Com demissão do diretor do FBI, presidente atiça instinto de caça de adversários e pode pagar caro por suas reações impulsivas, opina o jornalista Peter Sturm, do "Frankfurter Allgemeine Zeitung". Não é fácil ser político. Eles são responsabilizados por qualquer coisa que aconteça à sua volta. Só bem mais tarde é que se fica sabendo se eles eram mesmo responsáveis. Qualquer um que queira ocupar um cargo político precisa estar ciente disso. E também é preciso estar claro para todos que, na maioria das vezes, não é a crise que derruba um político, mas a maneira como se lida com ela. Como seria a reação do novato político Donald Trump se ele fosse confrontado com tais constatações?
Como o presidente americano é propenso a reações impulsivas, possivelmente ele crucificaria quem o questionasse a respeito. O caso mais recente envolve o ex-diretor do FBI. Do ponto de vista legal, não há dúvidas de que Trump agiu dentro das suas atribuições. Ainda assim, a decisão pode se voltar contra ele. Pois, em poucos meses de mandato, ele já arruinou sua reputação de tal forma que ninguém deu crédito à justificativa oficial para a exoneração de Comey.
Comey fez algo que uma pessoa como Trump não consegue engolir: ele contradisse o "chefão" numa questão importante, e em público. Este se vingou, e também de forma bem pública. Só que, com esse passo, Trump atiçou o "instinto de caça" de seus adversários em todos os campos políticos. As perguntas ao presidente passam a ser mais prementes. O que foi mesmo que aconteceu entre a equipe de campanha de Trump e a Rússia? Quem sabia das tentativas de Moscou de influenciar a eleição?
É possível que, no fim, depois de longas investigações, constate-se que tudo não passou de algo relativamente inócuo, ao menos no aspecto legal. Ou talvez não, talvez a situação seja bem outra. Em todo caso é prova de um instinto subdesenvolvido (o que não seria de se esperar de um empresário "experiente") o fato de Trump ter recebido, pouco depois da demissão do investigador, o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, e não ter se contido de felicidade diante do ilustre convidado.
E, assim, um ditado atribuído ao grande cínico Talleyrand pode se mostrar verdadeiro: foi pior que um crime – foi um erro.
Peter Sturm é jornalista do diário "Frankfurter Allgemeine Zeitung"
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