Representante do Ministério da Saúde disse que recomendação segue autorização do Conselho Federal de Medicina. A recomendação do governo para o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19, divulgada nesta quarta-feira (20), foi alvo de críticas em audiência da comissão externa que acompanha as ações de combate ao coronavírus. Ao mesmo tempo, vários deputados afirmaram que a discussão tem sido mais política que técnica porque, mesmo sem a recomendação, quem decidia e deve continuar decidindo sobre o uso é o médico em conjunto com o paciente.
O Ministério da Saúde recomendou a cloroquina e a hidroxicloroquina para tratamento de todas as fases da doença. Mas o paciente terá que assinar um termo de consentimento porque o parecer afirma que não existem estudos quer comprovem benefícios contra a Covid-19 com os medicamentos. E adverte que o uso da cloroquina pode causar efeitos colaterais como disfunções do fígado, do coração e problemas nos olhos.
O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, disse que a orientação do ministério seguiu autorização recente do Conselho Federal de Medicina:
“Ele traz consigo uma orientação justamente para esse médico assistente. Porque não está proibido pelo próprio conselho, é um parecer do Conselho Federal de Medicina. O ministério tem a obrigação de orientar, regulamentar como se faz o uso, uma vez que ele não está proibido. Se não fica a decisão apenas de quem tem dinheiro para comprar o medicamento”, disse.
A representante do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Natália Taschner, lembrou que a Covid-19 não é uma sentença de morte e, por isso, não há motivo para recomendar um medicamento que não mostrou eficácia:
“Ela foi testada em células, em animais. Principalmente o modelo animal que foi testado em camundongos transgênicos e em macacos mostrou que ela não funciona, ela não consegue diminuir a carga viral em nenhuma fase da doença. Nem de forma profilática, nem no início dos sintomas, nem na fase intermediária e nem na fase grave”, observou.
Falta de equipamentos
Logo na sua fala inicial, Wanderson de Oliveira afirmou que estão faltando equipamentos para coleta de material biológico para os testes de Covid-19, além de pessoal técnico para análise das amostras. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) criticou então o uso de dinheiro público para promover a cloroquina em detrimento de outras necessidades:
“Inclusive já foram dispensados recursos para a contratação, sem licitação, do medicamento. O que na minha opinião é criminoso. Eu sou cardiologista e sei do que significa isso para a cardiologia, mas também para a retinopatia, para a glicemia. Há uma série de efeitos colaterais e não me parece que cabe a um presidente da República definir um protocolo, assinar um protocolo, a partir do Ministério da Saúde, estabelecendo de forma vertical o uso de um medicamento, tirando autonomia do prescritor, sem evidência científica”, disse a deputada.
Para o deputado General Peternelli (PSL-SP) o ministério só fez uma orientação:
“Quem lê a orientação verifica que os preceitos são os que já tínhamos anteriormente. Depende do médico, depende do paciente. E os protocolos são essenciais nessa votação”, disse.
O secretário Wanderson de Oliveira mostrou gráficos que revelam preocupação futura com o aumento de casos na Bahia, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina e Sergipe. E explicou que não adianta apostar apenas em testes para a saída do isolamento. Os testes eficazes são os testes moleculares e esses não poderão ser feitos na população como um todo.
Monitoramento
Wanderson recomendou que os estados estruturem mais unidades de vigilância epidemiológica, as chamadas unidades sentinela. Existem 238 no país hoje, mas deveriam ser cerca de 500. Estas unidades, que envolvem a ação dos agentes comunitários de saúde, teriam o objetivo de monitorar o aparecimento de sintomas e agir preventivamente:
“Todos os países que estão hoje avançando mais no combate – porque não sabemos se essa epidemia vai ter uma segunda, terceira onda – é no monitoramento de contatos. E isso é uma atribuição da atenção primária e da vigilância juntas. O gestor que está investindo só em UTI, em leitos de respirador... isso não vai ser suficiente. Porque a maior parte do Brasil não vai ter isso. São municípios pequenos e se a gente conseguir que esses municípios não enviem pacientes graves para os grandes centros, a gente diminui a pressão e mais cedo poderemos retomar a nossa vida normal. Aprendendo a conviver com o vírus que está ainda sendo conhecido”, disse.
No futuro, estas unidades, segundo Wanderson, poderão indicar qual tipo de vírus vai estar circulando em determinada região, indicando se a vacina mais apropriada para o local será a do hemisfério Norte ou a do hemisfério Sul, que é o que já acontece com a influenza.
Leitos de UTI
O consultor do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, Leonardo Vilela, pediu à Câmara que se envolva na discussão de uma fila única para leitos de UTI, ou seja, uma otimização da capacidade pública e privada.
Já Fábio Gomes, do comitê científico do Consórcio Nordeste, disse que os mapas de contágio da região mostram um espalhamento da doença em torno das principais rodovias de ligação municipais e interestaduais, o que indicaria que esse deve ser um novo foco para o bloqueio do vírus.
Reportagem - Sílvia Mugnatto
Edição - Régis Oliveira
Foto: Najara Araujo
Caminho Político
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