Desde o impeachment, dezenas de milhares protestam diariamente no Peru. Em sua maioria jovens, eles vão às ruas não porque defendem o líder deposto, mas a favor da democracia e contra os velhos grupos políticos. O presidente interino do Peru, Manuel Merino, está sob pressão crescente para renunciar, após metade de seu gabinete abandonar o governo devido à repressão policial aos maiores protestos em décadas no país.
O Peru vive protestos diários, com dezenas de milhares de pessoas nas ruas, desde que, na última segunda-feira (09/11), o presidente Martín Vizcarra foi retirado do poder pelo Congresso, em processo de impeachment, sob alegações de corrupção. Ele nega as acusações.
Os manifestantes dizem que vão às ruas não porque defendem o presidente, mas porque consideram que os grupos políticos que promoveram seu impeachment procuraram assumir a chefia de Estado para defender interesses pessoais e se blindar do combate à corrupção.
"TWITTER: Nicole @Nnyelyy - Te metiste con la generación equivocada, es momento de alzar nuestra voz y hacernos escuchar. 🇵🇪👏 #MarchaNacional ##MerinoNoEsMiPresidente
No sábado, os manifestantes lotaram praças no centro de Lima. As manifestações começaram pacificamente, mas se intensificaram ao cair da noite. Dois jovens foram mortos em confrontos com a polícia, ambos baleados.
Os protestos são liderados sobretudo por jovens de menos de 25 anos. Eles rejeitam o processo que removeu Vizcarra como um golpe parlamentar. Os manifestantes empunhavam cartazes dizendo "Merino, você não é meu presidente", "Merino/Congresso impostor", "Você se meteu com a geração errada" e "Os dinossauros vão desaparecer".
"Queremos levantar nossa voz de protesto contra este Congresso, contra este presidente, queremos que ele saia, queremos uma democracia, queremos ser ouvidos, queremos uma boa educação para nós e para nosso futuro", disse Yulissa López, que chegou à manifestação acompanhada de amigos da universidade e da escola no sábado.
"O presidente teve apenas 5 mil votos dos 33 milhões que nós peruanos somos, como é que ele vai ser nosso presidente, não é possível", reclamou a jovem sobre Merino.
Os confrontos no sábado aconteceram quando um grupo aproximou-se da casa do presidente interino para protestar, ao som de panelas e tambores. A polícia voltou a utilizar gás lacrimogêneo, lançado também a partir de helicópteros, além de balas de borracha e projéteis não identificados, para dispersar manifestantes.Repressão policial
Após a violência, pelo menos nove ministros - empossados na quinta-feira - anunciaram suas demissões. Ao mesmo tempo, cresciam os apelos para a saída de Merino, o ex-presidente do Congresso que liderou o impulso para impugnar Vizcarra e que assumiu a presidência na terça-feira passada.
"O presidente Merino deveria apresentar sua demissão neste momento", disse o novo chefe do Congresso, o legislador de centro-direita Luis Valdéz no início deste domingo. "Não se pode ignorar a vontade da população", disse Valdez, que também anunciou que deixará o cargo de presidente do Parlamento. Uma reunião neste domingo vai debater a possível destituição do líder interino.
As críticas de Valdez, que votou a favor da destituição de Vizcarra na origem da crise política, somam-se às de vários políticos peruanos, diante da contestação nas ruas de milhares de pessoas desde terça-feira e à violenta repressão policial, já denunciada pela Anistia Internacional (AI).
"Os vídeos verificados digitalmente pela Anistia Internacional são provas contundentes da violência perpetrada pela polícia contra a população que ela devia proteger", disse a organização não governamental em comunicado, na tarde de sábado. Segundo a ONG, foram pelo menos 15 feridos por armas de fogo.
A AI denunciou que "vários agentes da polícia dispararam diretamente contra pessoas durante uma manifestação", na noite de 12 de novembro, perto do Tribunal Superior de Justiça de Lima.
O Parlamento destituiu na segunda-feira Vizcarra por "incapacidade moral", na segunda moção de censura apresentada contra ele em meses. A moção contra o presidente, popular por sua intransigência contra a corrupção, teve como motivo supostos subornos recebidos por Vizcarra em 2014, na época governador.
O presidente do Parlamento, Manuel Merino, assumiu um dia depois o comando do Governo até o final do mandato de Vizcarra, previsto para 28 de julho de 2021. Mas o novo chefe de Estado, um engenheiro agrícola de centro-direita, de 59 anos, enfrenta uma enorme contestação no país.
RPR/afp/efe/cp
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