Em certas espécies de macacos, ataques e intimidações constantes e sem motivo por parte dos machos mantêm fêmeas submissas. Cientistas traçam analogias com a violência doméstica humana.Nunca se viu um babuíno forçar uma fêmea a ter relações sexuais. Uma equipe anglo-francesa de pesquisadores acredita ter descoberto por quê: violentá-las é simplesmente desnecessário, pois os machos empregam uma estratégia muito mais sutil e de longo prazo.
"Quando eu estava em campo, observando os babuínos, muitas vezes notei os machos dirigindo ataques não provocados ou perseguições às fêmeas [no cio]", relata Alice Baniel, bióloga evolucionista do Instituto de Estudos Avançados em Toulouse, na França, e principal autora da pesquisa.
Tais ofensivas já começam semanas antes de as símias terem começado a ovular e poderem se reproduzir. A agressão repetida e sem motivo parece colocá-las sob pressão constante, tornando-as submissas quando o macho sente que é hora de copular.
As descobertas recentes, publicadas na revista especializada Current Biology, "colocam em questão a extensão de liberdade sexual que cabe às fêmeas em tais sociedades", propõe Baniel. Sua equipe estudou dois grandes grupos de babuínos da espécie Papio ursinus durante quatro anos, no Parque Natural Tsaobis, na Namíbia.
Eles observaram os macacos perseguirem as fêmeas durante meio minuto ou mais, mordendo-as, sacudindo-as ou apertando-as contra o chão. Em outras ocasiões, as forçavam a escalar uma árvore, impelindo-as até os galhos mais finos, conta a pesquisadora Elise Huchard, da Universidade de Montpellier.
Quando as fêmeas estavam assim encurraladas, os machos continuavam a assediá-las por vários minutos, enquanto elas gritavam incessantemente. Por vezes, a fêmea era obrigada a saltar da árvore, podendo se machucar.
No entanto, as observações científicas descartaram a possibilidade de essas copulações serem motivadas por uma preferência feminina generalizada pelos machos agressivos, como ocorre em outras espécies.Origens da violência doméstica?
Entre os babuínos, agressão e acasalamento não ocorrem ao mesmo tempo e, por isso, a intimidação sexual ficou até então despercebida por pesquisadores, explica Baniel.
O comportamento também ocorre entre chimpanzés e, agora que foi documentado em babuínos, os cientistas sugerem que talvez seja um traço comum em primatas que vivem em grandes grupos, o que poderia incluir os seres humanos.
Para Huchard, as descobertas recentes "abrem a possibilidade de que a intimidação sexual tenha uma base evolutiva", já que as formas vistas nas sociedades dos Papio ursinus são as mesmas encontradas em sociedades humanas.
"Elas são expressas no contexto de ligações estáveis entre macho e fêmea. Isso lembra um pouco o que acontece na violência doméstica." No entanto, até o momento isso não passa de uma hipóteses, diz a cientista.
Autoria Brigitte Osterath (av)
Comentários
Postar um comentário