“Nós, padres, devemos ler a realidade com os olhos dos pobres.” Entrevista com o novo cardeal Augusto Paolo Lojudice
Não é difícil saber onde está Jesus. “Ele mesmo nos disse, no Evangelho, em Mateus 25. Ele está entre os pequenos, os fracos, os famintos, os sedentos, os doentes, os migrantes.” Portanto, os cristãos não devem se perder em “considerações sociológicas, econômicas” para poderem encontrar Cristo: “Ele está perto das pessoas necessitadas, nos lugares de dor”.
Essa é a “certeza” que caracteriza a vocação e o sacerdócio de Augusto Paolo Lojudice, novo cardeal, uma vida desde sempre ao lado dos últimos, em todos os contextos e em várias periferias: imigrantes, Rom, pobres, jovens prostitutas, vítimas da droga. Sem medo de desafiar os pontos de tráfico, ou os poderosos criminosos da região de Ostia, ameaçada pela máfia.
Romano, 56 anos de idade, ele é hoje arcebispo de Siena-Colle di Val d’Elsa-Montalcino, depois de ter sido pároco em Santa Maria Madre del Redentore em Tor Bella Monaca (1997-2005), pai espiritual no Pontifício Seminário Romano Maior (2005-2014), pároco de San Luca al Prenestino (2014-2015) e bispo auxiliar da capital italiana (2015-2019).
Nesta entrevista, ele também nos revela uma pergunta misteriosa e uma piada do Papa Francisco.
Eis a entrevista.
Eminência ou, melhor, Pe. Paolo, como você prefere ser chamado: como soube da sua nomeação?
Cruzando-me com as palavras proferidas de uma janela muito particular por uma pessoa muito particular que lia uma lista de nomes (sorri).
Entendemos. O que você sentiu naqueles instantes após o Ângelus do pontífice?
A sensação de ser projetado para um contexto maior do que eu. Mas depois pensei no “chamado divino”: diz-se que o Senhor dá a pena na proporção das forças de quem a recebe, e assim eu me senti em grande paz e abandono à Sua Vontade.
À distância de algumas semanas do anúncio, chegou o consistório com a púrpura: com que espírito você o recebeu?
Todas as coisas que acontecem devem ser lidas e pensadas na perspectiva da fé. Eu me sinto em continuidade com o trabalho realizado até agora e espero fazê-lo cada vez melhor, ajudando o papa e dando a minha contribuição para a condução do caminho da Igreja universal.
Quais são os papéis e as tarefas de um cardeal?
Ser cristão e padre dentro da estrutura social contemporânea, neste nosso tempo. É preciso anunciar o Evangelho com um olhar universal. Lembrando-se e lembrando que a Igreja abraça todo o mundo.
Das periferias ao cardinalato, dos pontos de tráfico a São Pedro: que sentido e significado você dá a esse percurso de vida e de fé?
Nesses 31 anos, eu estive nas periferias, mas também em contextos e questões de uma natureza completamente diferente: onde quer que eu me encontrasse, eu tentava ler a realidade com os olhos dos mais pobres, porque é isso que o Evangelho nos pede.
Pode nos dar um exemplo?
Sete anos atrás, quando Francisco se tornou papa, eu era pai espiritual no Pontifício Seminário Romano Maior. Ocupava um cargo que eu havia redesenhado a partir das minhas experiências: eu tentava oferecer aos candidatos ao sacerdócio não apenas um acompanhamento espiritual, mas também chaves de leitura de uma cotidianidade que não fosse exclusivamente aquela tranquila e abafada de onde eles provinham ou na qual pensavam. Todos somos conscientes de que existem as misérias, os sofrimentos, mas muitas vezes os imaginamos apenas do outro lado do planeta, e não nos damos conta de que nós os temos debaixo da nossa casa, na vizinhança próxima. Assim, levei os jovens para conhecer as “periferias existenciais”, como o pontífice as definiu. E continuei como bispo, encorajando a atenção das comunidades e dos sacerdotes para os âmbitos mais desfavorecidas. Agora, eu gostaria de dar esse significado também para o passo ulterior que o Senhor me pediu, dirigido ao coração da Igreja, e assim continuar a testemunhar a Sua Palavra, na primeira pessoa, em cada estrada que eu percorrer.
Os migrantes, os pobres: que papel e prioridade eles devem ter para um cristão?
Devem ser colocados onde Jesus os coloca no Evangelho. Mateus 25 (há cinco anos, eu o escolhi como meu lema episcopal: “Mihi fecistis”) é a página que nos mostra onde está Jesus, onde podemos procurá-lo. Porque, no fundo, a vida de um cristão é uma longa busca de Deus, como nos ensinaram os grandes papas, os grandes cristãos desde Santo Agostinho. Assim, o fato de Ele nos dizer onde podemos alcançá-lo nos dá uma vantagem extraordinária.
E onde está Jesus?
Entre os “pequenos” do Evangelho, ou seja, os pobres, os fracos, os famintos, os presos, os sedentos, os doentes. “Categorias” de pessoas atuais em todas as épocas, que incluem o estrangeiro, o migrante a ser acolhido. Muitas considerações sociológicas, econômicas, políticas podem ser expressadas, mas o cristão tem esta certeza: Jesus se encontra perto das pessoas necessitadas, nos lugares de dor e de abandono.
Que relação você tem com o Papa Francisco?
Eu o encontrei poucos dias antes da nomeação: ele me recebeu cordialmente, achei-o sereno apesar dos problemas que nunca faltam. Falamos um pouco sobre tudo. Mas absolutamente não sobre o telefonema que ele me faria em alguns dias. Depois, eu só achei estranha uma pergunta, mesmo que, naquele momento, eu não tivesse dado peso a ela: “O que você faz no domingo ao meio-dia?”. Eu a interpretei como se fosse sobre os domingos em geral e lhe respondi pensando no meu programa habitual. Só depois do Ângelus é que eu entendi. No dia seguinte ao Ângelus, nós conversamos e ele me revelou a que ele se referia. E depois fez outra piada: “Eu jogo os cardeais pela janela”. Eu lhe perguntei: “Em que sentido?”. Ele respondeu: “Eu abro a janela e digo quem são os novos cardeais”.
Um Natal chega em meio à pandemia, com sacrifícios de liberdade, econômicos e também religiosos: como e onde se pode encontrar um pouco de conforto e consolação?
Devemos tentar nos colocar em uma relação saudável e construtiva com o tempo presente, sem esquecer que o mundo já foi salvo por Jesus. Ter fé cristã é um otimismo de fundo, baseado no valor redentor da morte e ressurreição de Cristo, um evento que mudou a história: da negatividade, do nada, da escuridão, ele mudou o curso na direção da esperança e da luz. Perseveremos, portanto, cultivando essa esperança, virtude teologal, para não nos deixarmos vencer pela ansiedade e pela tristeza. A solidariedade concreta para com quem sofre – por doença, problemas econômicos, desemprego, solidão – é o caminho para tornar alegre e fecunda a vida juntos na casa comum. O meu desejo é que esta pandemia não nos deixe como antes, mas unifique a humanidade no sinal da fraternidade. Podemos encontrar o sentido do caminho no Deus que morreu, ressuscitou e está no meio de nós para nos salvar.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada por La Stampa e Caminho Político. A tradução é de Moisés Sbardelotto. @CaminhoPolitico
Comentários
Postar um comentário