
Após a Segunda Guerra Mundial, escapou por pouco da pena de morte, sendo condenado a 20 anos de prisão nos Processos de Nurembergue. Libertado em 1966, ele publicou diversos livros apresentando "sua" visão dos fatos. O resumo é que ele nada sabia dos genocídios dos nazistas, e durante o regime só cumpriu seu "dever".Seus livros, em especial Erinnerungen (Memórias) lançado em 1969, assim como, seis anos mais tarde, Spandauer Tagebücher (Diários de Spandau), se tornaram best-sellers, com que ele faturou muito.
Por muito tempo, Vanessa Lapa formou uma imagem errada de Speer, mas nisso não esteve sozinha. Tampouco ela é a primeira pessoa que se ocupa do "fenômeno Speer": um ano antes da morte do nazista, em 1981, o historiador Matthias Schmidt lançou o livro Albert Speer. Das Ende eines Mythos – Speers wahre Rolle im Dritten Reich (O fim de um mito – O verdadeiro papel de Speer no Terceiro Reich).
Seguiram-se outros, sendo o mais recente Albert Speer. Eine deutsche Karriere (Uma carreira alemã), em 2017, de Magnus Brechtken. Essas publicações demonstram como o arquiteto minimizou e falsificou sua participação no nacional-socialismo. E como muitos intelectuais alemães sucumbiram a seu poder sedutor.Não há dúvida de que ele tenha sido responsável pelo genocídio e a morte de tantos nos campos de extermínio. Enquanto ministro responsável, entre outros setores, pela indústria armamentista, é acusado sobretudo de ter aperfeiçoado o sistema de trabalhos forçados, causando a morte de muitos milhões de trabalhadores.
Contudo, mesmo após a morte de Speer manteve-se a lenda do "inocente" Albert Speer. Até mesmo grandes produções cinematográficas como A queda, de 2004, indicada para o Oscar, cuidaram para que a "lenda Speer" perdurasse. Os dados meticulosamente compilados dos historiógrafos praticamente não tiveram ressonância junto ao grande público.
Por dentro do Terceiro Reich
Em 1971, o estúdio cinematográfico americano Paramount planejava filmar as Memórias de Speer. Era grande a tentação de levar às telas o tema nacional-socialismo em combinação com um sobrevivente que pertencera à alta liderança do regime de extrema direita.
Na época com 26 anos, Andrew Birkin (irmão da atriz Jane Birkin, mais tarde bem-sucedido roteirista de O nome da rosa e O perfume, entre outros) encontrou-se com Speer para conversar sobre o roteiro de uma versão cinematográfica do best-seller.
Para seu filme, Vanessa Lapa examinou 40 horas dessa conversa entre Birkin e o líder nazista, nunca publicadas, e as ilustrou com imagens. Ela mostra Speer nos anos após ser libertado, também muito material do Julgamento de Nurembergue, imagens dos campos de concentração e cenas das fábricas de armamentos nazistas. O núcleo da obra, porém, é o longo diálogo, em parte lido por atores.
Aqui fica nítido como Speer conseguia seduzir, "ninar" seus interlocutores: "Ele fala livremente e sem inibições, e 'corrige' o passado enquanto fala", explica a cineasta. "A aura que irradia é de um homem elegante, lembrando antes um nobre rural do que de um genocida de milhões."
Descrevendo o carisma em parte responsável pela criação da lenda, ela afirma que "o segredo está em sua eloquência tranquila, seu intelecto aguçado e sua capacidade inata de encantar e manipular os indivíduos a seu redor, sejam juízes de Nurembergue ou jornalistas, editores e cineastas". "Isso o ajudou a reescrever o passado e sua própria participação nele."
O projeto da Paramount acabou por fracassar. E o estúdio desistiu de uma hora para outra, considerando grande demais o risco de um filme baseado nas "memórias" de um nazista. Entre os que perceberam a tática de Speer, esteve o cineasta britânico Carol Reed (O terceiro homem), que na época se correspondia com Birkin.
Uma década mais tarde, aliás, as memórias de Albert Speer acabaram sendo filmadas para a TV, pela emissora americana ABC, sob o título em inglês do livro, Inside the Third Reich (Por dentro do Terceiro Reich). Estrelada por Rutger Hauer, John Gielgud e Maria Schell, a produção oferece um olhar mais crítico e distanciado da versão da história vendida pelo arquiteto do Holocausto.
Jochen Kürten (av)Caminho Político
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