Bióloga e militante em defesa dos direitos humanos, Pia Klemp ajudou a resgatar mais de mil refugiados no Mediterrâneo. Processo contra ela pode resultar, segundo advogado, em até 20 anos de prisão. Quase 60 mil pessoas já assinaram uma petição exigindo que a Itália suspenda o processo contra a capitã de navio e ativista dos direitos humanos alemã Pia Klemp e outros membros de sua tripulação, que salvaram numerosos migrantes no Mar Mediterrâneo.
Em entrevista ao jornal suíço Basler Zeitung, nesta sexta-feira (07/06), ela revelou que, segundo seu advogado, estaria sujeita a "até 20 anos de prisão e multas horrendas", depois de ser acusada na Sicília de ajudar a imigração ilegal. No entanto está disposta a combater judicialmente, indo até a Corte Europeia de Direitos Humanos, em Estrasburgo, se necessário.
Klemp, de 35 anos, está sendo investigada na Itália desde que seu navio, o Iuventa, foi apreendido em meados de 2017, e o governo decidiu bani-la de navegar no litoral italiano. Segundo a emissora alemã WDR, através de seu trabalho nesse navio e no Sea-Watch 3, a também bióloga natural de Bonn ajudou a salvar mais de mil pessoas em risco de afogamento, que navegavam em botes e barcos inseguros, tentando chegar da África à Europa na esperança de uma vida melhor.
O governo de Roma, já avesso à imigração, tornou-se ainda mais radical em junho de 2018, quando o recém-empossado ministro do Interior Matteo Salvini prometeu uma ofensiva jamais vista na Itália contemporânea. Desde que assumiu, o político da ultradireitista Lega tudo tem feito para impedir navios de resgate de migrantes de aportarem nas praias italianas ou permitirem o embarque de refugiados.
Em janeiro, o líder nacionalista fez manchetes por forçar a evacuação de centenas de solicitantes de asilo do segundo maior centro de refugiados do país, recusando-se a esclarecer seus paradeiros. Muitos viviam há anos em Castelnuovo di Porto, estando bem integrados na vida da cidade. Pouco mais tarde, promotores italianos determinaram que Salvini poderia ser indiciado por sequestro de mais de 177 migrantes, ao impedir seu desembarque de um navio cuja apreensão ele ordenara.
Na entrevista, Klemp comentou estar especialmente frustrada por os custos processuais – de várias centenas de milhares de euros, obtidas de suas próprias economias e algumas novas doações, para o que "provavelmente será um processo de fachada durando anos" – serem dinheiro que poderia estar sendo empregado em missões de resgate.
"Mas o pior já aconteceu: as missões de resgate marítimo foram criminalizadas." Por esse fato, a capitã alemã culpa não só o governo italiano, mas também o que considera uma falha da União Europeia "em lembrar os valores com que se comprometeu: direitos humanos, direito à vida, a uma solicitação de refúgio, e o dever dos marinheiros de resgatar quem está em perigo no mar".
Acusando "demagogos" como Salvini, o ex-chanceler federal austríaco Sebastian Kurz e o ministro alemão do Interior Horst Seehofer de efetivamente permitir que milhares morram no Mediterrâneo a cada ano, ela rechaçou as críticas de que as missões de resgate encorajariam mais migrantes a tentarem a perigosa travessia.
"Há estudos científicos rebatendo a ideia de que os resgates marítimos tenham um assim chamado 'fator atrativo'. As pessoas vêm porque, infelizmente, há tantas razões para fugir. E vêm via Mediterrâneo porque não há nenhum modo legal de chegar aqui", se os países da UE fecham suas fronteiras.
Para ajudar a cobrir os potencialmente exorbitantes custos processuais, o Café Bla de Bonn anunciou uma campanha de angariação de fundos: para cada "cerveja Pia" vendida, 50 centavos de euro serão doados à antiga garçonete Klemp.
Elizabeth Schumacher (av)Caminho Político
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