Lideranças católicas e evangélicas apresentaram sugestões de enfretamento da devastação e dos crimes socioambientais que, segundo elas, estão em curso no País. O debate com organismos eclesiásticos, pastorais e de direitos humanos foi promovido nesta quinta-feira (8) pela comissão externa da Câmara sobre queimadas em biomas brasileiros.
O foco principal é o Pantanal, que perdeu 14% de área para o fogo em setembro e já tem 33 mil quilômetros quadrados de devastação ao longo do ano, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A destruição de 2020 já bateu todos os recordes no bioma (Veja infográfico abaixo).Bispo da Diocese de Rondonópolis e Guiratinga, no Mato Grosso, Dom Juventino Kestering sugeriu cinco medidas imediatas: plano de salvamento envolvendo universidades, população e as três esferas de governo; brigada permanente contra incêndios; plano de prevenção; controle da exploração turística do bioma; e o que chamou de “novas posturas de vida” diante do progresso.
“Nós não podemos fazer de conta que é uma seca eventual. Não é. O Pantanal está nessa situação por interferência do ser humano e mau uso do ser humano. Precisa-se de progresso? Sim, mas um progresso equilibrado que leve em consideração fauna, flora, clima, ecologia e pessoas”.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já havia manifestado preocupação com as queimadas no Pantanal por meio de uma carta assinada pelos bispos do Centro-Oeste, em setembro. Representante da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, ligada à CNBB, Paulo Maldos acrescentou outras sugestões à Câmara.
“A situação atual é insuportável. O papel da Câmara, ao nosso ver, é a mobilização política e social para parar o fogo imediatamente e, a partir daí, construir políticas públicas de caráter permanente para recuperação, preservação e prevenção permanente para esse bioma tão caro para o nosso País e para toda a humanidade”.
A coordenadora da comissão externa, deputada Professora Rosa Neide (PT-MT), citou a Encíclica (“Laudato Sí”) do Papa Francisco que apela pela “preservação do planeta como casa comum”. A deputada concorda que as medidas são urgentes.
“Apagar o fogo tem sido a determinação desta comissão desde a instalação. Temos os animais morrendo, a vegetação sendo extinta e a população sem água potável para beber na maior planície úmida do planeta. Então, não há como deixar para daqui a pouco porque os dias já passaram e estamos há três meses como o Pantanal em chamas”.
Os religiosos também denunciaram outros crimes socioambientais em curso no Pantanal e em outros biomas. Foi o caso do pastor Teobaldo Witter, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), entidade que reúne católicos e evangélicos batistas, luteranos, presbiterianos, entre outras denominações.
“Nós temos a parte visível das queimadas, aqui no Pantanal, mas a parte invisível do Pantanal que a gente tem que enfrentar são: os garimpos que estão no entorno, modificando toda a paisagem com altas montanhas de terra cavadas na profundeza do Pantanal; o veneno que se joga ao redor do Pantanal; os resíduos dos animais e das plantas, que estão se acumulando nas partes mais baixas do Pantanal, junto com o veneno; e o desprezo aos povos (tradicionais)”.
Discurso na ONU
Também houve novas críticas ao recente discurso do presidente Jair Bolsonaro na ONU, onde atribuiu a índios e caboclos parte das queimadas na Amazônia e no Pantanal. Padre Marco Antônio Ribeiro, da Diocese de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, foi direto, ao apontar quem se beneficia com o fogo nos biomas.
“O fogo aqui tem dois destinos bem certos: limpar a área para ocupá-la ou poder usá-la posteriormente e expulsar as comunidades nativas”.
Avaliação semelhante foi apresentada por Valéria Santos, representante da Comissão Pastoral da Terra.
“Os dados da Comissão Pastoral da Terra e do Conselho Indigenista Missionário têm mostrado o quanto é crescente a violência no campo contra as comunidades e o quanto andam juntas as questões de grilagem, desmatamento e queimadas. E isso, durante o ano todo”.
Alguns debatedores citaram riscos de o Pantanal se transformar em “pastonal” ou “poça de lama” no bioma considerado a maior planície inundável do mundo. Entre as sugestões para reduzir a devastação, também foi sugerida a garantia dos territórios dos povos e comunidades tradicionais.
Reportagem - José Carlos Oliveira
Edição - Geórgia Moraes
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