Imigrantes foram alvos de ataques de brasileiros durante o sábado em Pacaraima. Governo federal anuncia construção de abrigo fora da cidade. Após o conflito que ocorreu no sábado (18/08) em Pacaraima, no norte de Roraima, 1.200 venezuelanos deixaram a cidade, de acordo com informações do Exército. Ao longo do dia, grupos de brasileiros armados com pedras, paus e bombas caseiras atacaram venezuelanos e incendiaram acampamentos dos imigrantes na cidade. Não houve feridos. O conflito começou após um comerciante local ter sido assaltado e agredido por quatro venezuelanos.
O comando da Operação Acolhida, uma força-tarefa logística e humanitária para tratar da crise migratória na região, informou ainda que durante o conflito o posto de controle entre a Venezuelana e Brasil chegou a ser fechado.
Neste domingo (19/08), a situação era mais tranquila na cidade. O posto de identificação e recepção da Polícia Federal na fronteira funciona normalmente.
Medidas
A escalada de violência na região foi tema de uma reunião convocada neste domingo pelo presidente Michel Temer no Palácio da Alvorada.
Após o encontro, o governo anunciou medidas para conter a violência em Roraima e lidar com os milhares de imigrantes venezuelanos que regularmente chegam ao Estado fugindo da crise no país vizinho.
Segundo nota da Presidência, será enviado para a região um reforço de 120 homens da Força Nacional, além de 36 voluntários da área da saúde para atendimento aos imigrantes venezuelanos.
O governo também afirmou que vai trabalhar para enviar os venezuelanos para outros Estados, além de estabelecer um “abrigo de transição” entre Boa Vista e Pacaraima, “de forma a reduzir o número de pessoas nas ruas”. Ou seja, um abrigo fora da cidade.
A nota diz ainda que o governo continua em condições de empregar as Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em Roraima. Por força de lei, tal iniciativa depende da solicitação expressa da governadora do estado.
Venezuela reage
O conflito no sábado chegou a provocar uma manifestação do governo venezuelano, que pediu que as autoridades brasileiras protegessem seus cidadãos.
De acordo com a chancelaria venezuelana, foram solicitadas ao Ministério de Relações Exteriores do Brasil "garantias correspondentes aos nacionais venezuelanos e medidas de resguardo e segurança de seus familiares".
O governo da Venezuela expressou ainda "preocupação pelas informações que confirmam ataques a imigrantes venezuelanos, bem como desalojamentos massivos de nossos compatriotas, acontecimento que viola normas do direito internacional, além de vulnerar seus direitos humanos".
Caracas também criticou o que chamou de "violência alimentada por uma perigosa matriz de opinião xenófoba, multiplicada por governos e meios a serviço dos inconfessáveis objetivos do imperialismo".
Violência
O conflito começou na tarde de sábado com um protesto em frente ao Comando Especial de Fronteira do Exército em Pacaraima. A manifestação havia sido convocada após um comerciante ter sido assaltado e agredido por quatro venezuelanos. A população também ficou irritada com a falta de uma ambulância para socorrer o comerciante, que foi atendido no hospital da cidade. Ele foi posteriormente transferido para Boa Vista e seu estado de saúde é estável.
"O fato gerou um descontentamento de alguns moradores de Pacaraima e, na manhã deste sábado, 18 de agosto, ocorreu uma manifestação com atos de violência e destruição de acampamentos de imigrantes situados em alguns locais públicos”, informou o comando da Operação Acolhida.
Após a manifestação se dispersar, grupos de brasileiros passaram a atacar venezuelanos nas ruas.
Uma tenda usada por imigrantes chegou a ser derrubada com um trator. Outras foram queimadas, Um grupo de brasileiros chegou a atirar pedras em venezuelanos que tentavam cruzar a divisa. Membros da guarda venezuelana acabaram disparando tiros de advertência para afastar os brasileiros. Em resposta, venezuelanos passaram a vandalizar carros de brasileiros na fronteira.
Em um vídeo divulgado no Twitter, um brasileiro que participou da queima de tenda disse "estamos expulsando os venezuelanos”. "Agora é desse jeito. Se não tem governante, se não tem autoridade por nós, nós que vamos fazer nossa autoridade. Fora venezuelanos!”
Com a grave crise política e econômica que atinge a Venezuela, centenas de milhares de pessoas têm deixado o país, a maior parte com destino à Colômbia e ao Equador. Entre 2017 e 2018, mais de 120 mil venezuelanos entraram em Roraima. Mais da metade deles já deixou o Brasil. Em julho, o governo brasileiro informou que quatro mil venezuelanos permaneciam em abrigos em Roraima.
JPS/abr/ots/cp
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