Com suas críticas contra a corrupção da elite, blogueiro se transformou no mais influente líder oposicionista da Rússia. Condenado por crimes econômicos, não poderá concorrer na eleição presidencial de março. Milhares de pessoas protestaram no domingo (28/01), em toda a Rússia, contra a eleição de março, na qual o atual presidente, Vladimir Putin, deverá ser eleito pela quarta vez. Houve centenas de detenções porque algumas manifestações, por exemplo no centro de Moscou, não haviam sido autorizadas.
A "greve de eleitores" fora convocada por um homem que, por causa de uma condenação, está proibido de se candidatar na eleição: Alexei Navalny. Este político de 41 anos é considerado o mais influente da oposição. Como nenhum outro, ele consegue mobilizar a população em todo o país. O protesto mais recente em Moscou não atraiu tantas pessoas como o de março de 2017, quando cerca de 20 mil foram às ruas para se manifestar contra a corrupção e o atual governo. Navalny foi o primeiro a anunciar sua candidatura presidencial, em 2016, para em seguida criar uma rede de comitês eleitorais, de Kaliningrado até Vladivostok. Ele provavelmente já sabia que não seria autorizado a participar da eleição e, em dezembro de 2017, sua candidatura foi oficialmente rejeitada pelo comitê eleitoral. O motivo: uma condenação por crimes econômicos.
Duas condenações
Navalny foi alvo de vários inquéritos. Ele foi condenado em dois casos a penas médias, que pode cumprir em liberdade condicional. No primeiro caso, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos determinou, em 2016, que o processo contra suposto peculato na empresa madeireira estatal Kirovles foi conduzido de forma arbitrária. Porém, os juízes em Estrasburgo não viram qualquer motivação política no caso. O processo foi retomado, e Navalny e seu sócio foram novamente condenados, em fevereiro de 2017. Porém, em setembro, o comitê de ministros do Conselho da Europa concluiu que a decisão da corte europeia não foi implementada na íntegra e apelou à Rússia para que liberasse a candidatura de Navalny. Moscou viu nesse pedido uma intromissão em questões internas. Situação semelhante ocorreu no segundo caso: Navalny e seu irmão Oleg foram acusados de fraudar a subsidiária russa da empresa francesa de cosméticos Yves Roche em 26 milhões de rublos (cerca de 1,46 milhão de reais). Em 17 de outubro, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos tornou pública seu veredicto de que o processo contra Navalny e seu irmão foi injusto, e que a decisão dos juízes russos foi arbitrária. Mas não foi identificada uma motivação política na condenação.
De blogueiro a líder da oposição
Navalny nasceu em 1976 em Moscou e estudou Direito. Ele iniciou sua carreira política no tradicional partido liberal Jabloko, mas acabou sendo excluído. O líder do partido afirmou que o motivo foram as posições nacionalistas de Navalny. Ele engajou-se então na Marcha Russa, um movimento que reúne forças extremistas de direita, nacionalistas e xenófobas. Mais tarde afastou-se em parte do movimento. Navalny deve sua popularidade sobretudo à internet, pois, na televisão russa, ele é apresentado como uma mera marionete do Ocidente. Inicialmente, ele chamou a atenção como blogueiro e combatente contra a corrupção, atraindo muitos seguidores nas redes sociais. Só no YouTube ele tem cerca de 1,6 milhão de assinantes. Sua marca registrada, uma mistura de deboche e ironia, parece agradar o público. Durante os protestos contra a eleição parlamentar de 2011, Navalny chamou o partido governista Rússia Unida de "partido dos pilantras e ladrões". A expressão parece ter atingido um nervo exposto na sociedade. O blogueiro foi um dos líderes da oposição durante os protestos. Agora ele reclama esse papel apenas para si, e vem sendo criticado por isso. Já faz um ano que Navalny chama a atenção com vídeos bem produzidos sobre a corrupção na elite russa, atacando desde a promotoria pública até o primeiro-ministro.
Sem alcance na população em geral
Navalny se apresenta como um político liberal e como o principal adversário de Putin. Em seu programa eleitoral, ele promete uma "revolução contra a corrupção", a elevação do salário mínimo e a construção de estradas e hospitais. Na política externa promete acabar com as guerras conduzidas pela Rússia no exterior, tanto na Ucrânia como na Síria. A Rússia nega apoiar militarmente os separatistas no Leste da Ucrânia. Em relação à Crimeia, que foi anexada, ele soa vago e promete uma "solução legítima em prol da população local". Até agora, o maior feito político de Navalny foi a participação na eleição para o governo de Moscou, em 2013, na qual ficou em segundo lugar, com cerca de 27% dos votos. Desde então, ele se tornou mais conhecido em toda a Rússia, mas sua popularidade continua na marca de um dígito. Mais do que qualquer outro político russo, Navalny tem as novas gerações do seu lado. Especialmente estudantes atenderam à sua convocação para os protestos de 2017. Muitos analistas veem aí, porém, o principal ponto fraco de Navalny, já que ele não conseguiu, ao menos até agora, alcançar segmentos mais amplos da população. Além disso, Navalny não tem o apoio de nenhum grande partido. O que ele mesmo criou, em 2012, não teve o registro reconhecido pelas autoridades.
Roman Goncharenko (as)cp
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