Acusados de abusos sexuais, ex-bispos se somam a outros clérigos do país exonerados pelo pontífice. Chile apura dezenas de casos de assédio na Igreja Católica, que levaram toda a cúpula eclesiástica chilena a renunciar. O papa Francisco expulsou do sacerdócio neste sábado (13/10) os ex-bispos chilenos Francisco José Cox Huneeus, de 85 anos, da cidade de La Serena, e Marco Antonio Órdenes Fernández, de 54 anos, de Iquique, ambos acusados de abusos sexuais. O Vaticano informou que o pontífice "renunciou ambos do estado clerical", medida que os expulsa do sacerdócio, depois de terem sido submetidos a uma investigação da Congregação para a Doutrina da Fé, órgão da Santa Sé. Essa é a punição mais severa da Igreja Católica contra um membro do clero e é raramente adotada contra bispos.
As duas expulsões se somam às dos sacerdotes chilenos Fernando Karadima Fariña e Cristián Prech, confirmadas nas últimas semanas.
"A decisão foi tomada pelo papa Francisco em 11 de outubro e não admite recurso", comunicou o Vaticano, que comunicou a medida logo após o pontífice ter recebido o presidente do Chile, Sebastián Piñera, em audiência privada.
Cox Huneeus está aposentado e vive desde 2002 em um mosteiro na cidade de Vallendar, na Alemanha, pertencente a uma congregação do Movimento de Schönstatt. Ele foi transferido ao local para viver uma vida de "silêncio, oração e penitência" quando começaram a circular as primeiras acusações.
Em 2004, Cox Huneeus foi acusado de abusos sexuais contra menores de idade no Chile. Mais recentemente, a Congregação para a Doutrina da Fé abriu uma nova investigação contra o bispo aposentado, dessa vez envolvendo abusos contra um menino de 17 anos na Alemanha.
O Movimento de Schönstatt em Santiago, capital do Chile, disse ter recebido a notícia sobre a expulsão de Cox Huneeus com "muita vergonha pelos danos causados às vítimas". Afirmou, no entanto, que o ex-arcebispo deve seguir um membro da comunidade de sacerdotes Padres de Schönstatt, por desejos da congregação de mantê-lo sob seus cuidados.
Órdenes Fernández, por sua vez, foi acusado de cometer abusos sexuais contra um menino, levando-o a renunciar ao cargo de bispo de Iquique anos atrás. A renúncia foi aceita pelo então papa Bento 16 em 2012, mas até então ele seguia um membro da Igreja. Acredita-se que ele ainda more no Chile.
A decisão de Francisco foi anunciada após uma reunião entre o pontífice e o presidente chileno no Vaticano, onde foi discutida a crise de abusos sexuais envolvendo membros do clero no país.
"Compartilhamos a esperança de que a Igreja possa passar por um renascimento e recuperar o carinho e a proximidade do povo de Deus, para que continue desempenhando o importante papel que ela tem em nosso país", afirmou Sebastián Piñera a repórteres.
A Igreja Católica chilena, por sua vez, pediu perdão neste sábado às famílias e às comunidades do país que "sofreram abusos e danos causados pelos bispos".
Vários membros da Igreja Católica do Chile envolvidos em casos de abuso, incluindo alguns bispos, levaram o clero chileno à pior crise da sua história.
Em maio, todos os 34 bispos chilenos apresentaram a sua renúncia depois de três encontros com o papa Francisco, no Vaticano, na sequência de uma série de erros e omissões na gestão de casos de abuso sexual. Até então, o pontífice aceitou sete demissões.
De acordo com um relatório publicado no final de agosto, existem no Chile 119 investigações em curso contra 167 pessoas relacionadas com a Igreja e 178 vítimas identificadas, 79 das quais eram menores quando os casos ocorreram.
Nos Estados Unidos, a Igreja Católica também vem lutando contra um grande escândalo de abusos. Na sexta-feira, foi anunciado que o papa Francisco aceitou a renúncia do arcebispo de Washington. O cardeal Donald Wuerl estava sob pressão há semanas porque estaria envolvido no encobrimento de casos de abuso no clero durante seu tempo em que foi bispo de Pittsburgh, na Pensilvânia.
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