"A MEDIOCRIDADE, O BURRO MOTIVADO E O FUTEBOL MERITOCRÁTICO"

Sempre que se perde uma Copa do Mundo se busca um culpado, é normal buscarmos os erros e as falhas que nos levaram às derrotas. Na mídia, as análises mais vazias expõe o quão complicado se encontra o nosso nível de intelectualização da mídia esportiva. Aliás, da mídia como um todo. Lembrando, que diploma não é intelectualidade.O futebol atual da seleção é o reflexo de nosso tempo. Quantas pessoas bradam que o estado deve ser ridiculamente pequeno e deixar o mercado correr solto. Mas, foi isso que a Lei Zico e depois a Lei Pelé fez com o futebol brasileiro. Certo que a antiga lei do passe precisava ser revista mas, a Lei Pelé, simplesmente liberalizou o mercado da bola no Brasil, o que desfalcou por completo os clubes brasileiros.
Na prática, agora, vale o pensamento empresarial do futebol lucro. Daí, tem um bando de idiotas que vai defender que os clubes se tornem empresas mas, não suportariam torcer para um time que tem um dono. O Botafogo, por exemplo, quase teve sua divisão de futebol vendida ao Eike Batista, no início dos anos 2000. Qual botafoguense suportaria que seu time tivesse um dono? Já se imaginaram falando assim: “Eu torço pro time que Eike Batista é o dono”? O Europeu não liga pra isso, por questões culturais.Como economia periférica, o Brasil perdeu a possibilidade legal de manter seus jogadores por aqui, ao menos até completarem 23 anos, entregando de bandeja os talentos que são aculturados no exterior, por migrarem muito cedo. O jogador sai do Brasil com 17 anos. É normal isso? É normal esse monte de empresário sangue-suga? Pois foi isso que se tornou o futebol e a seleção brasileira.Nessa lógica empresarial, emergiu o jogador meritocrático. Aquele que está ali por merecimento comportamental, que se assemelha ao burro motivado das empresas. Trata-se do funcionário padrão que nunca atrasa, nunca falta, gruda no “saco” do “professor” (técnico), é totalmente aplicado tecnicamente, comparece a todas as palestras motivacionais e faz grande falas nas preleções. Paulinho é o símbolo disso. Chega no campo, a mediocridade compromete o posicionamento de diversos jogadores que têm a função de cobrir o contrapeso.Como na sociedade o raciocínio e o desafio ao que está estabelecido não estão na moda, os jogadores se tornaram obedientes, pouco inteligentes e nada criativos. O “cara” nem pode sair uma vírgula do que o técnico mandou. A aplicação tática virou regra inviolável e a velha máxima das peladas, de quando o adversário está marcando bem e nada dá certo e o peladeiro vira para o que joga do outro lado e diz: “Troca comigo, ‘vamo vê’ se dá certo”. Não, hoje ninguém faz isso no futebol, ninguém cria nada, ninguém tenta mudar nada dentro do jogo a não ser o “professor” mande. Parece até um exército na guerra seguindo cegamente o que o comandante manda. Nesta copa, o técnico mandou jogar capenga e previsivelmente pela direita e ninguém tentou mudar isso.Mas, já que a sociedade, como um todo, está amando esse liberalismo que tanto sonha fazer parte e, na verdade, é explorada, o pensamento vem sendo substituído pela meritocracia/aplicação e o intelectualização é substituída pelas palestras de empreendedorismo/motivacional. O futebol é apenas reflexo do que nos tornamos, nele, todos também sonham em dar no pé do Brasil e não ligam a mínima para construir a coletividade ao qual fazem parte.
Por isso, a maior parte dos jogadores do Brasil nem retornarão ao país que dá nome à sua seleção que fizeram parte, após a eliminação. É isso. Globalizaram o capital e a mercadoria (o jogador é uma mercadoria) mas, não o ser humano. Quando deixam de ser úteis como jogador, a Europa regurgita os Ronaldos de volta pra cá, com todo nível de burrice e se achando capazes de discutir política, afinal, “ele não têm culpa, por que não votam na Dilma”. O lixo toxico desse processo, é a construção de ídolos completamente imbecis só por que são ricos e não pelo que pensam. É a lógica do capitalismo.
Sabe qual é a chance de surgir um novo Sócrates no futebol neoliberal e meritocrático de hoje? Zero. Ou alguém tem dúvidas de que ele jamais chegaria à Seleção Brasileira de hoje? Nem ao Corinthians chegaria.
Uma lástima.
Fábio St Rios Estudou Ciência da Computação, Engenharia Metalúrgica na UFF, Engenheiro de Software, Desenvolvedor, Programador, Hacketivista e Estudante de História na UniRio.

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