
Sim, a eleição de Merkel como chanceler significou um ponto de virada na Alemanha. Sim, em seu entorno imediato, a chefe de governo deu estímulo às mulheres, escolhendo uma delas para ser até mesmo a primeira ministra da Defesa do país.
E não, ela nunca rezou pela cartilha de nenhum homem – não importa se eles se chamam Gerhard Schröder, Vladimir Putin ou Donald Trump.
Mas a mulher mais poderosa do mundo raramente exerceu a sua autoridade em termos de política para mulheres e apostou por muito, muito tempo, em compromissos voluntários em vez de cotas obrigatórias – no setor econômico ou em seu partido, a União Cristã Democrática (CDU).
Atualmente, a sua própria legenda a vê como masculina demais e reconhece estar perdendo eleitoras e que precisa agir. Finalmente! Mas priorizar a política para mulheres já é outra coisa.
Ainda há muito a fazer na Alemanha. O país precisa de um novo sistema tributário. Um que não recompense quando as esposas ganham pouco ou até mesmo ficam em casa. A desigualdade salarial entre homens e mulheres, que na Alemanha é maior que em qualquer outro país da Europa, precisa ser finalmente eliminada.
E é preciso introduzir urgentemente modelos de partilha do trabalho em posições de chefia, como também escolas de tempo integral por todo o país – a lista é longa.
Para que isso aconteça, é necessário que as mulheres se envolvam na política, que participem e sirvam de modelo. Essa é uma tarefa difícil e, nas atuais estruturais, não é praticável sem aliados: homens, como o marido da secretária-geral da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer.
Ele desistiu de seu emprego para que a esposa pudesse começar a carreira política. Atentar para a escolha do parceiro é um conselho ainda muito pouco seguido pelas mulheres.
Nas eleições gerais alemãs de 2017, a abstenção feminina foi maior que a masculina. Abster-se não é alternativa! As eleitoras precisam estar cientes de seu poder e usá-lo.
Elas precisam mostrar o cartão vermelho para as alianças masculinas na política. Com seus votos, elas devem valorizar homens e mulheres que não pratiquem uma política autoritária, que levem os problemas delas a sério e que queiram resolvê-los.
E os homens precisam finalmente entender que política para mulheres também é de sua conta! Que para eles também vale a pena lutar por isso. Um exemplo é o mercado de trabalho: em grandes empresas alemãs, a partir de 2019, há a possibilidade legalmente assegurada de voltar a trabalhar integralmente, após um período a tempo parcial.
Isso também permite aos homens horários de trabalho mais flexíveis – uma pequena revolução para muitas famílias.
Para a atividade política, essa revolução começou há 100 anos com o sufrágio feminino passivo (de candidatar-se) e ativo (de votar). A mensagem disso não perdeu a sua atualidade: um Parlamento no qual as mulheres estão sub-representadas não espelha a sociedade – e perde, portanto, a sua legitimidade no longo prazo.
Isso prejudica a democracia. Principalmente em tempos em que ela está sendo é atacado por muitos.
Anja Brockmann é jornalista da Deutsche Welle.
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