Mas por que as pessoas continuam querendo ir para onde todo mundo vai? Por que elas não tentam novos caminhos por conta própria? Por que não buscam suas próprias descobertas? Eu adoro por o pé na estrada. O trajeto é uma viagem por si só. Quase toda a Europa pode ser visitada de trem, ônibus ou barco – e por preços razoáveis.
A ilha de Seydisfjordur, no leste da Islândia, por exemplo, pode ser alcançada em apenas 57 horas a partir de Hamburgo, numa viagem usando esses três meios de transporte. No caminho, será necessário passar pelo menos uma noite no norte da Dinamarca. Mas isso pode se tornar, por si só, uma experiência especial. Imagine as aventuras que se pode viver na cidade de Hirtshals apenas perdendo a balsa semanal para as Ilhas Faroé?
Você teria que abordar locais e pedir por ajuda e abrigo. Aprenderia sobre a vida deles – eles poderiam aprender sobre você. Afinal, a busca por aventura no mundo é, muitas vezes, descobrir mais sobre você, aprendendo sobre outras pessoas.Fazer perguntas durante a viagem – mesmo quando você já sabe a reposta – ajuda a iniciar conversas, seja em alemão, dialeto, inglês ou qualquer outra língua, com a ajuda de desenhos, das mãos, linguagem corporal e dos olhos: gestos podem ser às vezes confusos, mas a expressão facial é inequívoca, compreensível para qualquer um.
Um sentimento abrangente de querer ficar pode tocar você. Uma conexão profunda pode surgir do que nos une: humanidade. Isso pode criar um senso de mútua apreciação e responsabilidade, perante o outro e o nosso planeta.
Um voo de Berlim para a ilha de Rodes, na Grécia, leva três horas. Mas o que se vivencia nessas três horas, fora o check-in e a busca pelas bagagens? Segundo o Google, são necessárias 36 horas para fazer o mesmo trajeto de carro. A jornada de 2.618 quilômetros a pé, através de República Tcheca, Hungria, Romênia, Bulgária e Turquia, com uma travessia de barco no final, leva 519 horas e poderia ser fácil com todo o apoio técnico e informações atualmente disponíveis.
Em 1933, o jovem escritor e soldado britânico Patrick Leigh Fermor pegou a mochila, alguns mapas, o passaporte, dicionários, memorabília, poesia inglesa e um volume de versos de Horácio e pôs o pé na estrada para Constantinopla. Ele viajou por quase um ano.
A teuto-romena Carmen-Francesa Banciu é escritora e vive em Berlim desde 1990. Entre seus livros, Berlin ist mein Paris (Berlim é minha Paris, de 2002) e Ein Land voller Helden (Um país cheio de heróis, de 2000).
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