O Presidente congolês vai abandonar o cargo após as presidenciais de 23 de dezembro, mas isto não significa que não voltará a candidatar-se. E a oposição teme que Joseph Kabila governe "na sombra" até lá.O Presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, vai deixar o cargo após as eleições deste mês, mas espera continuar ativo na resolução dos problemas que esta "complicada nação" enfrenta. Em entrevista à agência de notícias Associated Press, o chefe de Estado congolês não descarta totalmente uma nova candidatura: e será elegível para as presidenciais em 2023.
"Não vou descartar nada na vida", disse Joseph Kabila. "Desde que se esteja vivo e se tenha ideias fortes, uma visão, nunca se deve descartar nada".
Kabila afirma que fez o que podia em benefício da RDC desde que chegou ao poder, em 2001, depois do assassinato do seu pai, Laurent Kabila. Mas admite que ainda há mais a fazer.
Declarações deste género preocupam a oposição congolesa, que teme que Joseph Kabila governe nos bastidores após abandonar a Presidência, caso o seu potencial sucessor favorito e antigo ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary, vença a 23 de dezembro.
Jospeh Kabila, de 47 anos, desvaloriza estas preocupações, afirmando que a Constituição deixa claro que este tipo de esquema não é possível. Ainda assim, serve de autoridade moral para a recém-criada coligação política Frente Comum para o Congo, mantendo-se perto do poder.O actual chefe de Estado poderá concorrer novamente à Presidência em 2023, já que a Constituição da RDC proíbe apenas três mandatos sucessivos. Para já, afirma que deverá manter-se no papel de conselheiro: "Se alguém quiser os meus conselhos, espero que venham ter comigo e perguntem".
A perspectiva de mais Kabila nos próximos anos traz à memória de muitos congoleses o longo regime de Mobutu Sese Seko, que liderou o país durante mais de três décadas. Kabila, por sua vez, defende o seu legado, apontando para vitórias eleitorais anteriores, e parece estar a ponderar o futuro – qualquer que seja o seu papel. "O trabalho neste país nunca chegará ao fim", considera.
Uma transição problemática
Agora, uma nova epidemia de ébola, a segunda maior da história, representa uma nova ameaça à eleição, cujos adiamentos desde 2016 levaram a protestos, muitas vezes mortíferos, contra a permanência de Joseph Kabila no poder além do fim do seu mandato. O Governo justificou os atrasos com as dificuldades na organização das eleições perante o surgimento de uma nova onda de insurgência violenta.Os críticos dos adiamentos " deviam ser humildes o suficiente para perceberem que o Congo é, em si, um desafio e que o processo eleitoral é um desafio ainda maior", diz Kabila. Qualquer país, sejam os Estados Unidos ou a França, dariam prioridade à segurança e não às eleições, acrescenta.
Indignados com a pressão em casa e na comunidade internacional – incluindo sanções da União Europeia contra Shadary por obstrução ao processo eleitoral congolês e repressão de manifestantes – Kabila e a sua administração têm vindo a rejeitar o que classificam como interferência nos assuntos internos da RDC e prometeram financiar esta eleição sozinhos, sem fundos externos.
Kabila considera que as sanções contra aquele que é considerado o seu delfim são "injustas e ilegais". Shadary ou quem quer que seja eleito "será Presidente deste país e não presidente da Europa. Deus nos livre", diz Kabila, entre risos. A cooperação com a Europa, ainda assim, continuará, "para que um dia eles vejam a luz, porque estão na completa escuridão. Ou talvez deva dizer que estão num estado de negação".
Numa aposta ambiciosa – e, para muitos, preocupante – o país vai também utilizar máquinas de voto pela primeira vez nesta eleição, levantando questões entre especialistas, diplomatas e organizações de defesa dos direitos humanos sobre a forma como este país de 40 milhões de eleitores e fracas infraestuturas poderá ter sucesso.
Os dois principais partidos da oposição congolesa uniram forças depois de abandonarem um pacto mais abrangente para apoiar um único candidato. Félix Tshisekedi representa o seu partido – o mais proeminente do país – e também o de Vital Kamerhe. Fayulu Madidi é o outro candidato da oposição. Muitos temem que esta divisão possa diminuir as hipóteses de derrotar Shadary.
AP, mjp/cp
Comentários
Postar um comentário