![Charlie Hebdo, cinco anos depois, desenho de Guillaume Doizy](https://www.dw.com/image/51905486_303.jpg)
O atentado dos irmãos Chérif e Said Kouachi, que até então tinham se destacado como pequenos criminosos nos subúrbios de Paris, se dirigia ao periódico que ousara publicar caricaturas de Maomé.
![Bernd Pohlenz](https://www.dw.com/image/51900919_404.jpg)
"O ataque terrorista parisiense provocou um choque paralisador, um sentimento de, sem ser consultado, se pertencer ao pessoal de uma guerra entre dois mundos conflitantes. Para muitos artistas, a mídia com que trabalhavam ganhou, de repente, o significado de uma arma. Eles se viam como soldados no campo de batalha", afirma, lembrando, entretanto, que quase todos os cartunistas voltaram a sua vida cotidiana já depois de algumas semanas, sem qualquer "tesoura na cabeça".
O caso Rushdie
![Chefes de Estado e governo em marcha em Paris](https://www.dw.com/image/18184537_401.jpg)
A obra provocou uma série de protestos e atos de violência por parte dos muçulmanos. O líder religioso iraniano aiatolá Ruhollah Khomeini emitiu uma fatwa contra Rushdie, um decreto religioso exigindo a morte do escritor, sob a alegação de que o livro era "contra o Islã, o profeta Maomé e o Corão".No campo das caricaturas, a primeira celeuma internacional foi em 2005, quando o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou 12 desenhos satíricos de Maomé – por exemplo, com uma bomba em lugar de turbante –, mais tarde também divulgados na Noruega. Dois dos ilustradores tiveram que se esconder devido a ameaças. O então primeiro-ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, apoiou o jornal e rejeitou o pedido para uma conversa com embaixadores de 11 países islâmicos.
![Guillaume Doizy](https://www.dw.com/image/51905390_404.jpg)
Segundo Guillaume Doizy, a maioria dos muçulmanos também pode rir sobre caricaturas religiosas – e se ficarem irritados, que seja como um cristão ou um budista quando sua religião é retratada satiricamente. "Mas sempre há um pequeno grupo que usa essa ocasião para reforçar suas crenças religiosas e manipular as pessoas", avalia o especialista, frisando que, nesse caso, o que há de se fazer é mostrar atitude e seguir em frente.
Festa de 50 anos sob proteção policial
Também os editores sobreviventes do Charlie Hebdo voltaram à carga uma semana após o ataque, com uma nova edição da revista. A capa mostrava um Maomé desconsolado segurando um cartaz escrito "Je suis Charlie", sob o título "Tudo está perdoado".
A circulação do jornal, que era antes um produto de nicho antes do 7 de janeiro de 2015, subiu temporariamente para vários milhões de cópias. Por algum tempo, houve até uma edição alemã. Desde então, os números de vendas caíram novamente, e a edição alemã deixou de circular.
"O humor é algo suspeito para muitos, e isso não se aplica apenas aos muçulmanos", diz Riss, também conhecido como Laurent Sourisseau, sobrevivente do atentado e atual editor-chefe do jornal, que celebrará seu 50º aniversário em 2020 – em local secreto e sob proteção policial. A sátira continua sendo uma luta.
"Já desde a celeuma provocada pelas caricaturas dinamarquesas, e no mais tardar desde o atentado contra o Charlie Hebdo, as charges ganharam mais a atenção da opinião pública", diz Guillaume Doizy.
"As charges têm perdido espaço na imprensa, e 2019 foi um ano particularmente sombrio", lamenta Claire Carrard, presidente da associação Cartooning for Peace. Ela lembra que o renomado jornal New York Times não publica mais caricaturas em sua edição internacional desde meados de 2019, depois que um desenho foi considerado antissemita. Ele mostrava o presidente americano, Donald Trump, portando uma quipá e levando o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, como cachorro na coleira.Na opinião de Guillaume Doizy, não é só por causa do debate sobre conteúdo que o New York Times suspendeu a publicação de charges. Para ele, o cartum é um gênero moribundo: "O desenho da imprensa era o meio dos séculos 19 e 20. Hoje as pessoas querem ver fotos e vídeos."
Diante da queda da circulação, as editoras tampouco querem irritar seus leitores e anunciantes – pois as shitstorms na internet estão hoje na ordem do dia. "O número de ataques verbais, ou seja, xingamentos, ameaças e intimidações aumentou muito, muito", confirma Juliane Matthey, assessora de imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras.
Apesar de tudo, para Bernd Pohlenz a charge continua tendo um futuro: os desenhistas têm a vantagem de poder oferecer arte relativa a temas da atualidade, e encontram uma simbiose cada vez maior com centros culturais, galerias e museus: "Os caricaturistas são muito criativos nesse ponto."
Suzanne Cords (md)Caminho Político
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