Médicos, enfermeiros e cuidadores na linha de frente no combate à covid-19 também precisam de cuidados, em razão do forte estresse gerado pelo grande número de mortes, além do medo de serem infectados pelo coronavírus. Os profissionais de saúde na linha de frente do combate à pandemia de covid-19 também precisam de cuidados. Mesmo antes da pandemia, situações com alto nível de estresse sempre foram parte do cotidiano de médicos, enfermeiros e cuidadores. Mulheres que perdem seus bebês durante o parto, mortes inesperadas de pacientes nos plantões noturnos, erros cometidos durante cirurgias ou simplesmente a pesada carga de trabalho, são algumas das causas que, muitas vezes, levam esses profissionais à exaustão.
O surgimento do coronavírus contribuiu para o agravamento da situação nos centros de saúde e elevou a situação para níveis ainda mais alarmantes.
Em Munique, a organização PSU-Akut, que presta assistência psicológica aos profissionais de saúde, atendeu 1,4 mil pessoas em 2020 através de uma linha direta de ajuda. O serviço conta com colegas de profissão treinados especialmente para ouvir, aconselhar e dar apoio, justamente por compreenderem os desafios das rotinas de hospitais e casas de repouso.
O especialista em gerenciamento de crises e apoio psicológico Andreas Igl já conversou com muitos trabalhadores do setor, através da linha direta e em discussões com as equipes nos locais de trabalho. O diretor administrativo da PSU-Akut é testemunha da pressão extrema sob a qual médicos e funcionários trabalham durante a pandemia.
Covid-19 exacerba o nível de stress
Dia após dia, eles veem pessoas morrendo sem o apoio de que precisavam. Muitos têm medo de que eles mesmos possam transmitir o coronavírus para outros pacientes ou para seus familiares, possivelmente deixando em risco uma criança asmática ou um idoso mais vulnerável.
Essas preocupações também foram citadas por enfermeiros em um estudo conduzido pela associação humanitária Diakone, ligada a igrejas protestantes alemãs.
Cada vez mais profissionais são obrigados a permanecer em quarentena ou adoecem. O presidente da Diakone, Ulrich Lilie, relata que em um centro de saúde apenas 8 dos 52 funcionários ainda têm condições de trabalhar. Segundo diz, este não é um caso isolado.
A linha direta da PSU-Akut foi expandida em março para que as pessoas que trabalham no setor da saúde durante a pandemia possam ter acesso à ajuda de modo rápido e anônimo, das 9h da manhã ás 9h da noite.
Andreas Igl conta que a demanda vem crescendo e que a entidade deve aumentar o número de atendentes, que é atualmente de 40. O fardo para os profissionais de saúde vem se acumulando, o que gera perigos não apenas para os funcionários, mas também para os pacientes.
A seguradora de saúde Barmer, em seu relatório de 2020, alertou que os enfermeiros de casas de repouso tiveram mais dias de licença médica do que os demais profissionais, principalmente em razão de doenças relacionadas à saúde mental.
Benefícios do apoio psicológico
Uma enfermeira de 51 anos que entrou em contato a linha direta da PSU-Akut, se disse aliviada após conversar com uma das atendentes. "Não tive que omitir nada na conversa”, afirmou. "Falamos por 45 minutos. A colega recomendou que eu conversasse com uma psicoterapeuta da equipe. Ela me ligou no dia seguinte e está agora me ajudando a ficar novamente estável.”
Durante anos, bombeiros, policiais, trabalhadores de resgate e até condutores de trens possuíam sistemas de apoio psicológico em tempos de crises, incidentes com várias mortes ou suicídios para evitar transtornos de estresse pós-traumático.
No setor de saúde da Alemanha, esse tipo de serviço não estava disponível até pouco tempo, apesar de se tratar de ambientes onde situações de vida ou morte ocorrem praticamente todos os dias.
Atenção aos sinais
A psicoterapeuta Marion Koll-Krüsmann, diretora clínica da linha direta da PSU-Akut, afirma que o mais importante é lidar com os sintomas logo que aparecem.
Dificuldades para dormir, pensamentos em círculos, irritabilidade ou situações em que uma pessoa se vê mais agressiva do que o normal – sem paciência com as crianças ou desejando estar em quarentena – são sinais de possíveis sobrecargas.
Andreas Igl teme que a demanda sobre os profissionais de saúde venha a aumentar nas próximas semanas, uma vez que um número menor de funcionários deverá estar disponível em razão do aumento no número de casos da doença na Alemanha. São poucas as organizações que possuem planos de apoio psicológico eficientes.
"O plano que deve entrar em efeito agora é proibir os funcionários de sair de licença”, diz Igl. Isso removeria as chances de recuperação para os profissionais que estão em atividade. "Por outro lado, muitas vezes não há alternativas, porque senão a clínica, departamento de saúde ou casa de repouso, teria de fechar”, explica.
Recuperar a energia após o trabalho
A psicoterapeuta Koll-Krüsmann afirma que, quanto mais caótica fica a situação, "mais importante é cuidar bem de si e planejar meios de restaurar sua energia”. Ela diz que caminhar em um parque, reunir amigos em videoconferência ou aprender algo novo, como um instrumento musical ou idioma, são coisas que podem ajudar.
O importante, segundo afirma, é não se jogar no sofá logo após o trabalho, mas sim, fazer exercícios moderados, mesmo se a pessoa tiver se movimentando bastante em seu local de trabalho. "O estresse crônico aparece quando alguém vai descansar logo depois do trabalho, ou quando alguém apenas faz exercícios e não descansa”, afirma a psicoterapeuta.
Ela conta que vê com frequência profissionais que tentam lidar de todas as formas com a situação atual, o que acaba elevando ainda mais o nível de estresse. Isso ocorre, por exemplo, "quando veem o modo doloroso como as pessoas estão morrendo e, por outro lado, ainda discutem com alguém no transporte público que acha que não deve usar a máscara”.
E após a pandemia, o que será do trabalho dessas pessoas? No setor da enfermagem, a insatisfação vem aumentando. Quando o estado da Baixa Saxônia ampliou as hora diárias de trabalho de 8 para doze e as jornadas semanais de 40 para 60 horas, muitos se revoltaram e alguns, inclusive, anunciaram em redes sociais que vão abandonar a profissão.
Andrea Grunau/Caminho Político
@CaminhoPolitico
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