A pitoresca Görlitz, no leste da Alemanha, é palco de um drama político: a cidade pode ser a primeira do país a ter um membro da AfD no comando da prefeitura. Associações de turismo e cinema temem vitória de populista.Quem visita Görlitz pela primeira vez tem a sensação de que já conhece a cidade. Os edifícios antigos adornam um centro histórico repleto de ruas de paralelepípedos – e um imponente prédio da prefeitura se situa bem no meio dele.
A bela paisagem urbana não atrai somente turistas para a pequena cidade alemã localizada no estado da Saxônia, na fronteira com a Polônia. Cineastas estrangeiros descobriram há bastante tempo a chamada "Görliwood" e usam o local como cenário para seus filmes. Mas, agora, a própria prefeitura tornou-se palco de um drama político. Para Görlitz, nada menos que a imagem da cidade está em jogo. E isso se deve ao político Sebastian Wippel, que concorre ao cargo de prefeito pelo partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Wippel, de 37 anos, é popular entre os cerca de 56 mil habitantes da cidade. O ex-comissário da polícia e deputado do parlamento estadual teve 36,4% dos votos no primeiro turno da eleição para prefeito.
Se for eleito no segundo turno neste domingo (16/06), ele será o primeiro membro da AfD a governar uma cidade – e isso tem tirado o sono de muitos cidadãos de Görlitz. "Não é preciso ter medo da AfD", afirmou Wippel à DW. "Somos cidadãos conservadores comuns, e não pessoas que caçam outras nos arredores."
Contudo, ele e outros membros de seu partido já fizeram uso de comentários inflamados nesse sentido. "Vamos caçar [a chanceler federal alemã] Angela Merkel", anunciou o líder da AfD, Alexander Gauland, após as eleições nacionais de 2017. Os membros da legenda populista fazem repetidamente provocações usando comentários nacionalistas e racistas.
Tudo isso não deve mudar agora com a eleição de Wippel como prefeito da cidade, afirma principalmente seu candidato opositor. "Muitos estão olhando para Görlitz. Trata-se da direção a ser tomada para o futuro", diz Octavian Ursu, da União Democrata Cristã (CDU), partido de Merkel, que recebeu 30,7% dos votos no primeiro turno. Ele vive em Görlitz há 30 anos.
Desde o início da campanha eleitoral, Ursu, nascido na Romênia, tem ouvido críticas por não ser nativo de Görlitz. Para o candidato, é a imagem da cidade que está em jogo neste duelo entre ele e Wippel. "Vamos continuar sendo uma sociedade aberta ou vamos nos fechar, a exemplo do que a AfD propaga?", questiona.
Mesmo com a liderança de Wippel no primeiro turno, Ursu ainda acredita na vitória e já estabelece alianças com outros partidos e cidadãos de Görlitz.A AfD não arrisca somente prejudicar a reputação da cidade, mas também as pessoas que ganham com a atratividade turística da localidade pitoresca, que recebe quase 300 mil turistas por ano.
"Temos medo de que os hóspedes se sintam desencorajados a visitar o local se um partido específico prevalecer", conta Martin Vits, da Associação de Turismo de Görlitz. A indústria de turismo da cidade publicou uma carta a fim de impedir a vitória do candidato da AfD.
Essa não foi a única associação que se fez presente na campanha eleitoral: a indústria cinematográfica internacional também pediu aos eleitores de Görlitz que não escolham o candidato da AfD.
"Eu já terei sucesso se alcançar uma ou duas pessoas", explica Michael Simon de Normier, o proponente da carta, em entrevista à DW. Stephen Daldry – diretor do premiado longa O leitor, filmado em Görlitz – também apoia a iniciativa.
Enquanto estrelas do cinema e da música alemã participam da campanha política local, os eleitores da cidade se juntam em duas frentes distintas. "Eu votaria na AfD para dar uma lição nos partidos estabelecidos", dizem alguns nas ruas. Já outros afirmam: "Quem preza por um mundo aberto vota na CDU."
Mas há algo que vai muito além da batalha pela prefeitura da cidade: o estado da Saxônia, onde se localiza Görlitz, está prestes a eleger seu parlamento estadual, em eleições marcadas para 1º de setembro, e a AfD está à frente nas pesquisas. Assim, o pleito em Görlitz é considerado um primeiro ensaio para a votação regional.
O partido tem ainda candidatos promissores em outros estados do leste alemão, que também devem eleger novos parlamentos no segundo semestre. É apenas uma questão de tempo até que os populistas de direita consigam chegar ao poder na parte leste da Alemanha. Mas os eleitores de Görlitz têm agora em suas mãos uma decisão importante: se a cidade representará o início desse processo.
Maximiliane Koschyk, Linda Vierecke (fc)/Caminho Político
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