Primeiro-ministro abre mão do cargo após protestos contra proposta de aumento de preços. Onda de violência foi criticada pela ONU e fez governo voltar atrás quanto aos planos, que visavam atender a exigências do FMI.O primeiro-ministro do Haiti, Jack Guy Lafontant, renunciou neste sábado (14/07) ao cargo, após uma semana de violentos protestos contra uma tentativa do governo de aumentar o preço dos combustíveis. O premiê renunciou durante sessão da Câmara dos Deputados que debateria sobre a retirada ou não de um voto de confiança concedido a ele. A audiência no Parlamento foi convocada após a crise que explodiu no último fim de semana.
O governo havia anunciado planos de aumentar o preço da gasolina em 38%, o do diesel em 47%, e o do querosene em 51%. O anúncio provocou protestos em massa, com ruas da capital Porto Príncipe e de outras cidades bloqueadas por barricadas de lixo e pneus em chamas.
Dezenas de estabelecimentos comerciais foram saqueados, e carros foram incendiados. Ao menos quatro pessoas foram mortas. Em meio à violência, que foi condenada pelo Conselho de Segurança da ONU, o governo voltou atrás quanto aos planos de aumentar os preços dos combustíveis.
Lafontant, que é médico e tinha pouca experiência política antes de assumir o cargo de primeiro-ministro, em fevereiro do ano passado, já havia sido alvo de duras críticas antes mesmo da recente onda de violência.
Horas antes de o premiê anunciar sua renúncia, o presidente Jovenel Moise fez um pronunciamento na televisão, afirmando que gostaria de "reunir todas as forças da nação, sem perder tempo, para formar um governo inclusivo, com o objetivo de aliviar o sofrimento das pessoas e desenvolver a agricultura, a energia e a infraestrutura".
O chefe de Estado acrescentou que a "violência não é compatível com o desenvolvimento ou com a democracia". Moise terá agora que indicar um novo primeiro-ministro.
Neste sábado, centenas de manifestantes saíram às ruas de Porto Príncipe exigindo a renúncia não apenas de Lafontant, mas também de Moise.
"Não se trata apenas de trocar o primeiro-ministro, porque dia após dia, as pessoas continuam sofrendo com a miséria, o desemprego, a falta de segurança e a fome", disse a manifestante Fleurette Pierre.Mais de 200 anos após se tornar independente da França, o Haiti ainda aparece no ranking do Banco Mundial como tendo uma das sociedades mais injustas do mundo. Cerca de 60% dos haitianos vivem com menos de dois dólares por dia, o que significa que a população é fortemente afetada por qualquer aumento de preços.
Em fevereiro, o Haiti assinou um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no qual o país se comprometeu a realizar reformas econômicas e estruturais para promover o crescimento, em troca de ajuda financeira. Uma das condições impostas era eliminar os subsídios a derivados de petróleo, o que levou à proposta de aumento dos preços.
Em meio à onda de violência, o FMI sugeriu uma "abordagem mais gradual" para acabar com os subsídios aos combustíveis, acompanhada de medidas de compensação para proteger a parcela da população mais vulnerável.
A decisão de não implementar a alta dos combustíveis significa que o governo terá que encontrar outra maneira de obter os 300 milhões de dólares que a medida teria gerado.
LPF/afp/efe/lusa/cp
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