Jornalista crítico da Arábia Saudita desapareceu no consulado saudita em Istambul, onde teria sido assassinado por agentes enviados por Riad. Entenda o caso. Quem é Jamal Khashoggi? O jornalista saudita se tornou conhecido com seus artigos publicados em veículos em inglês sobre o mundo árabe e, especialmente, sobre a Arábia Saudita. No país árabe, Khashoggi trabalhou como jornalista durante muito tempo e chegou a ser assessor do ex-chefe do serviço secreto, o príncipe Turki al-Faisal. Devido às críticas à família real e ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o jornalista temia ser preso e, no ano passado, se mudou para os Estados Unidos.
Ele escreveu artigos de opinião e colunas para o Washington Post. Em setembro do ano passado, Khashoggi explicou num artigo: "Abandonei minha casa, minha família e meu trabalho e estou erguendo a minha voz. Agir de outra forma significaria trair a todos aqueles que estão na prisão. Enquanto muitos não podem falar, eu posso".
Como o jornalista desapareceu?
Jamal Khashoggi foi ao Consulado da Arábia Saudita em Istambul no dia 2 de outubro por volta das 13h para providenciar a documentação necessária para o casamento com sua noiva, a turca Hatice Cengiz. Após sete horas e meia sem notícias de Khashoggi, Cengiz informou a polícia turca. Os investigadores analisaram vídeos filmados no entorno do prédio do consulado e abriram uma investigação oficial no último sábado (06/10).No dia do desaparecimento de Khashoggi, o editor de opiniões internacionais do Washington Post, Eli Lopez, publicou declaração de que não conseguia entrar em contato com o colunista.
Segundo a agência Associated Press, fontes turcas afirmam temer que agentes sauditas de um comando especial que se deslocou a Istambul tenham assassinado e esquartejado Khashoggi. A Arábia Saudita negou as alegações de assassinato, mas não forneceu evidências de que ele teria deixado o consulado.
Fontes da polícia turca disseram à agência de notícias Reuters que 15 agentes sauditas chegaram a Istambul em dois aviões no dia em que Khashoggi foi ao consulado. Segundo o jornal turco conservador e pró-governo Yeni Safak, eles teriam visitado o consulado enquanto o jornalista ainda estava dentro do edifício. As supostas identidades dos cidadãos sauditas foram reveladas pelos meios de comunicação turcos. Eles teriam deixado o país pouco tempo depois do desaparecimento de Khashoggi.
Khashoggi teria começado a ser esquartejado ainda vivo, segundo o jornal, que cita uma suposta gravação de áudio da tortura. O diário diz que o crime foi cometido na presença do cônsul Mohammed al-Otaibi, que partiu na última terça-feira para Riad.
Serviços de segurança na Turquia vêm usando a imprensa pró-governo para vazar detalhes do caso de Khashoggi, aumentando a pressão sobre a Arábia Saudita.
O que dizem as autoridades turcas?
O presidente Recep Tayyip Erdogan explicou que ele e Khashoggi são amigos de longa data e apontou para as investigações das autoridades turcas. Erdogan exortou as autoridades sauditas a comprovarem que Khashoggi deixou o consulado.
O ministério turco do Exterior comunicou que as autoridades sauditas estão cooperando e que autorizaram averiguações no consulado. A equipe policial turca realizou buscas no local na segunda-feira (15/10), mas teve que esperar durante horas diante da residência consular no dia seguinte, sendo obrigada a cancelar as investigações porque não se conseguiu contato com as autoridades sauditas.
O ministro turco do Interior, Süleyman Soylu, pediu nesta quarta-feira paciência para o esclarecimento do desaparecimento de Khashoggi. Soylu disse "saber o que aconteceu", mas quer esperar o resultado das investigações.
O ministro das Relações Exteriores, Mevlüt Çavusoglu, disse após reunião com seu homólogo americano, Mike Pompeo, que não vai comentar os relatos da imprensa turca sobre o caso. "Esperaremos o final da investigação. Estão escrevendo muitas coisas. Nós temos as nossas informações, de fontes de inteligência, sobre uma equipe de 15 pessoas que veio e que foi embora", disse.
Qual foi a reação da Arábia Saudita?
Até agora, as autoridades sauditas negaram todas as suspeitas no caso Khashoggi. O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman disse à rede de televisão Bloomberg que "não tem nada a esconder" e que seu país autorizará as investigações no consulado em Istambul.
Porém, veículos da imprensa americana relataram que os sauditas poderão admitir que o jornalista foi morto durante um interrogatório desastrado.
Segundo a agência Reuters, que cita o jornal online saudita Sabq, o cônsul-geral da Arábia Saudita em Istambul foi demitido do cargo nesta quarta-feira e será investigado. O diário não deu detalhes sobre os motivos da apuração.
Como está a pressão internacional?
Até agora, os Estados Unidos, a União Europeia e as Nações Unidas se pronunciaram sobre o caso.
O Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, viajou a Riad e a Ancara para conversar com as autoridades dos respectivos países sobre o caso e outros assuntos. Ele não falou com repórteres após encontro com o presidente e o ministro das Relações Exteriores da Turquia nesta quarta. Pompeo exortou o governo saudita a apoiar as investigações e a divulgar os resultados. Já a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, disse esperar transparência das autoridades sauditas no esclarecimento do caso.
O ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, suspendeu uma viagem planejada à Arábia Saudita à espera do resultado das investigações.
Quais as consequências para a relação entre Turquia e Arábia Saudita?
Atualmente, não há crise entre a Turquia e a Arábia Saudita, mas a relação entre os dois países é fria e distante há algum tempo.
A Turquia ofereceu proteção a membros da Irmandade Muçulmana, depostos por um golpe em 2013 no Egito. Já Riad vale como um dos maiores apoiadores do presidente egípcio Abdulfattah al-Sisi, principal responsável pela deposição. Em 2014, a Arábia Saudita colocou a Irmandade Muçulmana em sua lista de organizações terroristas.
Os dois países também divergem sobre o relacionamento com o grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Enquanto a Turquia inclui o Hamas entre seus parceiros de diálogo, Riad adota postura nitidamente mais distante.
Em relação ao Irã, Riad enxerga Teerã como seu maior inimigo na região. Já Ancara busca aproximação com a liderança iraniana.
De acordo com o New York Times, autoridades ligadas à Casa Branca disseram estar preocupadas com o fato de o caso poder desencadear um confronto com o Irã e ameaçar planos de pedir auxílio à Arábia Saudita para evitar perturbações no mercado internacional de petróleo. Os Estados Unidos deverão impor novas sanções ao Irã no dia 5 de novembro, com a intenção de cortar todas as exportações de petróleo do país.
"Mas, para que a estratégia funcione, o governo está contando com sua relação com os sauditas para manter o petróleo mundial fluindo sem aumentar os preços e para trabalhar numa nova política para conter o Irã no Golfo Pérsico", diz artigo do jornal.
RK/dw/dpa/ap/efe/ots/cp
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