"Eleições não vão acabar com instabilidade política, preveem líderes no Congresso"

As principais lideranças do Congresso estão céticas quanto a uma eventual redução da crise política ao longo dos próximos 12 meses. Nem mesmo a eleição de um novo presidente da República em outubro melhorou o ânimo de deputados e senadores com influência no Congresso. A expectativa de que a situação ficará ainda pior é compartilhada pelo dobro dos parlamentares que apostam que a instabilidade vai diminuir nesse período. Apenas duas entre dez lideranças (19,2%) acreditam que a crise vai recuar até março de 2019. Quatro em cada dez (40,4%) pensam o contrário. Entre três e quatro (36,5%) parlamentares consideram que a instabilidade continuará tão grave até lá.
Esse é o pior prognóstico pelos próximos 12 meses entre os 15 itens aferidos pela quinta rodada do Painel do Poder, produto criado pelo Congresso em Foco para monitorar de forma sistemática e com fundamentação científica as percepções e os humores daqueles que mandam no Congresso Nacional. Nesta edição foram ouvidos, ao todo, 52 parlamentares, respeitando-se a proporcionalidade em cada Casa, entre governistas e oposicionistas e as divisões regionais.
O pessimismo entre as lideranças cresceu desde setembro do ano passado. Em pesquisa feita pelo Painel naquele mês, 27% entendiam que a instabilidade política arrefeceria no prazo de um ano. Na avaliação de 31%, continuaria tal como estava. Outros 40% entendiam que pioraria até setembro deste ano.
Apesar de se considerar “otimista por natureza”, a senadora Kátia Abreu (Sem partido-TO) vê um cenário político “desesperador” para os próximos meses. “O quadro está tão escuro, está tão sem perspectiva, que fica difícil. Às vezes você está na dificuldade e vê uma luz, mas eu estou vendo tudo tão complicado. Parece que ao invés de ter uma trégua a coisa está é piorando”.
Para ela, o maior dos problemas está no atual presidente da República, Michel Temer (MDB). “Cada dia uma denúncia, cada dia um problema com esse governo. Fazendo marketing o tempo inteiro para ver se cresce nas pesquisas eleitorais. Isso é um abuso. Como presidente da República ele devia assumir os problemas do Brasil. Agora fica fazendo comédia e show, pirotecnia para ver se melhora a imagem como presidente da República. Então, é desesperador”, ressaltou.
Na ala dos pessimistas, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) credita a crise à falta de unidade da própria base do governo Temer. “Antes da eleição nós não vamos ter nenhum avanço substância em nada. Pelos próximos meses não deve ocorrer nada de importante no Congresso. A base do governo está completamente dividida. Ela está dividida em várias candidaturas e vai se dividir também nas outras ações”, ponderou. Zarattini vê possibilidade de melhoras apenas no próximo pleito, após as eleições.
Por outro lado, na linha dos otimistas com a melhora da crise política, o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) acredita que “o pior já passou”. “Eu sou um otimista inveterado. A única coisa que eu acho que pode atrapalhar a agenda do Congresso Nacional esse ano é a eleição. Esse ano ainda é um ano de copa. Mas eu acho que devemos buscar sim tocar a pauta possível que der para votar antes das eleições”, afirmou.
De acordo com ele, o cenário será ainda melhor após as eleições. Como otimista, ele acredita que o próximo Congresso conseguirá aprovar as reformas que não forem aprovadas neste governo. “Esse Congresso que está vindo aí é um Congresso mais consciente das reformas e das mudanças que precisam ser feitas, sobretudo na questão fiscal. Vai melhorar a aplicação do dinheiro público e dar continuidade a essa agenda de reformas que o Brasil necessita”.
Entre os pessimistas e otimistas, o depurado Miro Teixeira (Rede-RJ) se considera “realista”, ao centro desse cenário. De acordo com ele, não dá para definir os fatos. “Eu sou realista. Nós não ditamos o futuro. É muita arrogância tentarmos definir a sucessão dos fatos. Quem achar que o ano terminou, do meu ponto de vista está enganado. Nós não dominamos os fatos. Nós temos que estarmos preparados para os fatos que vem de fora para dentro, sem medo de analisarmos todos eles”, acrescentou.
O otimismo com a melhora na economia cresceu e superou a expectativa positiva sobre a criação de empregos, item que mais despertava esperança no levantamento anterior. Para quase metade dos entrevistados (48,1%), a situação econômica vai melhorar nos próximos 12 meses. Eram 45% que apostavam nesse cenário em setembro. Na ocasião, 22% consideravam que haveria uma piora nesse aspecto. Esse entendimento hoje é compartilhado por 13,5% dos parlamentares ouvidos.
No quesito economia, o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) acredita que a crise tem “todas as possibilidades de melhora”, mas ponderou que só será possível se o Congresso se atentar para “a agenda econômica nacional para recuperar o desemprego e a economia brasileira”.
“Nós ficamos com uma agenda menor, periférica, e estamos deixando passar a agenda maior, por conta dessa intervenção do Rio de janeiro. Ainda acredito que nós possamos fazer uma agenda positiva daqui até às eleições e mudar o Brasil”. No quesito economia, o parlamentar também é otimista. Para ele, o Congresso fará “o que deve ser feito, que é mudar a reforma tributária e melhorar a econômica brasileira”.
A segunda maior expectativa negativa é em relação ao combate à corrupção. Para 38,5%, essa área vai piorar. Outros 48,1% consideram que continuará como está, e apenas 11,5% apostam que vai melhorar. No levantamento anterior, 18% esperavam que o combate à corrupção fosse se intensificar pelos 12 meses seguintes. No ano passado 38% entendiam que mudança seria para melhor. Outros 38% consideram que a situação pioraria. Na avaliação de 42%, continuaria igual.
A metodologia
Os congressistas ouvidos pelo Painel foram escolhidos pelo papel relevante que ocupam no Legislativo. Entre eles, há líderes partidários, membros das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, presidentes de comissões e influenciadores das principais bancadas temáticas, como os defensores dos interesses dos produtores rurais, dos direitos humanos, os sindicalistas e evangélicos. Dos deputados e senadores entrevistados nessa terceira rodada, 69% pertencem a partidos da base governista. Em termos de regiões geográficas, 42% deles representam estados do Sudeste, 29% são do Nordeste, 15% do Sul, 10% do Norte e 4% do Centro-Oeste.
Desenvolvido em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (Ibpad), o Painel do Poder tem caráter inédito tanto pela concepção metodológica quanto pela variedade de aplicações que permite. Estão entre elas, a aferição das tendências predominantes nas duas casas legislativas quanto ao relacionamento com o governo federal, a avaliação de políticas públicas e de temas específicos da pauta parlamentar e a influência de grupos organizados no Congresso Nacional. A iniciativa permite ainda atender a demandas específicas de organizações que precisam ter maior clareza quanto a questões em debate no Legislativo que podem impactar seus interesses ou negócios.

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