Primeiro-ministro de Israel nega acusações "de suborno, fraude e abuso de confiança" contra ele e sua esposa num caso de manipulação da mídia. Líderes da oposição exigem demissão de premiê e antecipação de eleições. A polícia de Israel recomendou neste domingo (02/11) que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu seja acusado no caso conhecido como 4000, que investiga se ele recebeu cobertura positiva do site de notícias Walla em troca de favores a seu proprietário, informou a polícia em comunicado. A polícia afirmou ver indícios suficientes para acusar o chefe de governo "de suborno, fraude e abuso de confiança" e também para o indiciamento do acionista majoritário do grupo Bezeq e do site de notícias Walla, Shaul Elovitch.
"A principal suspeita é que o primeiro-ministro aceitou suborno e agiu num conflito de interesses, intervindo e atuando em decisões reguladoras que favoreceram Shaul Elovitch e o Grupo Bezeq, e, ao mesmo tempo, exigiu direta e indiretamente interferir no conteúdo do site Walla de forma que se beneficiasse", afirmou a polícia na nota.
Segundo a polícia israelense, "a evidência no caso indica que a relação entre o primeiro-ministro e seus associados próximos com o senhor Shaul Elovitch foi uma relação de suborno".
A polícia acredita que o chefe de governo israelense e seus associados "intervieram de maneira flagrante e contínua, e em algumas ocasiões inclusive diariamente, no conteúdo publicado pelo site Walla News, e também tentaram influenciar na nomeação de altos funcionários (editores e repórteres)" entre 2012 e 2017.
Essas intervenções "tiveram como objetivo promover os interesses pessoais do primeiro-ministro mediante a publicação de artigos e fotos aduladoras, eliminando o conteúdo crítico sobre ele e sua família".
A polícia conclui que "há indícios suficientes para sustentar as suspeitas contra as partes envolvidas". No caso do primeiro-ministro, por cometer "crimes de suborno, fraude e abuso de confiança e aceitar de maneira fraudulenta as circunstâncias agravantes". Quanto à sua mulher, Sara, os investigadores também consideram que há provas para uma acusação de "suborno, fraude, abuso de confiança e a interrupção de procedimentos de investigação e judiciais".
Em fevereiro, a polícia israelense recomendou ao Ministério Público que acusasse Netanyahu de suborno, fraude e abuso de confiança em outros dois casos pelos quais ele era investigado há um ano.
Benjamin Netanyahu negou neste domingo o seu envolvimento e o de sua esposa no caso de corrupção conhecido como 4000. "Tenho certeza que, também desta vez, as pessoas competentes, depois de investigarem o assunto, chegarão à mesma conclusão: que não vão encontrar nada porque não há nada", declarou Netanyahu através do Twitter.
O chefe do governo israelense afirmou que essas recomendações "não têm nenhum peso judicial" e que em ocasiões anteriores, que também envolviam personalidades públicas, elas foram rejeitadas "de forma absoluta".
"As recomendações da polícia a respeito da minha mulher e de mim não causam surpresa a ninguém, nem o momento preciso em que foram feitas públicas. Estas foram decididas e vazadas inclusive antes do início das investigações", escreveu o premiê.
Depois da recomendação da polícia, líderes da oposição pediram neste domingo a demissão de Netanyahu acusado de corrupção e solicitaram que as eleições sejam antecipadas.
"Suborno! A polícia israelense recomenda a apresentação de uma acusação de suborno contra o primeiro-ministro Netanyahu, que deve sair antes que ele destrua as agências de segurança para salvar a sua própria pele. O povo judeu merece uma liderança limpa. Eleições já", exigiu na sua conta do Twitter Tzipi Livni, líder do Campo Sionista, principal força de oposição no Parlamento em Tel Aviv.
"Netanyahu se transformou num peso para Israel. Deve renunciar. Um primeiro-ministro com tantos casos de corrupção em seu entorno não pode continuar no cargo e deve renunciar. Uma pessoa movida por uma obsessão mórbida em relação ao que é dito sobre ela nos veículos de comunicação não pode dirigir o Estado de Israel", criticou o secretário-geral do partido trabalhista, Avi Gabai, também no Twitter.
Por sua vez, a presidente do partido de esquerda Meretz, Tamar Zalber, afirmou que se trata da terceira "situação de suborno e a mais grave. O primeiro-ministro israelense, que está envolvido num dos casos mais graves, não pode continuar nem mais um dia no cargo. Deve renunciar hoje, Israel tem que realizar eleições".
Já o líder da Lista Unida, o deputado árabe Ayman Odeh, afirmou que o lugar de Netanyahu "é na prisão e, claro, não na residência do primeiro-ministro. Um primeiro-ministro que só está ocupado em divulgar o ódio e o medo, e os interesses próximos de sua família, já perdeu sua legitimidade. Deve ser expulso imediatamente".
Especula-se agora a possibilidade de esta situação resultar na convocação de eleições antecipadas, apenas algumas semanas depois que Netanyahu conseguiu evitá-la, devido à crise gerada pela renúncia de Avigdor Lieberman como ministro da Defesa e que deixou o governo de coalizão com maioria simples no Parlamento.
CA/efe/lusa/cp
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