 milhões têm mais de 60 anos - recebeu 1,22 milhão de doses da vacina russa Sputnik V, longe dos 5 milhões inicialmente previstos para janeiro e dos 14,7 milhões assinados para fevereiro.
Também nesta semana, 580 mil doses do imunizante desenvolvido pelo Instituto Serum, na Índia, chegaram ao país vizinho, graças à transferência de tecnologia da AstraZeneca e da Universidade de Oxford.
Enquanto em outras cidades da província de Buenos Aires já começou a campanha em idosos, que devem se inscrever previamente em um site para ter acesso à vacinação, a capital, governada pela oposição ao governo nacional, por enquanto só abriu o registro online para aqueles com mais de 80 anos.
Desde o início da pandemia, a Argentina registrou pouco mais de 2 milhões de casos de covid-19 e 51 mil mortes associadas à doença.
jps (afp, lusa, efe)cp
@CaminhoPolitico
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