Polícia Federal vai apurar declarações de ex-aliado de Bolsonaro de que filho do presidente soube com antecedência de operação que mirou seu assessor. Empresário também será ouvido sobre tentativa de interferência na PF.A Polícia Federal (PF) informou neste domingo (17/05) que vai investigar a afirmação feita pelo empresário Paulo Marinho de que o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, foi sido informado com antecedência de que a Operação Furna da Onça, que atingiu Fabrício Queiroz, então funcionário de Flávio, seria deflagrada.
A PF vai investigar o suposto vazamento, relatado ao jornal Folha de S.Paulo, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Senadores e deputados também cobraram uma investigação sobre o caso.
Marinho é suplente de Flávio no Senado, pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSDB e foi uma figura importante na campanha presidencial de Bolsonaro, tendo sua casa sido usada para atividades eleitorais e ficado conhecida como o quartel-general dos Bolsonaro no Rio, segundo o jornal O Globo. Marinho e o presidente forma apresentados pelo ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebbiano, demitido no início de 2019.
Em entrevista à colunista da Folha Mônica Bergamo, Marinho afirmou que, em dezembro de 2018, com Bolsonaro já eleito e prestes a assumir o Planalto, Flávio procurou o empresário para pedir a indicação de um advogado criminal. Segundo o jornal, ele estaria "absolutamente transtornado" com o escândalo envolvendo Queiroz e preocupado com possíveis consequências ao governo de seu pai.
Queiroz é investigado por lavagem de dinheiro, suspeito de operar um esquema de "rachadinha" (divisão de salários de funcionários) no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando este era deputado estadual (entenda aqui os desdobramentos do caso Queiroz, o primeiro escândalo do governo Bolsonaro).
Marinho disse que, no encontro em dezembro de 2018, Flávio contou que foi avisado sobre a Operação Furna da Onça entre o primeiro e segundo turnos das eleições de 2018 (7 e 28 de outubro), por um delegado da Polícia Federal (PF) apoiador de Bolsonaro.
Segundo Marinho, o delegado teria telefonado ao chefe de gabinete de Flávio, o coronel Miguel Ângelo Braga Grillo. O coronel também terá de prestar depoimento à Polícia Federal.
O empresário afirmou ainda que, segundo Flávio, a PF teria retardado a operação para que ela não fosse realizada durante o segundo turno, evitando assim prejudicar a candidatura de seu pai.
"Eu sou eleitor, adepto, simpatizante da campanha [de Jair Bolsonaro], e nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição", teria dito o delegado a Flávio, segundo relatou Marinho.
Ao repassar a informação, o delegado também teria sugerido que a família tomasse "providências" antes da operação. Segundo Marinho, Flávio então comunicou o caso ao pai, que por sua vez pediu a demissão de Queiroz da Alerj, bem como da filha dele, Nathalia, funcionária do gabinete de Bolsonaro, então deputado federal, em Brasília.
De fato, os dois foram exonerados de seus cargos em 15 de outubro de 2018, no período entre o primeiro e o segundo turno das eleições.
A Furna da Onça foi deflagrada em novembro de 2018. Tais revelações teriam sido feitas por Flávio a Marinho em 13 de dezembro de 2018. À época, Queiroz estava sumido, e Flávio disse a seu suplente que mantinha contato indireto com Queiroz por meio de um advogado.
Segundo o jornal O Globo, um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) reforça a versão de Marinho de que a PF sabia da movimentação de Queiroz antes das eleições.
De acordo com o jornal, o desembargador Abel Gomes, relator da Operação Furna da Onça no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), disse, em nota divulgada após a publicação da entrevista pela Folha, que Judiciário, MPF e PF entenderam que a ação só deveria ser executada após a eleição de 2018 para evitar a falsa percepção de que tinha objetivos políticos.
Em nota emitida neste domingo, Flávio rebateu as declarações de Marinho, descrevendo-as como "estórias que não passam de invenção de alguém desesperado e sem votos".
Após a publicação da entrevista pela Folha, Marinho escreveu no Twitter que decidiu revelar o suposto vazamento após a demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal, e porque "considerou necessário dar publicidade às informações que podem colaborar com as investigações sobre a tentativa de interferência na PF".
Além de investigar o suposto vazamento relatado por Marinho, a PF vai ouvir o depoimento do empresário no inquérito aberto para investigar se o presidente tentou interferir na corporação, como denunciou Moro.
Após a apuração da PF, a PGR decidirá sobre uma acusação contra Bolsonaro, cuja continuidade precisaria, então, ser aprovada por dois terços da Câmara. Se receber o aval dos deputados, a denúncia seguiria para o Supremo Tribunal Federal (STF), que pode abrir uma ação penal contra o presidente e levar, assim, a seu afastamento por 180 dias do cargo.
LPF/ots/cp
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