Em homenagem ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, comemorado no dia 18 de maio, a Câmara dos Deputados realizou, nesta sexta-feira (18), sessão solene requerida pelos deputados Érika Kokay (PT-DF), Luiz Couto (PT-PB) e Jean Wyllys (Psol-RJ).
De acordo com Érika Kokay, que tem formação em psicologia, os manicômios fazem parte da história do país e foram verdadeiros holocaustos. Ela recorda da época de sua formação, quando visitava hospitais psiquiátricos. “Eu carrego a memória do desprovimento de qualquer identidade e humanidade das pessoas que ali estavam. O país sofreu muito para conquistar a reforma psiquiátrica e o direito à dignidade das pessoas com sofrimento psíquico e com transtornos em sua vida”.
A diretora da ONG Inverso, Ana Fiva, também lembrou de quando era estudante e visitou um hospital psiquiátrico no interior de São Paulo. “Foi ali que tudo começou”, disse. “Nunca mais essas imagens vão sair da minha cabeça. Além de ver e ouvir os gritos, o cheiro de um hospital psiquiátrico é algo que eu nunca vou esquecer”. Ela teve a oportunidade de trabalhar em dois hospitais psiquiátricos, que hoje estão fechados. “A experiência foi chocante mas é o que me dá forças até hoje, quando lembro dos dias passados lá dentro”.
Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Sessão solene comemorou o Dia Nacional da Luta Antimanicomial
Críticas ao governo
Para Érika Kokay, não são apenas os manicômios que não devem existir mais. “Não tem porque existir hospital psiquiátrico, portanto não tem como termos um governo que dedica e estimula a existência de leitos psiquiátricos. Nós queremos uma sociedade sem manicômios”, declarou.
José Alves, da Associação Amigos de Saúde Mental (Assim), também deixou críticas aos governos federal e do DF. “O que nós vemos hoje é uma saúde mental totalmente degradada, falida, pelo despreparo desses governos brutais que comandam nosso país e nosso Distrito Federal. Os profissionais da saúde mental até tentam ajudar, mas é impossível com esse governador que a gente tem”.
Caps
Juliana de Souza foi uma das vítimas do manicômio. Hoje ela é paciente de um Caps - Centro de Atenção Psicossocial. Ela conta que lá tem psiquiatras, psicólogos, técnicos de enfermagem e assistentes sociais. “Os psicólogos fazem com que as pessoas se abram, têm terapias com crochê, yoga e música. Eu hoje sou artesã. Com a ajuda do Caps eu quero ser costureira. Hoje eu estou me sentindo curada”, afirmou durante a solenidade.
“A gente luta pelo tratamento em liberdade, a gente não quer ficar preso, não quer ficar nem um mês, um dia, no manicômio. A gente quer ir no Caps, fazer a terapia e voltar para a nossa casa, viver com a nossa família, nada de prisão”, ressaltou Kleidson Oliveira, integrante do Movimento Pró-Saúde Mental.
Dia Nacional da Luta Antimanicomial
Instituído há 30 anos, o Dia Nacional da Luta Antimanicomial representa um marco no enfrentamento ao estigma e à exclusão de pessoas em sofrimento psíquico grave. Até o final dos anos 1980, o manicômio era o ápice de uma concepção que excluía, segregava e negava a cidadania das pessoas.
O movimento da luta antimanicomial congrega usuários, familiares e trabalhadores da saúde mental que acreditam na mudança do modelo de atenção às pessoas em sofrimento mental, e buscam, principalmente, o respeito aos direitos humanos.
“São lutas que temos que reeditar, buscando novas formas de enfrentamento mas sempre no paradigma do respeito à liberdade, à dignidade da pessoa humana, do direito à participação e da convivência social”, afirma Alexandre Reis, psicólogo especialista em saúde mental pela Universidade de Brasília.
Congresso de Saúde Mental
O 6º Congresso Nacional de Saúde Mental tem o tema Agir e transformar: afetos, pessoas e conexões e pretende dar continuidade aos congressos que a Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) vem organizando no sentido de fazer uma reflexão sobre como diversos atores podem levar para suas cidades e seus serviços as melhores formas de pensar o cuidado.
“Temos certeza que a melhor forma de cuidado é em liberdade e que hoje está claro para todos nós que discutir reforma psiquiátrica é defender o SUS gratuito, universal e de qualidade”, afirmou Ricardo Lins, psiquiatra e presidente do congresso. O evento acontece nos dias 30 e 31 de maio e 1º e 2 de junho, em Brasília.
Reportagem – Larissa Galli
Edição – Ana Chalub
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